O Estado de S. Paulo
Para crescerem durante a pior crise econômica da história do País, as locadoras de carros derrubaram o preço médio dos aluguéis em até 14% nos últimos três anos, em uma tentativa de aumentar a taxa de utilização dos veículos. A estratégia deu certo e houve companhia que bateu recorde de lucro no segundo trimestre deste ano, auxiliada também pela redução de custos.
A Localiza, líder do mercado, diminuiu as diárias de R$ 86 no segundo trimestre de 2014, quando o preço atingiu seu pico, para R$ 74,10 hoje, uma redução nominal de 14% – no mesmo período, a inflação avançou cerca de 20%. Como resultado, a utilização dos carros subiu quatro pontos porcentuais, chegando a 74,7% ao mesmo tempo em que a frota total cresceu. Ainda no segundo trimestre deste ano, o lucro bateu seu recorde: R$ 129 milhões.
Segundo o presidente, Eugênio Mattar, a empresa adotou preços dinâmicos – conforme o movimento cai, a tarifa também recua. “Nosso preço de face está hoje no patamar de 2010. Baixamos a tarifa e a demanda aumentou o suficiente para compensar. A partir do segundo semestre de 2016, nosso sistema de precificação começou a dar os resultados que planejávamos”, diz o executivo. A empresa também começou a ver resultados dos investimentos feitos em tecnologia, que permitiram que clientes passassem a fazer todo o processo de locação de um carro pelo celular. O sistema ajudou a Localiza a crescer sem elevar o número de funcionários, mantendo a rentabilidade.
Concorrência
Para o presidente da Unidas, Carlos Sarquis, a aproximação da própria Unidas e da Movida em relação à líder (Localiza) favoreceu o recuo dos preços do setor, que se tornou mais competitivo. De acordo com o executivo, na Unidas, a média de preços diminuiu quase 10% desde 2011. Sarquis, porém, acredita que os valores começam, agora, a se estabilizar.
Na Movida, a segunda maior do setor, com participação de 17,7% no varejo, a estratégia se repete. No segundo trimestre de 2015, a diária média ficava em R$ 84,50 – hoje está em R$ 78. Na mesma base de comparação, a utilização da frota avançou 10,7 pontos porcentuais, passando de 63,6% para 74,3%. Entre abril e junho deste ano, a empresa registrou um incremento de 97,4% no lucro líquido, que ficou em R$ 11,1 milhões. Para o presidente da Movida, Renato Franklin, as empresas do setor também tem avançado porque o mercado ainda é imaturo. “O potencial é muito grande”, destaca.
Uber
O mercado de aluguel de veículos não vê em serviços como Uber e Cabify seus novos concorrentes. Pelo contrário, os executivos do setor acreditam que esses aplicativos podem servir de alavanca, já que fazem com que consumidores abram mão do carro próprio. Esses consumidores acabam recorrendo às locadoras quando precisam fazer um deslocamento maior, segundo o presidente da Movida. “Eles (os aplicativos) são complementares a nós”, diz.
“Esses serviços estão trazendo mais oportunidade do que concorrência ao mudar o contexto de mobilidade urbana. Antigamente, você não podia ficar sem carro, hoje você pode e, quando começa a diminuir a propriedade de carros, surge uma oportunidade para o aluguel de veículos”, acrescenta o presidente da Localiza.
O avanço dos aplicativos não tem prejudicado nem o segmento corporativo, ainda de acordo com os executivos. Sarquis, da Unidas, conta que o gasto médio de uma empresa na locação de um carro é de R$ 30 por dia em um contrato de três anos. “Uma companhia vai gastar mais do que isso com o Uber”, frisa. A terceirização de frota corresponde hoje a aproximadamente 40% do faturamento da Unidas. Essa participação não sofreu alterações por causa do Uber, ainda de acordo com Sarquis.
“Esses serviços (Uber e Cabify) trazem oportunidades ao mudarem o contexto de mobilidade. Quando diminui a propriedade de carro, surge oportunidade para o aluguel de veículos”, Eugênio Mattar, presidente da Localiza. (O Estado de S. Paulo/Luciana Dyniewicz)