Setor duas rodas prevê mais um ano de queda e demissões

DCI

 

A indústria de motos opera com metade da capacidade e, sem horizonte de melhoras no curto prazo, montadoras continuam ajustando o quadro de funcionários. A expectativa do setor é de mais um ano de retração e demissões.

 

“A indústria não está conseguindo repassar o aumento de custos em sua totalidade. As empresas continuam se ajustando”, afirmou nesta quinta-feira (7) o presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo), Marcos Fermanian.

 

Segundo projeção da entidade, o setor deve encerrar o ano com uma contração de 12,2% dos emplacamentos, para 1,075 milhão de unidades. “O desempenho ruim da nossa indústria é reflexo do varejo, que vem apresentando queda em todos os segmentos”, destaca o dirigente.

 

No primeiro trimestre, os emplacamentos tiveram retração de 26,6% em relação a igual período do ano passado, para 239,9 mil unidades. A maior queda, em volumes, foi verificada em motos abaixo de 160 cilindradas.

 

Fermanian acrescenta que a procura por financiamentos caiu pela metade nos últimos seis meses, resultado do agravamento do cenário de incertezas no País.

 

“A grande maioria dos consumidores que compram motos a prazo parcela em 36 meses. Hoje, eles não têm certeza de que estarão empregados daqui a um tempo.”

 

A queda menos acentuada ocorreu no Nordeste, justamente onde o volume de vendas é o maior do País. “A população daquela região é muito dependente da moto para locomoção porque o transporte público é muito deficitário”, pondera.

 

No primeiro trimestre, enquanto a retração dos emplacamentos atingiu 35,7% no Sul, para 19,7 mil unidades, no Nordeste a queda alcançou 18,1%, para 95,7 mil motos.

 

“A nossa maior carteira de consórcios está localizada no Nordeste”, pontua.

 

E o crédito, que sempre esteve na mira do setor, começa a não ser a principal preocupação das montadoras. Isso porque, de acordo com Fermanian, o nível de aprovação pelos bancos não mudou muito e continua na casa dos 20%.

 

“O clima geral é bastante negativo e enquanto o cenário político não estiver definido, com impeachment ou não, o mercado não vai retomar”, analisa Fermanian.

 

De acordo com a Abraciclo, o pagamento de motos à vista é a modalidade que mais perdeu espaço em 2016 e, o consórcio, o que se manteve mais firme, com 33,3% do total negociado no varejo.

 

Ainda assim, a projeção da Abraciclo em 2016 é de uma queda da produção de 9,7%, para 1,14 milhão de motos. “Teremos mais um ano de forte retração”, diz Fermanian.

 

Ajustes

 

O nível de emprego entre as montadoras instaladas na Zona Franca de Manaus, ao final de 2015, era de 16.102 pessoas. Um ano antes, o número de funcionários era de 17.928.

 

Fermanian observa que, no início deste ano, houve um movimento entre as montadoras de abertura de Programas de Demissão Voluntária (PDV), que ainda estão em curso.

 

“O viés do emprego para este ano é de queda”, pondera o dirigente. Ao final de 2015, a entidade havia registrado o fechamento de 33 concessionárias ao redor do País. “O número não parece alto porque esse processo leva um tempo mínimo de dois a três anos. Mas o quadro pode piorar se o cenário persistir.”

 

O que pode ser um alento para as montadoras, contudo, é a exportação. Diante da valorização do dólar, a indústria ganha um pouco de fôlego para buscar a expansão de mercados internacionais.

 

Ainda que sobre uma base bastante tímida, de janeiro a março as vendas ao exterior cresceram 116,5%, para 13,7 mil unidades. “Estamos trabalhando intensamente para aumentar as exportações, pois esse trabalho é demorado.”

 

Fermanian ressalta que a entidade busca junto ao governo brasileiro a promoção das exportações na América do Sul. “Dependemos principalmente de acordos bilaterais, pois o Brasil ainda possui pouca vocação para exportar”, pondera o dirigente. (DCI/Juliana Estigarríbia)