Mercado de motos deve amargar mais um ano de estagnação em 2017

DCI

 

A indústria de motocicletas deve amargar um período de estagnação em 2017, após cinco anos de quedas consecutivas. Diante da perspectiva de baixos níveis de produção e vendas, o quadro dramático de ociosidade deve se manter entre as montadoras.

 

“Nos últimos meses, esperávamos uma recuperação do setor, mas a queda das vendas se aprofundou. Se conseguirmos manter o mercado estável em 2017 já será uma vitória”, revelou nesta terça-feira (13) o presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo), Marcos Fermanian.

 

A indústria duas rodas deve encerrar 2016 com 890 mil unidades produzidas, queda de 29,5% em relação ao ano passado. Para 2017, a Abraciclo projeta um aumento da produção de apenas 20 mil unidades. “Esse volume provavelmente deve ser destinado às exportações”, acrescenta o dirigente.

 

As vendas no varejo devem encerrar o ano com retração de 26,5%, para 900 mil unidades. Já para 2017, a Abraciclo projeta ligeira queda de 1,1% dos licenciamentos sobre 2016. “O mínimo que esperamos é manter os mesmos patamares deste ano”, pontua.

 

Em 2011, a indústria duas rodas registrou recorde de vendas no mercado doméstico, totalizando 1,94 milhão de unidades vendidas.

 

“Isso só mostra que o mercado brasileiro tem um grande potencial, por isso continuamos acreditando que a indústria vai se recuperar”, disse o presidente da Abraciclo.

 

No entanto, ele avalia que essa retomada deve ser gradual. “Não acredito que vamos ter um crescimento com sobressaltos. Imaginamos uma expansão do mercado em torno de 10% ao ano”, acrescenta.

 

Fermanian explica que a falta de confiança continuará impactando o mercado no ano que vem. “Diante da crise e da instabilidade do emprego no País, dificilmente o brasileiro deve assumir um financiamento de moto”, avalia.

 

Segmentos

 

As motos abaixo de 160 cilindradas representam a esmagadora maioria das vendas no País e, segundo Fermanian, as faixas C, D e E da população – que mais consomem esse tipo de veículo – são as mais afetadas na crise. “Isso derruba as perspectivas de retomada consistente do mercado”, conta.

 

Nessa conjuntura, as vendas por meio de consórcios têm ganhado participação no total emplacado, bem como a modalidade à vista que, segundo a Abraciclo, geralmente é feita com uma moto usada como entrada. “Hoje, o brasileiro não quer assumir dívidas e não tem como desembolsar o valor total do bem à vista.”

 

Até as motocicletas acima de 450 cilindradas, que vinham apresentando crescimento mesmo diante da crise, já sentem os efeitos da falta de confiança generalizada. “Mesmo os consumidores mais abonados vão ter receio de investir em uma moto que normalmente é usada para lazer”, pontua Fermanian.

 

No acumulado até novembro, as vendas de motos abaixo de 160 cilindradas recuaram 28,3% em relação a igual período de 2015. Já os licenciamentos da faixa entre 450 e 800 cilindradas caíram 35,4% na mesma base de comparação.

 

De acordo com a entidade, atualmente os estoques do setor duas rodas somam cerca de 50 dias, volume que só deve começar a ser reduzido a partir do ano que vem.

 

Nem a exportação será suficiente para amenizar o alto nível de ociosidade das montadoras da Zona Franca de Manaus. Segundo a Abraciclo, neste ano as vendas ao exterior – em sua grande maioria para a Argentina – devem recuar 19%, para 56 mil unidades.

 

“Apesar da apreciação do dólar, não é possível competir principalmente com o produto asiático. Precisamos enfrentar o enorme problema de falta de competitividade da nossa indústria”, comenta Fermanian.

 

O dirigente aponta como principais entraves a burocracia para desembaraçar mercadorias na fronteira e o alto custo com logística. “É difícil acessar até os nossos mercados do Sul e Sudeste.”

 

Demissões

 

O presidente da Abraciclo afirma que o número de funcionários do setor gira em torno de 13,6 mil, atualmente. No ano recorde da indústria, em 2011, esse número superava 20 mil.

 

“Com o nível atual de utilização da capacidade instalada e as previsões de vendas para o setor, é possível que as montadoras tenham que fazer mais alguns ajustes até o final do ano.” Fermanian estima que, hoje, a indústria duas rodas apresente uma ociosidade aproximada de 50%.

 

“Nossa expectativa é que, num prazo mínimo de dez anos, o setor não consiga voltar aos níveis recordes que registramos há alguns anos”, avalia o dirigente. (DCI/Juliana Estigarríbia)