Maior diálogo no Mercosul pode ampliar atuação no comércio exterior

DCI

 

O discurso alinhado dos presidentes Michel Temer e Mauricio Macri, que se reuniram na semana passada, indicou que o Mercosul deve agir com maior intensidade para ampliar sua participação no comércio internacional.

 

Um ponto favorável para essa expansão seria o governo protecionista de Donald Trump, nos Estados Unidos. Com um recuo da participação dos americanos no mercado externo, devem surgir janelas de oportunidade para o bloco liderado por brasileiros e argentinos.

 

Ao abordar a mudança de cenário no hemisfério norte, Macri comentou que o México deverá olhar para seus vizinhos do sul “com mais decisão” nos próximos meses.

 

Segundo Wagner Parente, CEO da Barral M Jorge, o protecionismo defendido por Trump pode ser positivo para a agropecuária sul-americana. “Americanos e mexicanos realizam trocas nesse setor e um rompimento entre os dois pode gerar uma substituição por outros países.”

 

Na semana passada, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, revelou que representantes do México já se aproximaram do Brasil. A busca por uma alternativa aos EUA poderia favorecer a exportação brasileira de carne processada, milho e soja.

 

Efeito semelhante pode ser visto nas relações do Mercosul com a Aliança do Pacífico e a União Europeia, que também terão dificuldade para fechar grandes acordos com os Estados Unidos.

 

Metade dos membros do primeiro grupo viu a Parceria do Transpacífico (TPP) ser descartada por Trump. Além do México, também ficaram orfãos Peru e Chile.

 

Já a União Europeia observa uma diminuição considerável das chances de o Tratado Transatlântico (TTIP) triunfar nos próximos quatro anos.

 

Temer e Macri defenderam uma maior aproximação entre os blocos sul-americanos, mas não especificaram como se daria esse processo.

 

“Chama atenção esse posicionamento favorável da Argentina”, afirmou Parente, após comentar que o país “sempre foi contrário” a um acercamento entre o Mercosul e a Aliança do Pacífico.

 

Sobre as negociações do acordo de livre comércio com os europeus, o especialista disse que é uma novidade o interesse conjunto dos principais atores envolvidos. “Nos últimos anos, sempre havia alguém contrário ao tratado, algum país envolvido que fazia oposição”, disse Parente.

 

Na semana passada, a chanceler alemã Angela Merkel disse que esse é o “momento correto” para as conversas entre os grupos avançarem. No Mercosul, o acordo é defendido pelos governos brasileiro e argentino. Já a Venezuela, que costuma se posicionar contra esse tipo de acerto, está suspensa do bloco.

 

Sintonia

 

Na terceira reunião dos dois em cerca de seis meses, os presidentes sul-americanos também ressaltaram a similaridade de seus governos.

 

Temer comentou que existe um “momento especial” de convergência no continente, que conta com líderes ortodoxos e com discurso pró-mercado à frente de suas duas principais economias.

 

“A urgência do crescimento econômico e da geração de empregos são desafios comuns para Argentina e Brasil. Temos também, convenhamos, modos semelhantes de enfrentar esses desafios, reformas ambiciosas e fortalecimento da competitividade”, declarou o brasileiro.

 

A fala do governante argentino seguiu roteiro parecido. “Quero que juntos possamos criar uma agenda concreta para nossos países”.

 

Macri e Temer ainda assinaram quatro compromissos nas áreas de comércio, diplomacia e saúde. Em uma das ações, uma carta para o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), foi proposta a criação de uma agência que trabalhe para ampliar a convergência regulatória entre Brasil e Argentina.

 

Hoje, o país liderado por Macri é o terceiro maior comprador de produtos brasileiros no mundo, atrás apenas de China e Estados Unidos.

 

Protecionismo

 

Os líderes do Mercosul aparecem entre as nações que contam com menor participação das exportações no Produto Interno Bruto (PIB), de acordo com dados do Banco Mundial.

 

Em 2015, os embarques brasileiros representaram apenas 13% do PIB nacional. O País ficou entre as últimas posições do ranking, um pouco à frente da Argentina (11,1%).

 

Uruguai (22,3%) e Paraguai (42,7%), membros do bloco sul-americano, contaram com participação mais expressiva das vendas internacionais.

 

Números maiores também foram registrados em outros países do continente, como México (35,4%), Chile (30%) e Peru (21,3%), e nas principais potências europeias: Alemanha (46,8%), França (30%) e Reino Unido (27,2%). (DCI/Renato Ghelfi)