Carsale
Em colunas anteriores, já dei várias dicas para avaliar um carro usado. Hoje, vou falar sobre o passo a passo depois de concretizada a aquisição de um particular.
Engana-se quem pensa que tudo acaba quando se aperta a mão do vendedor. Afinal, existe toda uma parte burocrática a ser cumprida, que vai do pagamento à transferência do veículo.
Esse processo é mais simples do que parece. No entanto, percebo que muitas pessoas nem se arriscam a querer aprender; preferem comprar em uma loja ou concessionária e pagar para que cuidem da documentação.
Ok, não há nada de errado com isso. Cada um faz o que acha melhor. Mas se você está disposto a economizar uns bons trocados, siga as etapas a seguir para cumprir todo o processo corretamente:
Pagamento
A primeira coisa a ser feita é combinar o pagamento do carro.
Algumas pessoas se sentem inseguras nesse momento, com medo de golpes, e insistem para que o vendedor assine o documento (DUT – Documento Único de Transferência) antes do pagamento.
Mas o procedimento não é este, e eu sempre peço para que a pessoa se imagine do outro lado: você assinaria o documento antes de receber o pagamento?
Se você continua inseguro, sugiro que faça uma carta de próprio punho relatando a compra do carro e a forma de pagamento e contendo a assinatura das duas partes. Claro que, para ter validade, as assinaturas precisam ser autenticadas em cartório.
Este é um passo que pode ser pulado quando existe confiança de ambas as partes. E não são raros os casos do tipo, já que a maioria das pessoas é honesta.
Acredito que muita gente não dispõe de grandes limites para transferências bancárias. Se este for o seu caso, será preciso fazer uma ligação para seu gerente ou até mesmo ir pessoalmente à agência.
Por ter feito vários negócios desse tipo, já passei por muitas agências da Grande São Paulo. E posso dizer que em algumas delas fui surpreendido por atendentes que não queriam fazer o negócio apenas porque a agência não era exatamente a do comprador.
Agora, imagine você comprando um carro em outra cidade e enfrentando essa má vontade do atendente para liberar o pagamento.
Digo má vontade porque só consigo enxergar a atitude dessa forma, já que na maioria dos casos é possível fazer a transação sem nenhum questionamento adicional, além da exigência de senha, assinatura ou outras coisas do tipo.
O que fazer nesse caso? Ou você “bate o pé” e insiste para que façam a operação, ou avisa sua agência antes de ir ver o carro, pedindo que seu gerente libere o pagamento caso você concretize o negócio.
O único caso no qual o documento precisa ser assinado antes é quando alguma instituição financeira vai alienar o carro, uma vez que ela exige o documento assinado e reconhecido antes de liberar o pagamento na conta do vendedor.
Portanto, se você tem uma carta de crédito (consórcio) ou vai financiar com seu banco a compra do automóvel, sugiro que comunique o vendedor antes mesmo de ver o carro.
Muitos vendedores não aceitam e querem negociar o veículo apenas com quem tenha dinheiro para pagamento à vista. Então, não há razão para perder tempo avaliando um carro cujo negócio não vai se concretizar. Pense nisso!
Cartório
Feito o pagamento, acompanhe o vendedor a um cartório para que ele preencha o DUT com seus dados – nome, RG, CPF e endereço -, assine-o e reconheça firma.
Você, como comprador, não precisa assinar o documento nesse primeiro momento; pode deixar para fazer isso num cartório onde já tenha firma aberta. Mas, se quiser economizar tempo, vale a pena abrir firma no cartório do vendedor e “matar” essa etapa.
Em São Paulo, a maioria dos cartórios já informa a transferência do carro para o Detran. Pergunte a respeito para o atendente. Caso ele diga que não, avise o vendedor que ele precisa notificar a venda do carro.
Opcionalmente, pode ser feita uma carta de próprio punho informando a data e hora da compra para evitar possíveis problemas, a ambas as partes, com eventuais multas que possam aparecer.
Agora, é só pegar a caranga e se despedir do vendedor.
Transferência
Cumprida a etapa do cartório, você tem até 30 dias para concluir a transferência – tempo mais do que suficiente para isso. Caso não a faça, estará cometendo uma infração grave, que além do valor da multa somará cinco pontos em sua carteira.
Você vai precisar do DUT preenchido, assinado e reconhecido por ambas as partes, cópias da sua CNH e de comprovante de residência e, por fim, laudo de transferência, emitido por alguma empresa que tenha autorização do Detran para isso.
Esse laudo passou a ser obrigatório em São Paulo no fim de 2015. Antes disso, bastava o decalque dos números do chassi e do motor, algo que você mesmo podia providenciar.
Sinceramente, não sei dizer se todas as cidades do Brasil exigem esse laudo. Portanto, vale se informar antes a respeito. Se não houver essa exigência em seu município, você vai economizar uns R$ 100,00 nesse processo.
Com esses quatro documentos em mãos, basta ir ao Detran de sua cidade e dar entrada na transferência. Se a documentação do carro que comprou estiver em dia, você precisará pagar apenas a taxa de transferência. Caso exista alguma pendência – como multas, IPVA, DPVAT ou licenciamento -, você terá de pagar por ela também.
Se a placa do carro for de outra cidade que não a sua, será preciso pagar por um novo emplacamento. Aqui, uma dica: caso a placa já seja do tipo reflexiva, basta a troca da tarjeta com o nome do município. Essa medida tem um custo menor que a troca da placa completa.
Você vai receber um comprovante com a data para retirada do documento, prazo que não costuma ultrapassar uma semana.
No dia da retirada, você vai receber um novo CRLV, um novo DUT e o vale-placa (no caso de troca de cidade).
Como já disse aqui em outras colunas, o CRLV é de posse obrigatória quando estiver com o veículo, e o DUT deve ser guardado em local seguro, pois só será usado quando você for vender o carro.
Com o vale-placa, basta se dirigir a um posto do Detran que faça a troca. (Carsale/Felipe Carvalho)