Prefeitura de São Paulo vai buscar financiamento externo para ônibus elétricos

Diário do Transporte

 

Diante da licitação dos transportes coletivos, que deve remodelar o sistema de ônibus da capital paulista, e do não cumprimento da Lei de Mudanças Climáticas, que determinava frota total de coletivos municipais com baixas emissões a partir de 2018, a Prefeitura de São Paulo vai buscar financiamentos externos e parcerias para ampliar o total de ônibus que lancem no ar menos poluentes, inclusive para a implantação de modelos elétricos.

 

A afirmação é do Secretário do Verde e Meio Ambiente, Gilberto Natalini, em entrevista ao Diário do Transporte/Canal Mova-Se, durante o Dia da Mobilidade Elétrica, uma carreata de veículos elétricos e híbridos que ocorreu neste último sábado, 27 de maio de 2017, e foi promovida pela Associação Brasileira de Veículos Elétricos, que reúne os fabricantes.

 

“Dia 30, vamos fazer um seminário fechado, técnico, inclusive com uma mesa só com financiadores, para ver o que é possível conversar no sentido de buscar recursos externos internacionais, como do Fundo de Clima e dos governos da Comissão Europeia, e também recursos daqui: Caixa Econômica Federal, BNDES, quer dizer, buscar dinheiro para livrar São Paulo da poluição do ar e dos gases do efeito estufa” – disse o secretário.

 

Gilberto Natalini disse também ao Diário do Transporte/Canal Mova-Se,  que hoje a Prefeitura de São Paulo não tem condições de proporcionar a viabilidade econômica de ônibus e carros elétricos.

 

“Estamos discutindo dentro do governo formas de participar, de incentivar e de fazer com que aconteça a introdução passo a passo dos carros bicicletas, ônibus e caminhões elétricos na cidade, com as formas mais variadas possíveis: com esforços da prefeitura e também buscando parcerias com Governo do Estado, Governo Federal e financiadores, inclusive internacionais, que possam ajudar, além de contatos com as montadoras dos carros. E isso tem de ser uma costura. A prefeitura não tem poder para fechar a equação econômica” – afirmou o secretário.

 

Gilberto Natalini adiantou ao Diário do Transporte/Canal Mova-Se,  que a licitação dos ônibus de São Paulo deverá propor metas de redução de poluição, mas disse que não será nem no prazo ideal e nem na velocidade desejada e necessária. O secretário citou o não cumprimento da Lei de Mudanças Climáticas, assinada em 2009, e que desde então determinava o aumento de 10% do total de ônibus não poluentes até que em 2018, nenhum dos cerca de 15 mil ônibus da capital paulista dependesse exclusivamente de óleo diesel. O fato de a lei não ter sido cumprida, segundo Natalini, atrasa agora a implantação desses veículos e impede que metas mais ousadas e próximas de países desenvolvidos sejam exigidas dos empresários de ônibus.

 

Também presente ao evento, o Secretário de Mobilidade e Transportes da gestão João Doria, Sérgio Avelleda, apesar de acreditar que a eletricidade é o futuro da mobilidade, só vislumbra um número significativo de ônibus elétricos em São Paulo em médio e longo prazos e diz que nesse momento, as alterações precisam ser feitas gradativamente, respeitando as condições técnicas e econômicas do sistema.

 

“É preciso observar o comportamento dos ônibus elétricos ao longo do tempo, como é que as baterias vão funcionar, como as garagens vão se adequar. Nada poderá ser feito num sistema tão grande como o de São Paulo rapidamente. Nós precisamos alcançar reduções de emissões rapidamente, mas a soluções tecnológicas precisam vir no tempo em que possam ser realizadas” disse Avelleda.

 

A ABVE propôs ao poder municipal um novo cronograma de implantação de ônibus com tecnologias menos poluentes, pelo qual no primeiro e no segundo anos seriam colocados 20% do total de renovação de frota com veículos de tração alternativa ao diesel (não somente elétricos). Esse percentual aumentaria 10% a partir do terceiro ano até que em 2037 todos os ônibus novos em São Paulo seriam menos poluentes.

