Incerteza atingiu níveis intoleráveis

O Estado de S. Paulo/Reuters

 

A escalada da turbulência política no Brasil está arrastando a economia, enquanto o governo parece incapaz de implementar reformas para ressuscitar a atividade, disse o presidente do Itaú Unibanco, Roberto Setubal.

 

Enquanto o governo da presidente Dilma Rousseff enfrenta uma extensa investigação de corrupção e o País caminha para ter a pior recessão da história, planos de reformas para limitar os excessivos benefícios da Previdência e simplificar o sistema tributário foram colocados em segundo plano, disse Setubal, à frente do maior banco privado do País. Ele fez essas declarações na noite de terça­feira, durante um evento organizado pela Liga de Mercado Financeiro da Faculdade de Economia e Administração da USP.

 

 

Setubal disse que a habilidade do governo de tirar o Brasil da recessão foi severamente dificultada por anos de decisões equivocadas de política econômica e investigações de corrupção. “No Brasil, tudo é possível, mas nada é provável, levando a incerteza a níveis intoleráveis e prejudicando a economia”, disse. “Este governo foi eleito para manter o status quo, não para mudá­lo”.

 

Empresas têm ficado na defensiva para sobreviver à crise, e muitas encaram dolorosas reestruturações de dívida, disse o presidente da unidade brasileira do Credit Suisse, José Olympio Pereira, no mesmo evento. A presente onda de pessimismo é “a pior que eu já vi em meus 30 anos de carreira”, afirmou o executivo.

 

O Itaú, maior banco da América Latina em valor de mercado, tem reduzido despesas e ampliado a cautela no crédito, entre outras medidas, para mitigar o impacto da recessão na instituição financeira, de acordo com Setubal. Ele reforçou que os brasileiros precisam evitar eleger líderes “messiânicos”, que se apresentem como “um salvador da pátria” para resolver os problemas do País sem um plano realista.

 

Pereira, por sua vez, destacou a necessidade de se construir lideranças políticas capazes de educar a população sobre a necessidade de reformas na Previdência, nas leis trabalhistas e na área tributária para tornar as contas públicas sustentáveis no longo prazo.

 

Anfavea

 

Na quarta­feira, 16, depois de o governo confirmar a nomeação do ex­presidente Luiz Inácio Lula da Silva como titular da Casa Civil, o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Moan, afirmou em nota que respeita as decisões dos poderes, mas reiterou que as questões políticas estão contaminando a economia. “Portanto, faço um apelo para que o conjunto das instituições pense no Brasil”, concluiu.

 

Moan lidera uma das mais influentes associações empresariais do País e tem dito que a retomada do crescimento econômico depende primeiro de uma solução na política. A indústria automotiva tem sido uma das mais afetadas pela crise econômica. No ano passado, a produção de veículos registrou queda de 22,8% em relação a 2014. Em 2016, até fevereiro, o recuo é de 31,6% ante igual período do ano passado. Na nota, o executivo evitou fazer críticas ou elogios à volta de Lula ao governo. (O Estado de S. Paulo/ReutersAndré Ítalo Rocha)