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A venda de automóveis usados é uma das mais tradicionais no mercado brasileiro, chegando a movimentar até R$ 250 bilhões ao ano. Vistoriar o carro, checar motor e documentos fazem parte do dia a dia de milhares de lojistas do País inteiro. Mas a tecnologia começa a mudar as negociações. Depois dos anúncios on-line, surge uma opção para quem vende e para quem compra: o leilão eletrônico.
Com uma tecnologia complexa para inclusão de fotos, sincronização de dados em tempo real na nuvem, a plataforma Instacarro foi criada por uma startup brasileira e garante venda do bem através do leilão em apenas uma hora. A dinâmica começa quando o vendedor, geralmente uma pessoa física, resolve anunciar seu carro. Mas, diferentemente do que acontece nos sites de classificados comuns, não é ele quem insere o anúncio.
Primeiro o veículo precisa ser vistoriado por um perito do Instacarro, que atesta as condições tanto físicas como documentais do bem. Uma vez aprovado, o próprio especialista insere as fotos e as características do automóvel no site, indicando um preço mínimo, de acordo com as condições e cotações de mercado. Em seguida, um aviso é enviado a todos os lojistas cadastrados no sistema, que, então, podem fazer suas ofertas, caso haja algum interesse.
Essa avaliação do bem e a inserção do anúncio levam cerca de 30 minutos. Outros 30 minutos são necessários para receber as propostas, que podem ser aceitas ou não pelo vendedor. Caso seja feita uma oferta interessante e o vendedor concordar com o preço, o próprio site paga na hora e repassa o carro ao lojista, sem burocracia, conforme explica um dos criadores do Instacarro, Diego Fischer. “Este modelo funciona muito bem nos Estados Unidos, com o www.webuyanycar.com, e na Europa, com o www.wirkaufendeinauto.de. Mas ainda não havia chegado ao Brasil, considerado um mercado muito maior para carros usados, que o americano, por exemplo”, diz Fischer.
Investimento
A tecnologia, no entanto, não é a mesma dos estrangeiros e foi toda desenvolvida no Brasil. Pela sofisticação e diferenciação, a startup obteve US$ 3,5 milhões em apenas uma rodada de investimentos, considerada a maior quantia levantada por uma iniciante. No total, o investimento chegou a US$ 14 milhões e o site entrou no ar em dezembro do ano passado, após três meses de testes. Entre os investidores do Instacarro estão gigantes consagrados na internet como criadores dos sites OLX e Mercado Livre, que não veem na página um concorrente, mas sim um negócio adicional, segundo Fischer.
“Desde que começamos já contabilizamos um crescimento dos negócios em torno de 30% a 50% por mês, sendo 200 agendamentos de avaliação por dia”, afirma o sócio.
De acordo com Fischer, a modalidade dá maior poder aos pequenos lojistas em todo o Brasil, que passam a ter acesso a carros, que muitas vezes acabavam nas mãos das grandes concessionárias. “O pequeno lojista não têm a mesma capacidade de captação de carros de uma concessionária e acaba ficando à mercê de feiras e de anúncios das pessoas físicas nos sites de classificados comuns”, explica.
A maior dificuldade inicial foi justamente convencer este empresário a utilizar o sistema, uma vez que o mercado de usados é cercado de burocracia e fraudes. “Fizemos um grande esforço nas ruas para mostrar a diferença e pedir que eles se cadastrassem, mas agora muitos já estão pedindo o registro on-line”, diz.
Como a avaliação feita pelo especialista da Instacarro é rigorosa, muitos já confiam e compram sem ver o carro, segundo Fischer. “Além disso, o sistema dá maior poder a estes lojistas, que antes precisavam negociar também com as concessionárias e acabavam tendo de levar carros que nem sempre atendiam à sua freguesia”, explica o sócio.
Para a pessoa física, a possibilidade de negociar o carro mais rápido a um preço, em alguns casos, um pouco melhor do que o oferecido pelas concessionárias também se torna vantajoso. “A velocidade da venda e a possibilidade de receber na hora é um grande atrativo”, diz. “Além disso, o próprio perito se responsabiliza pelo laudo de transferência exigido por lei”, acrescenta.
O plano da startup agora é expandir o número de avaliadores, para que possam ir até os vendedores e acelerar o processo e ampliar o sistema para todo o Brasil em até seis meses. Hoje o site conta com 40 pessoas na Grande São Paulo. (DCI/Anna França)