Política proposta ao governo prioriza produção local de novas tecnologias

DCI

 

O setor automotivo vem elaborando junto ao governo federal uma política industrial de longo prazo para ganhar competitividade. Entre os pleitos das empresas está a nacionalização de tecnologias, porém, sem tributação extra para veículos importados.

 

Representantes das montadoras que fabricam no País garantiram não ter pedido ao governo qualquer tipo de proteção em relação a importados como contrapartida à localização de componentes.

 

“Não há nenhum tipo de demanda na negociação que eleve, por exemplo, o IPI (Imposto Sobre Produtos Industrializados) para importadores nos moldes do Inovar-Auto”, assegurou o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Antonio Megale.

 

O presidente da MAN Latin America (fabricante dos veículos comerciais Volkswagen), Roberto Cortes, esteve no final do mês passado no encontro com o presidente Michel Temer e outros executivos de montadoras para discutir o Rota 2030, programa proposto pelo governo para a indústria automotiva.

 

Segundo Cortes, as montadoras não pleitearam subsídios. “O que pedimos, além de previsibilidade, é uma política de juros que nos permita investir na cadeia produtiva. Subsídio está fora da mesa de negociações”, disse. Contudo ele afirmou que a questão dos importados não foi tema de discussão.

 

O presidente da Associação Brasileira das Empresas Importadoras e Fabricantes de Veículos Automotores (Abeifa), José Luiz Gandini, avalia que a nova política para o setor é benéfica tanto para a cadeia local quanto para importadores. “O principal benefício do programa é garantir previsibilidade às empresas. Mas essa política não pode imputar medidas não isonômicas, como barreiras tarifárias”, observa ele.

 

O Inovar-Auto, programa implementado pelo governo da então presidente Dilma Rousseff de 2012 a 2017, eleva em 30 pontos o IPI para importados e reduz o tributo para montadoras que atingirem metas de eficiência energética.

 

Gandini se diz favorável à adoção de critérios tecnológicos que contemplem sistemas de bônus às empresas que consigam produzir veículos mais eficientes do ponto de vista energético e de segurança, mas sem barreiras adicionais ao Imposto de Importação. “O fim das proteções tarifárias beneficia, em última instância, o consumidor final, ávido por tecnologias e preços competitivos. Os veículos importados têm essa importância de dar parâmetros ao mercado brasileiro”, explica.

 

O presidente da Anfavea foi bastante incisivo na questão da cadeia de autopeças. Segundo Megale, para garantir competitividade ao setor é preciso fortalecer os fornecedores das montadoras locais.

 

Isso porque, durante a vigência do Inovar-Auto, a principal reclamação de fabricantes de autopeças foi justamente o impacto mínimo ou inexistente que o programa teve sobre a cadeia produtiva.

 

“O ponto fundamental da nova política industrial para o setor é a recuperação da nossa base de fornecedores”, comentou Megale. De acordo com o dirigente, uma das sugestões feitas ao governo foi o refinanciamento de débitos para empresas que estão com dificuldades financeiras.

 

Ele acredita ainda que a localização de novas tecnologias, além de trazer competitividade global às montadoras, também contribuirá para reanimar a cadeia de autopeças. “Queremos implantar novas tecnologias nos veículos”, ponderou.

 

Balanço do quadrimestre

 

No acumulado até abril, a produção de veículos cresceu 20,9%, para 801,6 mil unidades. Os licenciamentos, porém, mantêm trajetória de queda. No período, houve recuo de 2,4%, para 628,9 mil veículos. “A tendência é de estabilização, mas ainda não chegamos lá”, observa Megale.

 

Já as exportações continuam crescendo. Em abril, as vendas ao exterior registraram alta de 48,1% na comparação anual, para 58,7 mil unidades. De janeiro a abril, os embarques tiveram aumento de 64,2% em relação a igual período de 2016, para 232,1 mil veículos. (DCI/Juliana Estigarríbia)