DCI
Apesar do aumento contínuo das exportações, montadoras terão que enfrentar grandes desafios para continuar elevando os embarques. A indústria brasileira precisará enfrentar incertezas globais e investir em produto para ganhar competitividade.
“As montadoras ainda terão muito trabalho a fazer para elevar consideravelmente as exportações. O mercado automotivo global é extremamente competitivo e a tendência é que se torne ainda mais daqui para frente”, afirma o presidente da consultoria automotiva Jato Dynamics no Brasil, Vitor Klizas.
Segundo ele, a indústria local não deve atingir o patamar recorde de exportações de meados de 2005 – de quase um milhão de unidades – antes de 2021. “As montadoras precisarão desembolsar quantias adicionais para oferecer produtos que se adequem aos mercados internacionais”, acrescenta.
O professor de economia do Ibmec/MG, Sérgio Guerra, aponta ainda a falta de competitividade da indústria automotiva brasileira como principal entrave para alavancar as exportações.
“Os custos de produção no Brasil, bem como a complexidade da carga tributária, impedem que as montadoras tenham competitividade perante os grandes players do setor no mundo”, avalia Guerra. “Os automóveis brasileiros têm acesso limitado aos mercados globais”.
Klizas acrescenta que as montadoras precisam investir para homologar seus produtos ao redor do mundo, incluindo critérios de emissões e segurança, mais rígidos em mercados maduros do que no Brasil. “Este é um processo que pode levar até uma década para se consolidar. Mas é fato que precisa ser iniciado o mais rapidamente possível”.
O consultor afirma ainda que norte-americanos, europeus e asiáticos brigam de forma acirrada para elevar suas exportações. Neste contexto, ele acrescenta que os países têm se movimentado no sentido contrário ao da globalização, o que adiciona incertezas para o sucesso do plano de expansão das montadoras instaladas no País. “Neste cenário, ficará muito difícil para o Brasil expandir suas fronteiras se não investir fortemente em plataformas globais”, destaca.
Na última segunda-feira (6), o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Antonio Megale, se mostrou atento aos recentes movimentos internacionais. “Sem dúvidas, a política de Donald Trump em relação ao México deve causar algum impacto no Brasil”, ponderou.
De acordo com o dirigente, qualquer aumento de restrição aos veículos mexicanos por parte dos EUA deve causar reflexos na indústria brasileira.
“Vale lembrar que o Brasil exporta um volume importante de autopeças para o México. Se as barreiras ao produto mexicano aumentarem no mercado norte-americano, isso pode impactar a cadeia automotiva brasileira”, pontuou.
Hoje, o México é o segundo maior parceiro comercial do Brasil no setor automotivo, informa Megale, atrás apenas da Argentina. E caso a indústria automotiva mexicana resolva redirecionar as exportações para a América Latina, o mercado brasileiro poderia ser um alvo importante. “Este reflexo negativo é bastante provável”, analisa o professor do Ibmec.
Megale, porém, se mostra mais cético. “O impacto negativo poderia ocorrer somente daqui a algum tempo, já que não se conquista mercado do dia para noite”, salientou.
Ele acrescentou ainda que enxerga com bons olhos as discussões entre o Mercosul e a União Europeia. “O mundo está passando por alterações, mas nós acreditamos que essas conversas vão evoluir”, disse.
No entanto, o diretor-executivo da Anfavea, Aurélio Santana, disse que um possível acordo entre os dois blocos deve surtir efeito só no médio prazo. “Não devemos ter demanda ainda neste ano”, declarou.
Klizas avalia que, no momento, um acordo entre os dois blocos não parece ser prioridade da União Europeia. “A Europa ainda está passando pelo processo de saída do Reino Unido. Um acordo automotivo pode ficar em segundo plano, mas o Brasil precisa continuar trabalhando em outros acordos bilaterais.”
Mercado doméstico
A produção brasileira de veículos teve crescimento de 17,1% em janeiro sobre um ano antes, totalizando 174,1 mil unidades. “As associadas estão se preparando para uma retomada do mercado nos próximos meses”, justificou Megale.
Contudo, o dirigente admitiu frustração com o resultado de licenciamentos do período, quando houve queda de 5,2% das vendas sobre o janeiro extremamente fraco de 2016. “Esperávamos um resultado mais forte neste mês, mas o mercado ainda não se estabilizou”, comentou Megale.
Ele ressaltou, entretanto, que tanto a inflação quanto a taxa de juros têm recuado, o que pode trazer um ambiente positivo para os próximos meses. “Mantemos nossa previsão de que encerraremos o ano com vendas positivas”. (DCI/Juliana Estigarríbia)