Crise na indústria do alumínio primário provoca risco de desabastecimento

DCI

 

A indústria do alumínio não enxerga recuperação antes de 2018. Segundo executivos, a cadeia produtiva brasileira – altamente verticalizada – pode inclusive amargar o fim da oferta do metal primário.

 

“Temos que agir rapidamente porque os investimentos no setor são de longo prazo e o elo do alumínio primário pode ser rompido em breve”, afirmou ao DCI o presidente do conselho da Associação Brasileira do Alumínio (Abal), Alberto Fabrini.

 

O Brasil possui a terceira maior reserva de bauxita (minério) do mundo, porém, cinco operações de alumínio primário foram encerradas desde 2010, restando apenas duas. “Corremos um sério risco de nos tornarmos apenas importadores do insumo”, pondera Fabrini.

 

O dirigente, que também é vice-presidente executivo da área de negócios bauxita e alumina na Norsk Hydro, destaca que o Brasil tem competência para atuar do minério à reciclagem. “A indústria brasileira tem vocação para ser totalmente verticalizada”, avalia. O presidente da fabricante de chapas Novelis na América do Sul, Tadeu Nardocci, revela que 30% da produção da empresa neste ano devem ser de alumínio primário importado. “A nossa vantagem é que usamos muita reciclagem, se não dependeríamos muito mais da importação”, afirmou ao DCI.

 

O principal entrave para a indústria do metal primário no Brasil é o peso da energia elétrica, que em 2015 representou cerca de 62% do custo por tonelada produzida.

 

“Precisamos de estabilidade e contratos de energia com prazos maiores, pois o setor só trabalha com planejamento de longo prazo”, ressalta Fabrini.

 

Além disso, neste ano o consumo de produtos transformados deve recuar pela terceira vez consecutiva, entre 4% e 7%. Construção civil e transportes são os que mais pesam na conta. Já o segmento de embalagens, que vinha em franco crescimento puxado por latas de bebidas, agora também apresenta sinais de desaceleração.

 

Nardocci, da Novelis, acredita que o consumo de latas de bebidas deve apresentar, neste ano, o mesmo desempenho de 2015. “Vimos sinais de arrefecimento nos primeiros meses de 2016, mas apostamos ao menos na manutenção dos volumes do mercado”, observa.

 

Para compensar os efeitos da recessão da economia no País, Nardocci conta que a Novelis deve se concentrar nas exportações. Além disso, a empresa aumentará o foco nos segmentos em que não era forte, como de aerossol.

 

“Esperamos com isso crescer entre 3% e 4% no ano fiscal que se encerra no próximo mês de março”, pontua.

 

Conforme o executivo, a expansão da capacidade de reciclagem da planta de Pindamonhangaba (SP) permitirá que a Novelis retome mercados que havia perdido justamente porque o consumo doméstico cresceu de forma expressiva.

 

“A demanda no Brasil cresceu muito rapidamente e não tínhamos capacidade para atender às exportações. Agora vamos expandir as vendas ao exterior de maneira definitiva”, garante Nardocci.

 

Perspectivas

 

O presidente do conselho da Abal conta que, atualmente, o principal desafio do setor é se tornar competitivo. “Hoje, há um excesso de capacidade instalada global vindo principalmente da China e precisamos de equilíbrio para competir”, explica Fabrini.

 

O dirigente elenca alguns pontos como primordiais para a retomada da cadeia produtiva do alumínio, como custos competitivos, infraestrutura adequada e ambiente estável.

 

“Posso falar não só pela Norsk Hydro, mas pelas empresas do setor que é difícil explicar para as matrizes as oscilações político-econômicas do Brasil”, comenta.

 

Ele reforça que o setor buscará uma política industrial com regras claras. “Precisamos de segurança para que as empresas possam voltar a investir”, acrescenta.

 

Fabrini cita a alumina (produto intermediário entre a bauxita e o metal primário) como um dos negócios mais promissores do setor. Em 2015, a indústria local bateu recorde de exportações. “Temos bons projetos na área, mas que só vão começar a operar com um ambiente de mercado favorável”, avalia o dirigente. (DCI/Juliana Estigarríbia)