 

A vice-presidente da ABVE e gerente comercial da Eletra (empresa que produz sistemas de ônibus elétricos à bateria, trólebus e híbridos), Ieda Alves Oliveira, explica que hoje os ônibus deste tipo de tecnologia são mais caros que os modelos a diesel, mas que ao longo do tempo, com aumento de demanda e aperfeiçoamentos na produção, o preço vai cair. A ABVE, segundo Ieda, calcula que se hoje fossem trocados todos os ônibus por modelos entre híbridos, elétricos à bateria e trólebus, haveria um impacto de 10% no custo do sistema. Já de acordo com o cronograma proposto pela associação, esse impacto seria de 0,04% nos dois primeiros anos, sendo que, ainda explica, o peso nos custos do sistema paulistano seriam menores ao longo dos anos.

 

“Nós comparamos o ônibus a diesel com tecnologias trólebus, elétrico, híbrido. O híbrido está muito próximo dos custos do ônibus a diesel e o elétrico nós teríamos pouco impacto, mesmo a longo prazo, se nós não considerarmos créditos carbono, evolução do diesel, que as baterias vem caindo de preço gradativamente (a ideia é que caiam mais); se nós congelarmos o ponto atual, mesmo assim vai ter um impacto financeiro no sistema de menos de 10%. Para ter a frota de São Paulo, cerca de 15 mil ônibus, totalmente elétricos, considerando todo o custo de investimentos, que hoje é maior, em infraestrutura, baterias e custos atuais, seria um impacto de 10%. Só que nossa proposta é que isso seja feito gradualmente” – pondera Ieda.

 

A vice-presidente da ABVE calcula também que os impactos financeiros coma troca de ônibus diesel por menos poluentes seriam mínimos pelo cronograma proposto pela associação.

 

“Embora a gente saiba que nossa capacidade produtiva é muito maior dos que a quantidade de ônibus na proposta apresentada, estamos pensando exatamente neste momento de restrições financeiras para a cidade e empresários de ônibus. Para você ter uma ideia, no primeiro ano, 300 ônibus elétricos representariam apenas 0,04% do custo de todo o sistema de ônibus em São Paulo” – disse Ieda.

 

A gerente da Eletra e vice-presidente da ABVE também disse ao Diário do Transporte que hoje a indústria instalada no Brasil teria capacidade de produzir 2.000 ônibus elétricos por ano, sendo que este número poderia chegar até 5.000 unidades nos próximos 4 anos.

 

No Brasil, produzem ônibus elétricos três empesas: a Eletra, de São Bernardo do Campo, atuando há mais de 30 anos no país fabricando trólebus, ônibus elétricos à bateria e ônibus diesel; a Volvo desde com ônibus híbridos, e a BYD instalada desde 2015 em Campinas e podendo produzir ônibus elétricos a bateria com maior nível de nacionalização a partir deste ano.

 

O diretor de marketing, novos negócios e sustentabilidade da BYD, Adalberto Maluf, também participou do evento e disse ao Diário do Transporte/Canal Mova-Se, que hoje um dos grandes problemas do Brasil é a falta de regulamentação sobre as emissões de poluentes em acordo com que a OMS – Organização Mundial da Saúde recomenda.

 

“O Brasil não avançou muito em relação à poluição. Hoje a OMS – Organização Mundial da Saúde colocou 20 partículas por milhão como média de particulados lançados no ar e 10 partícula por milhão como média anual. A União Europeia também regula em 20 partículas por milhão, mas sem a regulamentação por ano. Os Estados Unidos, em 25 partículas por milhão. E o Brasil não tem regulamentação. Então como não se criou uma regulamentação para poluição associada em especial ao diesel, o mercado não se mexeu. E esse é o problema. Quando teve a regulamentação no Estado de São Paulo, feita pela CETESB, regulamentaram com 60 partículas por milhão, três vezes mais que a regulamentação orientada pela OMS. Eu fico muito preocupado com a falta de liderança da CETESB sobre o tema” – disse Adalberto Maluf.

