O Estado de S. Paulo
A capital paulista deve começar a operar, ainda neste ano, 60 ônibus elétricos, abastecidos com energia solar. Eles vão circular por linhas que fazem percursos no centro e na zona leste da cidade.
São veículos que rodam 300 quilômetros com uma carga de duas horas. Fazem mais de 60 km com um litro de combustível. Uma das ideias é que os ônibus se tornem um “laboratório” dos veículos não poluentes, que serão gradualmente exigidos pela Prefeitura na próxima licitação do sistema de transportes da cidade, cujo edital deve ser lançado no mês que vem.
Nesta última sexta-feira, 28, em Shenzhen, na China, onde está em visita oficial, o prefeito João Doria (PSDB) esteve na fábrica da empresa BYD, construtora dos veículos, que tem subsidiária em Campinas, a 97 quilômetros da capital. Doria conheceu não só os ônibus elétricos como também carros e até um monotrilho desenvolvido pela empresa.
“Estivemos com um dos operadores de Shenzhen, que tem 5 mil ônibus e 100% da frota com ônibus elétricos”, disse o secretário municipal de Transportes, Sergio Avelleda. “Estamos sendo desafiados a montar a equação financeira para a paulatina substituição dos ônibus em São Paulo por veículos mais eficientes”, disse. “Nós queremos que, nos próximos contratos, os operadores tenham por meta, anualmente, reduzir a emissão de gases que provocam doenças respiratórias e efeitos no clima global”, afirmou.
Avelleda vem acompanhando as negociações entre a BYD e a viação Ambiental, interessada no modelo. Para a São Paulo Transporte (SPTrans), a questão é financeira. Como todos os operadores da cidade têm sua remuneração calculada a partir dos custos de operação, combustível incluído, será preciso formatar um modelo que inclua a energia elétrica no valor pago aos empresários.
A Ambiental opera a frota de trólebus elétricos da cidade, de cerca de 200 veículos, mas conta com mais 60 ônibus a movidos diesel. Serão esses os veículos trocados. Os painéis solares, que ficarão no teto das garagens, vão abastecer apenas esses veículos. Os trólebus continuam a rodar com energia retirada da rede elétrica comum, que atende a cidade.
O ônibus elétrico custa cerca de R$ 1,2 milhão, o dobro do preço de um ônibus comum, sendo que mais da metade desse valor é da bateria, que tem durabilidade de 30 anos. A empresa tenta emplacar no Brasil um modelo de negócio que prevê por parte dos operadores a compra apenas do ônibus, sem a bateria, e a locação ou o leasing das células de energia, de modo que o que antes era gasto com o diesel pague o leasing da bateria em cinco anos.
“A trajetória do preço do petróleo é de aumento muito maior do que o da energia”, disse um dos representantes da BYD, Adalberto Maluf. “Mas o que oferecemos é um contrato de 10 anos com preço estável. Daqui a pouco tempo, você tem menos pressão para o aumento (dos custos e, consequentemente, da tarifa).”
Shenzhen
A cidade de Shenzhen, sede da BYD, tem 20 milhões de habitantes e cerca de 14 mil ônibus (número parecido com o da capital paulista), mas 85% dos coletivos já são elétricos. Foi o quarto e último destino do prefeito Doria em sua viagem à China.
A diferença da cidade para outros destinos do prefeito, como a capital Pequim, é vista no horizonte. Neste verão chinês, em uma semana sem chuvas, a nuvem de poeira ao redor da capital chinesa é ainda mais escura do que a da capital paulista. Mas em Shenzhen, com seus ônibus elétricos, o horizonte tem um aspecto menos poluído. Ajuda também o fato de que a cidade, planejada, tem vasta vegetação intercalada com seus arranha-céus de vidro iluminados com neon.
A licitação dos ônibus em São Paulo não fará exigência direta a nenhum tipo de combustível limpo. Trará apenas as metas de redução da emissão de poluentes. Aí, cada um dos operadores é que decidirá quais veículos utilizará para começar a reduzir a meta. A proposta da Prefeitura é que, atingindo as metas – o que incluirá outras exigências, como redução das reclamações – maior será a remuneração que os operadores vão receber. (O Estado de S. Paulo/Bruno Ribeiro)