Presidente da Mercedes-Benz faz críticas ao governo

O Estado de S. Paulo

 

O presidente da Mercedes­Benz no Brasil e na América Latina, Philipp Schiemer, criticou ontem a política econômica da presidente Dilma Rousseff e demonstrou simpatia ao programa “Uma ponte para o futuro”, do PMDB. Após dizer que políticas inadequadas causaram uma crise desnecessária, ele disse que “assina em baixo e concorda em tudo” com as medidas propostas pelo partido do vicepresidente, Michel Temer, para recuperar a economia.

 

O programa do PMDB propõe reformas no Orçamento, privatizações e maior abertura comercial. As declarações de Schiemer foram feitas durante cerimônia de comemoração dos 60 anos da montadora no País.

 

Para Schiemer, o fato de o Produto Interno Bruto (PIB) global estar em alta e o do Brasil em queda é sinal de que “o problema é caseiro e pode ser resolvido”. “E espero que seja resolvido agora”, disse. Para ele, o Brasil necessita de “um governo melhor, uma economia melhor e um projeto para o futuro”. Também disse que é preciso um “governo competente, reformas urgentes e sem perda de tempo”.

 

A principal crítica de Schiemer ao governo teve como alvo a política monetária. “Esse aumento rápido e um pouco atrapalhado dos juros poderia ter sido gerenciado de forma melhor”, disse, em referência ao início do ciclo de aperto da política monetária no primeiro mandato de Dilma.

 

“Todos sabemos que nenhuma economia pode crescer com uma Selic a 14,25%”, acrescentou. “Precisamos de uma inflação sob controle para ter uma tendência de baixa dos juros e, se a situação política se resolver, vamos caminhar para isso”.

 

O mercado de veículos tem sido um dos mais afetados pela crise econômica, principalmente em razão do aumento do desemprego, que fez cair a renda e a confiança do consumidor, e da maior restrição ao crédito, que reduziu a concessão de financiamentos. No ano passado, as vendas de veículos caíram 26,5% em relação a 2014 e, neste primeiro trimestre, o recuo acumulado é de 28,6% ante igual período de 2015.

 

Empregos

 

O Programa de Proteção ao Emprego (PPE), criado pelo governo para evitar demissões em empresas com dificuldades financeiras, perdeu a utilidade para a Mercedes­Benz no Brasil, afirmou Schiemer. Em razão disso, o executivo afirmou que a adesão da empresa ao programa na fábrica de São Bernardo do Campo (SP), que termina em maio, parece “impossível” de ser renovada.

 

Lançado em julho, o PPE permite que empresas reduzam os salários e as jornadas dos funcionários em até 30%, com metade da perda salarial compensada pelo governo. “É um programa que ajuda temporariamente a passar por uma situação, nós fizemos durante nove meses e ele perdeu a utilidade porque o problema continua o mesmo, então temos de encontrar outras maneiras”, afirmou.

 

Ele se recusou a dizer, no entanto, se a montadora vai fazer demissões após o fim da adesão ao programa. A montadora tem um excesso de 2 mil funcionários no ABC e, além do PPE, tem recorrido ao lay­off (suspensão temporária de contratos) para ajustar a produção à demanda do mercado.

 

De janeiro de 2015 a março deste ano, a crise resultou na demissão de 16 mil trabalhadores da indústria automobilística, segundo dados da Anfavea.

 

Apesar das dificuldades, a Mercedes mantém investimentos anunciados para o período 2015 a 2018, de R$ 730 milhões. O dinheiro será aplicado na modernização das fábricas em São Bernardo e Juiz de Fora. No mês passado, a montadora inaugurou uma fábrica de automóveis em Iracemápolis (SP), com investimento de R$ 600 milhões e capacidade de produção de 20 mil carros por ano. (O Estado de S. Paulo)