 

O executivo também disse ao Diário do Transporte que esta situação pode custar 256 mil vidas perdidas por causa da poluição e mais de US$ 1,6 bilhão até 2030.

 

“Se pegar um estudo do professor Paulo Saldiva do Instituto de poluição da USP, com a projeção de crescimento de emissões de particulados de 2015 até 2030 em 5%, a gente está falando de 256 mil mortes relacionadas à poluição na cidade de São Paulo, com o impacto de R$ 1,6 bilhão à saúde pública. E até quando a saúde pública vai pagar a conta sem conversar com os transportes, sem exigir que as montadoras e que as distribuidoras de combustível melhorem a qualidade? Eu acho que uma hora a gente vai quebrar porque os custos só aumentam” – completou Adalberto Maluf.

 

Já o presidente da ABVE, Ricardo Guggisberg, disse ao Diário do Transporte/Canal Mova-Se, que, além da regulamentação, é importante o incentivo à produção de veículos não poluentes e defende que na Agenda 2030, que será elaborada entre produtores de automóveis e o governo federal, com as diretrizes para a indústria nos próximos 13 anos, os impostos sejam de acordo com a eficiência energética dos carros, ônibus e caminhões.

 

“Nós conseguimos alguns incentivos para que a gente coloque mais veículos elétricos no mercado, só que são muito poucos. Ainda precisamos de mais incentivos como a regulação do IPI para que o imposto seja equiparado ao incidente sobre veículos de alta eficiência energética. Precisamos que a Rota 2030 defina o custo do Imposto pela eficiência energética que os veículos promovem, assim a gente estaria equiparando a concorrência das tecnologias” disse Ricardo Guggisberg.

 

O Dia da Mobilidade Elétrica teve sua segunda edição neste último sábado.  O evento foi maior do que na primeira vez, tanto em veículos expostos, como em número de autoridades presentes, o que pode indicar uma tendência e maior interesse sobre o assunto.

 

Diversos modelos de produtos, equipamentos soluções e veículos foram apresentados.

 

A carreata saiu da Rua Treze de Maio, na região central, percorreu vias importantes, como Avenida Paulista, até o estádio do Pacaembu, na zona oeste. Foram skates, bicicletas, carros de passeio, vans, caminhão de coleta de lixo e ônibus elétricos ou híbridos.

 

A programação contou também com um evento paralelo ao Dia da Mobilidade Elétrica, que foi o “Garagem Aberta da Metra”, empresa operadora do Corredor ABD e que hoje reúne uma das maiores frotas de ônibus elétricos, híbridos e trólebus do país, com 95 unidades.

 

A empresa, que é da mesma família controladora da Eletra, completou 20 anos e abriu as portas da garagem para a comunidade em geral, imprensa e busólogos (admiradores de ônibus).

 

Da garagem, em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, saíram três veículos que participaram da carreata: o primeiro ônibus elétrico híbrido do país, modelo articulado de 18 metros feito em 1999 e que ainda está em operação comercial; um híbrido de 12 metros e o DualBus, que reúne tecnologias diferentes num mesmo veículo e possui 23 metros de comprimento.

 

Entre os modelos destacados pela assessoria da ABVE estão:

 

A Eletra apresentou o Dual Bus, ônibus elétrico de conceito inédito, que entrou em testes na Linha 376 (Diadema/Brooklin) no Corredor ABD de São Paulo, operado pela Metra, na semana de realização da carreata. Desenvolvido pioneiramente no Brasil pela Eletra, sua grande novidade tecnológica está no sistema padronizado de tração, que pode ser alimentado por várias fontes de energia. O modelo que desfilou reúne as tecnologias híbrida (com um motor a diesel e outro elétrico) e trólebus (com a rede elétrica aérea) Uma das vantagens é a flexibilidade de um ônibus diesel com as emissões reduzidas ou até mesmo zero dos modelos elétricos e híbridos. É possível alternar a tecnologia dependendo do trecho do trajeto, inclusive criando áreas de emissão zero.  O modelo apresentado tem 23 metros de comprimento e capacidade para 153 passageiros.

