Toro já é maior que a Fiat

Jornal do Carro

 

Nos Estados Unidos, quem compra um Mustang compra um Mustang, não um Ford. O “muscle car” poderia ser da Chevrolet, da Chrysler… ainda assim, seria um Mustang.

 

O carro americano é um dos casos – raros, mas notáveis – em que um veículo se torna maior que sua fabricante. O Mustang é maior que a Ford. E, aqui no Brasil, estamos começando a ver um fenômeno semelhante, com a Toro.

 

Ninguém compra uma Toro porque quer um modelo da Fiat, ou porque é fã da marca italiana. As pessoas compram a Toro porque desejam especificamente esse modelo. Ele poderia ser da Ford, da Hyundai, da Renault… E, em moldes idênticos, faria o mesmo sucesso.

 

Em julho, veio o auge da glória da picape. Com preço inicial de R$ 88.890, a Toro foi o carro mais vendido da Fiat. Nada de Mobi, nada de Uno, nada de Strada, nada de Argo.

 

É a Toro, um veículo caro para os padrões brasileiros, que lidera hoje as vendas da marca que é referência no segmento de carros populares.

 

Desde os primórdios, a Fiat é uma montadora popular, e suas poucas experiências em segmentos de maior valor agregado não foram bem sucedidas.

 

Como um carro de quase R$ 90 mil conseguiu ser o modelo mais vendido de uma marca de modelos populares? Isso ocorreu por causa do título dessa reportagem: a Toro já é maior que a Fiat.

 

Entenda a fórmula do sucesso 

 

Obviamente, o mérito é da marca. Aliás, a Fiat tem “sacadas” de mercado excelentes no segmento de picapes.

 

A marca percebeu que o consumidor de picapes médias estava assumindo uma postura mais urbana.

 

Em outras palavras, os habitantes das cidades passaram a querer modelos como Hilux, S10, Ranger e cia. Mas não pelas aptidões que esses veículos apresentam para o trabalho, e sim pelo status.

 

Ter uma picape média é ter poder, e também sobressair no trânsito. É algo como a força de atração de um SUV, mas com um toque extra de exclusividade (por serem modelos mais caros) e de personalidade (pois são mais rústicos).

 

O que a Fiat fez? Deu ao povo o que o povo queria: uma picape intermediária. A Toro tem porte um pouco inferior ao das médias, mas, ainda assim, consegue sobressair nas ruas.

 

Além disso, enquanto Hilux e cia são feitas com carroceria sobre chassi, a Toro usa a plataforma do Renegade (Fiat e Jeep, agora, pertencem ao mesmo grupo automotivo). O primeiro grupo de picapes é desconfortável, pula muito em alguns tipos de piso.

 

O segundo grupo, o da Toro, oferece o conforto que quem vive nas cidades quer. A capacidade de carga é inferior, mas e daí? O picapeiro da cidade não precisa levar carga na caçamba.

 

Além disso, por ser menor, e mais simples, a Toro é também mais barata. Para comparação, a S10 flexível de entrada custa R$ 107.990. A Hilux a diesel parte de R$ 135.600. Com esse tipo de propulsor, o modelo da Fiat começa em R$ 105.350.

 

Dá para dizer que a Toro se tornou um modelo sem concorrentes. Ela é a picape “média” urbana.

 

O mercado tem também a Renault Oroch, que “bebe” na mesma fonte – é feita sobre a base do Duster e tem porte semelhante ao da Fiat. Porém, é um modelo racional demais, sem um forte apelo visual e, principalmente, sem a tradição off-road da Jeep.

 

Porque, além de uma grande “sacada” de marketing, a Toro também é fruto da fusão entre Fiat e Chrysler (que inclui as marcas Jeep, Dodge e Ram). Sem o “know-how” da empresa, seria impossível, para os italianos, a produção de um modelo de qualidade nesse segmento.

 

A Fiat poderia aproveitar essa vantagem para investir em outros segmentos de maior valor agregado? Poderia, por exemplo, fazer um sedã médio Fiat com base de Chrysler?

 

Sim, poderia, e talvez esteja até trabalhando nesse plano. O sucesso é garantido? Aí, já é outra história. Mais que fazer carros bons, a Fiat, com toda a “aura” de marca popular, precisa conseguir vendê-los.

 

A Toro se tornou desejável por ser única. Por isso, conseguiu cativar um cliente que foge de marcas populares, tornando-se um objeto de desejo.

 

Momento ruim também explica a liderança 

 

É inegável que a Toro é um retumbante sucesso. Porém, o fato de ter sido o Fiat mais vendido em julho pode ter também uma outra explicação.

 

Em vendas, a Fiat enfrenta um de seus piores momentos no Brasil. Depois de anos de liderança, a marca despencou no ranking de vendas. Isso ocorreu entre meados do ano passado e o primeiro semestre de 2017.

 

O fato é que a Fiat ficou sem produtos de apelo – com exceção da Toro. O Palio deixou de ser interessante, diante de uma concorrência mais moderna. Hoje, está fora do “top 20” de vendas, já ameaçando deixar também a lista dos 30 mais emplacados.

 

A Strada vem perdendo mercado e, nos mês passado, ficou atrás de sua rival Saveiro, algo que jamais havia acontecido. O Uno, que, após a chegada do Mobi, ficou mais caro, não vende tanto quanto antigamente.

 

E o Mobi? Lançado em 2016, era a aposta de carro de alto volume da Fiat, mas teve um péssimo início. A aceitação do público não veio.

 

Nos últimos meses, o desempenho do carro melhorou. Porém, isso foi bastante impulsionado pelas vendas diretas (da Fiat diretamente para empresas, com descontos). Essa modalidade representou 60% dos Mobi emplacados em junho, por exemplo – naquele mês, o hatch obteve seu melhor desempenho.

 

A aposta da Fiat para retomar à briga com os líderes de vendas (Onix, HB20 e Ka) é o Argo. O modelo tem recebido ótimas críticas. Porém, diferentemente da Toro, é só mais um na multidão.

 

O Argo tem de lutar contra modelos com propostas semelhantes, algo que não ocorre com a Toro. Nos dois primeiros meses, suas vendas ficaram abaixo da expectativa da Fiat, de 6 mil unidades.

 

Porém, ainda é cedo para saber se essa meta será batida ou não. Os dois ou três primeiros meses nem sempre servem como base para o verdadeiro potencial de um carro no mercado.

 

Enquanto isso, a Toro vai confirmando o posto de modelo mais importante na atual gama da Fiat. Logo ela, que de popular não tem nada.

 

E, agora, aos números. Em julho, a Toro teve 5.028 unidades vendidas, ante as 4.315 do Mobi, 3.811 da Strada, 3.355 do Uno e 3.235 do Argo. (Jornal do Carro)