O Estado de S. Paulo
Dona de um dos maiores parques industriais do Brasil, a Volkswagen terminou o ano passado com o menor nível de produção em 25 anos, mostram dados publicados hoje pela Anfavea. A montadora, que tem sido a mais afetada pela queda na venda de veículos, também foi prejudicada por atrasos e interrupções no fornecimento de peças em diversos momentos de 2016, vendo-se obrigada a trocar de fornecedor.
A empresa alemã, que tem três fábricas espalhadas pelo Brasil e em 2010 chegou a produzir cerca de 1 milhão de veículos leves (automóveis e comerciais leves), fabricou menos de um terço disso em 2016, ou seja, 324,8 mil unidades. Volume menor que esse só em 1991, quando foram produzidos 287,3 mil veículos leves. Em relação a 2015, quando a produção atingiu 422,5 mil unidades, a queda é de 23%, a maior retração entre as principais montadoras.
Um dos motivos que levaram a Volkswagen a ser a montadora que mais reduziu a produção foi o fato de que suas linhas de montagem se concentram em veículos populares, voltados ao consumidor de menor renda. Este, que precisa de emprego e crédito para adquirir um carro novo, evitou fazer esse tipo de compra durante esta crise econômica, período no qual o desemprego atinge níveis recordes, e os bancos, com medo da inadimplência, estão mais rigorosos na aprovação de financiamentos.
Além disso, atrasos no fornecimento de bancos por parte da empresa Keiper, do grupo Prevent, obrigaram a Volkswagen a interromper a produção em diversos momentos. O problema começou em 2015, mas se tornou mais grave ao longo de 2016. Com o fim do contrato entre as duas empresas, a Volkswagen chegou a ficar parte de agosto e setembro sem produzir. A montadora estimou que as interrupções forçadas impediram a produção de cerca de 150 mil veículos.
A falta de fornecedor acabou prejudicando também as exportações. No ano em que o setor como um todo elevou as vendas para o exterior, em um esforço para driblar a queda interna, a Volkswagen foi a única que teve recuo nos embarques. As exportações de automóveis e comerciais leves da montadora caíram 14,7% em 2016, para 106,5 mil unidades. Mesmo assim, a empresa segue como a maior exportadora de veículos do Brasil. O fornecimento começou a se normalizar em outubro, quando a Volkswagen já tinha uma nova fornecedora, a Amvian.
Problemas como o da Volkswagen, que também foram enfrentados pela Fiat, levaram a Anfavea, que representa as montadoras, a colocar esse tema em pauta nas discussões com o governo. A ideia é que uma política setorial a ser elaborada pelo governo, com previsão para entrar em vigor em 2018, no lugar do Inovar-Auto, priorize medidas que ajudem as empresas de autopeças a se tornarem mais sustentáveis no longo prazo. Por serem mais frágeis que as montadoras, estas empresas tiveram maior dificuldade para enfrentar a crise. (O Estado de S. Paulo/André Ítalo Rocha)