 

A BYD, que neste ano inaugurou sua planta de ônibus elétricos em Campinas, no Interior de São Paulo, apresentou três modelos que circularam em testes em diversas cidades brasileiras. O K 10A, ônibus urbano de três eixos e 15 metros de comprimento, e o K 11, articulado de 18,6 metros para demandas maiores.  A empresa também apresentou um caminhão de coleta de lixo 100% elétricos, vans de entregas, indicadas especialmente para o tráfego  urbano, táxis e carros de passeio.

 

A Ford desfilou com o Fusion Hybrid Titanium – o primeiro carro híbrido a ser vendido no País e líder de vendas no segmento desde o seu lançamento, em 2010.  Além de ter o maior tamanho e potência da categoria, o Ford Fusion Hybrid é referência em segurança, autonomia e eficiência, com um consumo de 16,8 km/l na cidade e 15,1 km/l na estrada. Isso sem falar nas tecnologias de ponta: o modelo conta com assistente de frenagem autônoma com detecção de pedestres, sistema operado por radar e sensores que ajuda a evitar atropelamentos e colisões, piloto automático adaptativo com “stop and go”, alerta de colisão com assistência de frenagem autônoma, estacionamento automático de segunda geração e transmissão automática de seis marchas, comandada pelo novo seletor rotativo E-shifter, que substitui a alavanca de câmbio no console.

 

A Elektra Motors apresentou um Tesla no evento, grande conhecida do mercado por sua expertise em veículos elétricos no Brasil, levou ao trajeto a Tesla Model S, modelo bivolt que tem autonomia para rodar até 440km e que possui uma aceleração de 4,3 segundo (de 0 a 100km/h) e tração nas quatro rodas. Além disso conta com a função piloto automático, que ajuda o carro a permanecer na pista, mudança de faixa, se adapta ao tráfego reduz e acelera, e encontra vagas de estacionamento sozinho.

 

A Toyota desfilou com o Prius, primeiro veículo híbrido a ser produzido em escala no mundo, em 1997. O modelo, que detém o título de híbrido mais vendido globalmente, já atingiu a marca de seis milhões de unidades comercializadas em mais de 150 países. No Brasil, o Prius iniciou suas vendas em janeiro de 2013 e obteve, desde então, 1.600 unidades emplacadas.

 

Outra atração ligada ao advento da tecnologia híbrida presente no evento fio o Lexus CT 200h, o primeiro hatchback híbrido de luxo do mundo, produzido pela Lexus, marca de luxo da Toyota. O hatch premium iniciou suas vendas em meados de 2012 no Brasil e, até aqui, chegou à marca de quase 200 veículos comercializados. A Toyota tem posicionado as tecnologias híbridas também como peça fundamental para o século XXI, pois englobam todos os componentes tecnológicos necessários para o desenvolvimento de carros ecologicamente amigáveis.

 

A Volvo também desfilou novidades e exibiu seu XC90 T8, um SUV de luxo que chega ao Brasil apontando o futuro dos veículos da marca, que conta com versões totalmente elétrica, híbrida, com autonomia de até 35km. Já no segmento de pesados, a marca exibiu ônibus híbridos, cuja grande vantagem é que ele não precisa de carga externa: a bateria do motor elétrico é carregada com a energia gerada durante as frenagens. Além disso, o modelo conta com produção em escala na fábrica da empresa instalada em Curitiba.

 

A Mercedes-Benz também marcou presença com o seu smart fortwo electric drive, veículo compacto, totalmente elétrico, e com velocidade máxima estimada em 125 km/h, acompanhada da Renault, que traz o utilitário Kangoo, e os compactos Zoe e Twizy, e da Nissan, com o modelo Leaf, veículo 100% elétrico e bancos feitos de garrafas recicladas.

 

Da marca Porsche, o evento contou com o Porsche Cayenne S E Hybrid, que chegou ao Brasil ao final de 2016, durante a última edição do Salão do Automóvel e ganhou o selo CONPET, pelo Inmetro, por ser o veículo mais eficiente em sua categoria. (Diário do Transporte/Adamo Bazani)