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Estabilidade a longo prazo, câmbio definido e retorno da credibilidade do país nos próximos três a cinco anos. Na opinião das montadoras alemãs, que estão entre as únicas com resultado positivo no ano de 2015 e no primeiro trimestre de 2016, estas são as demandas da indústria automotiva brasileira para o governo, qualquer que seja ele, para que as vendas reajam e os números voltem a se mostrar positivos.
UOL Carros ouviu, nas últimas semanas, a opinião dos presidentes da Mercedes-Benz e Audi, que têm fábricas recém-inauguradas no Brasil – a primeira em Iracemápolis (SP), a última em São José dos Pinhais (PR). Também ouviu Matthias Brück, da Porsche, que comanda a subsidiária da marca no país criada em 2015.
Ser previsível é preciso
Enquanto o mercado geral de carros novos caiu de 22% a 25% em 2015, o segmento de modelos premium ou de luxo subiu 50% no último ano. Em 2016, a toada segue semelhante: com a economia em compasso de espera, o mercado generalista caiu cerca de 23% no primeiro trimestre do ano, enquanto as três marcas (e mais a BMW) cresceram 20%.
Ainda assim, Porsche, Audi e Mercedes são taxativas. É necessário que o governo construa um cenário em que as marcas possam definir passos a longo prazo, junto às matrizes, sem pressão de ambiente nacional instável, dólar imprevisível e regras para o setor desconhecidas.
Demandas como definição de novos pontos do Inovar-Auto, cuja fase atual termina ao fim deste ano e precisa ter novos termos acertados para 2017; estabilização do câmbio; assinatura de Acordos Bilaterais de Comércio facilitando exportação e importação; definição sobre incentivos ao setor automotivo; e retorno da boa imagem do país no exterior são fundamentais para as marcas.
Com bom mercado para SUVs, como o Macan (mais vendido no país) e o Cayenne (segundo mais emplacado), a Porsche do Brasil já bate recordes de vendas com a instalação da estrutura oficial no Brasil, em 2015. Ainda assim, a continuidade de crescimento depende do bom ambiente local, afirma o presidente Matthias Brück.
“O Brasil é o segundo mercado da marca de esportivos na América Latina, mas ressaltamos a necessidade de estabilidade”, afirmou Brück durante o lançamento da linha 2017 do cupê Porsche 911, ícone da marca, na última semana.
Segundo Brück, é difícil fazer prognósticos e planejamentos a longo prazo no cenário atual. “Estamos otimistas e satisfeitos com mercado até o momento. Houve alta de vendas no primeiro trimestre de 2016, apesar da queda geral, mas é difícil fazer qualquer prognóstico quanto ao futuro nas atuais condições”.
Após vender 17.541 unidades em 2015 e ultrapassar a Mercedes-Benz, a Audi fala em manter o ritmo de vendas em 2016, mas afirma ser quase impossível fazer qualquer previsão para os próximos anos.
“Está difícil fazer planos a longo prazo no atual momento brasileiro. É preciso que o governo defina o que quer da indústria para que possamos pensar em 2017, 2018 e 2019”, apontou Jörg Hofmann, presidente da Audi no Brasil, durante o lançamento do sedã de luxo Audi A4, há duas semanas.
Segundo o presidente da Mercedes-Benz do Brasil, o país está defasado na assinatura de Acordos Comerciais Bilaterais ou Multilaterais. “Só agora começamos a nos recuperar dessa situação, mas é preciso que o país faça parte de acordos bilaterais importantes, inclusive para que haja a redução de encargos”, afirmou Schiemer.
A desvalorização brutal e oscilante do real em relação ao dólar também é um problema, segundo Schiemer. “O câmbio influencia vendas, produção e preços. Mais tarde, isso acaba tendo de ser repassado ao preços dos carros”, disse o presidente da Mercedes, durante a inauguração da nova fábrica em Iracemápolis (SP).
Para a Mercedes do Brasil, “é preciso que a inflação caia e que os juros também caiam” para que o mercado automotivo volte a crescer. Nova rodada de incentivos fiscais, no entanto, não é algo fundamental. “Incentivo fiscal é algo para adoçar o bolo, mas não é algo fundamental para o processo automotivo, porque você não sabe se eles ficam ou se são passageiros”, afirmou.
Mais antigo dos três executivos no cargo, Schiemer é também o mais crítico de todos à atual situação política do Brasil e sua influência sobre o setor. Ele foi categórico sobre o fator fundamental para a reação das vendas: “O Brasil perdeu toda a credibilidade, é necessário que haja a volta da credibilidade”. (UOL Carros/Eugênio Augusto Brito)