O Estado de S. Paulo
Com novos conceito de carro popular e forma de venda, a marca francesa Renault pretende se aproximar mais das cinco maiores fabricantes brasileiras e aumentar sua fatia no mercado, hoje de 7,3% no segmento de automóveis e comerciais leves, o que a coloca em sétimo lugar no ranking.
O Kwid, carro subcompacto com estilo de utilitário-esportivo (SUV) foi lançado ontem com preço a partir de R$ 30 mil. Só não é o mais barato do mercado porque o Chery QQ, com vendas insignificantes, custa R$ 26 mil. Até o fim do ano, o modelo da Renault será vendido apenas pela internet.
A empresa acredita que o Kwid, fabricado em São José dos Pinhais (PR), em breve será o carro-chefe da marca, posição hoje do Sandero, com 45.530 unidades vendidas neste ano. O novo modelo também é a aposta da Renault para alcançar uma fatia de 8% a 10% do mercado, uma antiga meta da marca.
“Nosso objetivo estratégico é chegar ou até ultrapassar os 8% de participação”, diz o presidente da Renault América Latina, Olivier Murguet. O investimento da marca no lançamento do Kwid é uma demonstração do que a empresa espera do modelo (leia ao lado).
Tratado como SUV dos compactos, o Kwid disputará mercado principalmente com Fiat Mobi e Volkswagen up!, cujos preços partem de R$ 34,2 mil e R$ R$ 38 mil, respectivamente. A versão intermediária custa R$ 35 mil e a mais cara, R$ 40 mil, por isso também estão na lista de concorrentes Fiat Uno, Ford Ka e Gol, todos com preços acima desse patamar.
Segurança
O Kwid foi desenvolvido em parceria entre profissionais do Brasil, França e Índia – onde começou a ser fabricado em 2016. A criação da versão brasileira, apesar de ter a mesma plataforma e design, “partiu do zero”, afirma Luiz Pedrucci, o primeiro brasileiro a assumir a presidência da Renault no País.
Tendo como pilares preço, espaço interno e segurança, a empresa foi atrás de materiais diferenciados, como motor com bloco de alumínio, que reduziu seu peso e, consequentemente, o consumo de combustível. Todas as versões têm sistema Isofix para fixação de cadeirinhas infantis e quatro airbags.
Embora tenha esses itens de segurança, o mais barato não tem, por exemplo, ar condicionado, vidros elétricos, direção elétrica e rádio. Vem, como se diz no setor, “pelado”. “É o mais alto da categoria (18 cm do solo), tem posição elevada de dirigir e o maior porta-malas”, contrapõe Antonio Fleischmann, diretor de Projetos.
Cerca de 70% das peças usadas na produção são nacionais e o restante é importado de diferentes países, incluindo a Índia.
A altura, assim como os ângulos de entrada (24 graus) e de saída (40 graus) elevados levaram o Inmetro a classificar o modelo como SUV. Por motivos semelhantes, o órgão também inclui nessa categoria modelos como o Volkswagen CrossFox e o Ford Ka Trail, embora o mercado não os considerem utilitários.
A versão brasileira será exportada para países da América do Sul, começando ainda este ano com a Argentina e o México, segundo Murguet.
Outro termômetro para a Renault de que o novato será bem recebido pelos consumidores foi o resultado da sua pré-venda, iniciada em junho. “Recebemos quatro vezes mais pedidos do que prevíamos”, informa Pedrucci, sem revelar números.
O consumidor podia fazer reserva pela internet, pagando R$ 1 mil em até três prestações. Esse modelo será mantido até o fim do ano, o que elimina custos com estoques. Quem comprar agora receberá o produto entre outubro e novembro.
Investimentos
O gasto para o desenvolvimento do Kwid nacional está incluído no plano de investimentos de R$ 2 bilhões que a marca programou para o período 2011-2019. Na terça-feira, a montadora anunciou aporte extra de R$ 750 milhões para uma nova unidade que vai produzir blocos e cabeçotes de alumínio para motores e na ampliação da fábrica de motores.
A unidade de automóveis – que também produz Sandero, Logan, Duster, Captur e Oroch – e a de comerciais leves, que faz o Master, têm capacidade para produzir 380 mil veículos por ano e opera com cerca de 80% desse potencial, em três turnos. Para iniciar o terceiro turno, em maio, o grupo contratou 700 funcionários e agora abriu mais 600 vagas, o que elevará o quadro para 6,9 mil trabalhadores. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)