Reciclagem de garrafas e embalagens é bom para o ambiente e dá dinheiro

O Estado de S. Paulo

 

A reciclagem é mais conhecida pelo viés ambiental. Mas, por trás da economia de recursos naturais, há potencial econômico a ser explorado. De acordo com o Cempre (Compromisso Empresarial para Reciclagem), o mercado de reciclagem brasileiro gira cerca de R$ 3 bilhões por ano. Quase 200 mil toneladas de lixo são produzidos por dia no Brasil, e 173 mil toneladas (78%) são coletadas. Do volume recuperado, quase um terço (31,9%) é direcionado para reaproveitamento na indústria. Esse montante diário é composto por 1,7 mil toneladas de metais (3%), 7,2 mil toneladas de papel e papelão (13%), 7,4 mil toneladas de plástico (13,5%) e 1,3 mil toneladas de vidro (2,4%).

 

Com estímulos e conscientização sobre a importância do descarte seletivo, o mercado de reciclagem de alumínio, embalagens, plásticos e vidro ficaria ainda maior, destaca Milton Rego, presidente executivo da Associação Brasileira do Alumínio (ABAL). “Uma tributação diferenciada sobre os reciclados e maior educação sobre o descarte são importantes para incentivar a reciclagem. E não estou falando só do alumínio, mas de todos os materiais recicláveis.” Apesar das dificuldades, há casos de empresas que estão gerando negócios com reciclagem.

 

Na construção civil, por exemplo, as certificações ambientais que incluem o uso de materiais reciclados como critério de avaliação dariam impulso ao reaproveitamento de materiais, como alumínio e vidro. “Quanto mais uma construtora usar reciclados, mais pontos ela receberia.”

 

Para o dirigente, outra forma de incentivar ainda mais a reciclagem é dar tratamento tributário diferenciado à sucata. “O alumínio reciclado tem a mesma tributação de um similar extraído. Mas está na Constituição que todo material que contribui para a sustentabilidade tem que receber tratamento diferenciado”, defende Rego.

 

O alumínio possui a cadeia de reciclagem mais desenvolvida, devido ao ciclo de vida curto e alta procura, e tem amplo uso na indústria de alimentos, construção civil e automotivo. Segundo a ABAL, a coleta de latas de alumínio para bebidas movimentou R$ 845 milhões em 2014, contribuindo para que praticamente todas as latas de bebidas feitas com o material são recicladas.

 

No período, das 294 mil toneladas de latas de alumínio para bebidas que estavam no mercado, 289,5 mil toneladas foram recicladas, um índice de 98,4% que coloca o Brasil na liderança mundial de reaproveitamento do metal. Os níveis de reciclagem do alumínio vêm se mantendo acima de 90% desde 2001, de acordo com a associação.

 

Para atender à alta demanda, a Novelis expandiu sua operação de reciclagem de alumínio no Brasil. Em Pindamonhangaba (SP), a recicladora praticamente dobrou a capacidade de reprocessamento de alumínio, de 200 mil toneladas para 390 mil toneladas por ano, segundo Luide Riani Maciel dos Reis, gerente de negócios de reciclagem da Novelis. Em 2015, a Novelis ganhou um prêmio ECO pelo seu projeto de economia circular na cadeia do alumínio.

 

No segmento de embalagens, a Tetra Pak tem feito parcerias técnicas e operacionais com empresas recicladoras para aumentar o índice de reaproveitamento de sucata. “Além do equipamento fornecido em regime de comodato e treinamento gerencial e de negócios, mostrando que o material reciclado pode ser usado para fabricar produtos de maior valor agregado”, detalha Valéria Cristina Michel, diretora de meio ambiente da Tetra Pak. Entre eles, a executiva cita pallets e telhas.

 

Até 2015, a Tetra Pak reciclou 21% das embalagens que disponibilizou no mercado, um montante que chega perto de 49 mil toneladas. Para 2020, a meta é quase o dobro da atual: reciclar 40% do volume de embalagens do mercado, segundo Valéria. “Estamos fazendo ações de conscientização em condomínios, escolas e grandes estabelecimentos para atingir a meta.” Vencedora do Prêmio ECO entre 2013 e 2015, a Tetra Pak sempre incorporou ações de sustentabilidade na gestão.

 

A maior parte do material reciclado das embalagens é o plástico. Boa parte desse material é usado para a fabricação de sacos de lixo. Devido à perda de propriedades físicas, esses plásticos são destinados a usos menos nobres, de acordo com Mara Lúcia Dantas, pesquisadora do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas). De acordo com Mara, o plástico PET das garrafas de refrigerante é o mais procurado devido à possibilidade de uso em outros segmentos. “A indústria têxtil absorve muito o PET para fazer fibras de maior durabilidade.” A Abipet (Associação Brasileira da Indústria do PET) estima que 38% do uso final desses plásticos é na indústria têxtil (38%), seguida de resinas para tintas e vernizes (24%).

 

A Braskem, vencedora do ECO em 2011 com o desenvolvimento do primeiro plástico de origem renovável  mantém um programa de reciclagem de plástico, o WeCycle, para incentivar negócios com reciclagem do plástico. Um projeto foi desenvolvido com a Starbucks para aproveitamento dos copos na fabricação de cestos de lixo.

 

A reciclagem de vidro também traz oportunidades de negócios aos recicladores do setor. Através do programa Glass is Good, a Diageo reciclou mais de 10 mil toneladas de vidro entre 2010 e 2016 e ganhou o ECO em 2012 pela iniciativa

 

O projeto que envolve comerciantes, cooperativas e indústria na coleta de garrafas para reciclagem atraiu outras empresas do setor, como Heineken, Cia. Müller, Pernod Ricard e Owens-Illinois. De acordo com a Diageo, há 175 estabelecimentos comerciais que aderiram ao programa. A procura maior por vidros reciclados elevou o preço do material em 50%, agregando valor a essa cadeia, segundo a empresa.

 

O foco em produtos reciclados de maior valor agregado é a chave para o desenvolvimento do mercado, de acordo com Valéria. “A questão social é importante, mas o que o move esse mercado é a compensação financeira. Quando o valor aumenta, toda a cadeia se beneficia”. (O Estado de S. Paulo)