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Apesar de registar a primeira evolução semestral em três anos, o ritmo de expansão da indústria seguirá lento no segundo semestre. Diante das incertezas econômicas, as empresas estão evitando recompor estoques, fator essencial para a recuperação industrial.
“Estamos crescendo, mas muito pouco. Olhando para as perspectivas que tínhamos no início do ano, 2017 está decepcionando. Havia uma expectativa de recomposição maior dos estoques pelas empresas, o que não vem ocorrendo”, avalia o economista de Brasil da Modal Asset, Daniel Gomes da Silva, que projeta uma alta entre 1% e 1,5% da produção este ano. Segundo ele, a atividade industrial teve um respiro sobretudo pelo setor externo, que puxou a produção de bens de consumo duráveis, como os embarques de automóveis para a Argentina.
Para ele, porém, os patamares de consumo interno demonstram a fraqueza econômica. “O mercado de trabalho cresceu timidamente e sem a recuperação do rendimento, o que é essencial para impulsionar as vendas. Sem consumo, não há incentivo para o aumento da produção e da capacidade instalada das fábricas”, acrescenta Silva.
A economista da IHS Markit Pollyanna de Lima escreveu, em relatório, que os fabricantes no Brasil ainda enfrentam condições adversas e que as taxas de crescimento se atenuaram em julho, pelo segundo mês consecutivo. “Foram compradas quantidades menores de insumos em julho e foram cortados empregos novamente”, ressaltou.
Na avaliação do IEDI, o mercado está “devagar, quase parando”. “Desde que a indústria começou a melhorar seu desempenho no começo do ano, o resultado que o setor conseguiu acumular foi muito pouco significativo”, pontua o instituto, acrescentando que a recuperação “não está consolidada e, por isso, continua sujeita a nova deterioração”.
Olhando para o passado
Segundo dados divulgados ontem pelo IBGE, a produção industrial cresceu 0,5% no primeiro semestre deste ano em comparação ao mesmo intervalo de 2016. No entanto, boa parte da alta se deve à fraca base de comparação, já que a produção havia recuado 8,8% entre janeiro e junho de 2016 ante igual período de 2015. Entre os segmentos que impulsionaram a produção este ano estão os bens de consumo duráveis, com alta de 10%, e os bens de capital, com incremento de 2,9%. O gerente da coordenação de indústria do IBGE, André Macedo, destaca que a agricultura ajudou no segmento de bens de capital, que “pegou carona” na super safra deste ano. “Os investimentos na compra máquinas, tratores e em armazenamento de cereais geraram um impacto muito positivo”, ressalta.
O coordenador do IBGE avalia que a notícia positiva é a volta do crescimento, mas que o patamar “está longe de representar uma retomada consistente”. “Estamos operando, atualmente, com os mesmo níveis registrados em fevereiro de 2009 ou junho de 2004”, enfatiza. Em comparação ao melhor momento do setor, registrado em junho de 2013, a indústria opera num patamar 18,2% inferior ao seu pico.
No primeiro semestre, entre as categorias econômicas, a de bens de consumo semiduráveis e não duráveis foi a que mais contribuiu negativamente, com retração de 1,2%. A produção de alimentos recuou 2%, influenciada sobretudo pela operação Carne Fraca, que gerou restrição às exportações e a paralisações de plantas de abates de animais, entre março e abril. E também a produção de fármacos, que contribuiu negativamente, pela retração de 7,2%, porém, neste caso, explica Macedo, influenciada por uma alta base de comparação, pois a área havia avançado 5,4% há um ano.
O economista-chefe da Quantitas Asset Management, Ivo Chermont, pontua que o desempenho de bens de capital (com alta de 1% em doze meses encerrados em junho, após um longo período de retração) foi um dos dados mais relevantes da pesquisa, já que indica a possibilidade de retomada do investimento.
Segundo ele, essa melhora pode representar uma recuperação mais consistente da produção entre o final deste ano e o início de 2018. “Quando se amplia o aporte em máquinas e equipamentos significa que as empresas vão ampliar a demanda”, conclui. (DCI/Rodrigo Petry)