Trabalhadores da Scania rejeitam proposta de alta de 5% e entram em greve

Diário do Grande ABC

 

Os trabalhadores da Scania cruzaram os braços ontem e, a partir de hoje, vão paralisar parcialmente a produção da montadora em São Bernardo. A mobilização ocorrerá por tempo indeterminado, cada dia em um setor diferente, até que haja acordo. O protesto se dá em rejeição à proposta de reajuste salarial da companhia, de correção de 5% mais abono de R$ 4.000.

 

Na terça-feira, o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC já havia entregue aviso de greve à fabricante, com o pleito de reposição da inflação que, de acordo com o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), nos 12 meses terminados em agosto acumulou 9,62%.

 

“Desde agosto, as partes vêm tentando chegar à oferta que atenda a ambos os lados. Porém, a empresa alega que tem sofrido com a retração da economia e que as outras montadoras selaram negociação que não contempla o repasse da inflação”, explica Carlos Caramelo, diretor do sindicato e trabalhador da montadora. “Não aceitamos o reajuste inferior à inflação porque isso precariza os salários e prejudica os pagamentos de INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), 13º salário e férias. Mas a Scania diz que chegou no seu limite.”

 

Quanto ao fato de outras montadoras da cidade terem negociado correção abaixo do INPC mais abono para este ano, Caramelo afirma que o cenário na Scania é diferente, e que os reajustes deste ano já estavam previstos em acordos firmados anteriormente. “A companhia ainda não precisou lançar mão de ferramentas como lay-off (suspensão temporária do contrato de trabalho) ou PPE (Programa de Proteção ao Emprego) devido à fraca demanda, como ocorreu com outras empresas. Há cerca de dois anos, trabalhamos com desconto no banco de dias, que avalia semanalmente a necessidade de mão de obra. O chão de fábrica deve em torno de um mês e meio de produção nesse período. Entendemos que a Scania não está nadando de braçadas, e que o mercado está ruim, mas a proposta pode ser melhorada”, conta ele.

 

O sindicalista afirma que a montadora exporta cerca de 40% de sua produção, e detém 25% do mercado nacional de caminhões e ônibus. “A empresa já fez alguns ajustes neste ano, e só no segundo semestre dispensou cerca de 90 trabalhadores. Com isso, entendemos que a carga de serviço já está muito justa, num ritmo intenso.”

 

A proposta rejeitada também garantia manutenção de emprego por um ano, reposição integral do INPC em 2017 e um adicional, caso a produção atinja ou supere 16 mil veículos no ano, de 0,5% a cada 1.000 unidades fabricadas. Para 2016, o volume de produção anual é estimado em 14 mil veículos. A montadora tem hoje 3.200 funcionários, sendo cerca de 2.000 no chão de fábrica.

 

O outro lado

 

Procurada, a “Scania Latin America lamenta a paralisação dos trabalhadores, iniciada nesta segunda-feira, dia 17 (ontem), visto que a greve traz prejuízos para todos os lados”, diz em nota. “A empresa ressalta, porém, que a proposta apresentada foi a melhor possível, considerando o cenário de queda de volumes que começou em 2014 e agravado, mais recentemente, pelo momento difícil da economia no País”. (Diário do Grande ABC/Soraia Abreu Pedrozo)