Multas por uso de celular no trânsito crescem 22% em São Paulo

Folha de S. Paulo

 

As multas por uso de celular no trânsito de São Paulo cresceram 22% de janeiro a novembro do ano passado na comparação com o mesmo período de 2014.

 

O total de infrações registradas 430 mil já ultrapassa as 383 mil de 2014 e as 411 mil de 2012 inteiro.

 

A multa por usar o celular ao dirigir é uma das cinco mais aplicadas pela CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) na capital paulista nos últimos anos.

 

Seu crescimento em 2015 foi inferior ao da média das atuações aplicadas em São Paulo, que subiram 40% até novembro na comparação com o mesmo período de 2014 (os dados de dezembro do ano passado ainda não foram disponibilizados).

 

Os números sozinhos, no entanto, não dão a dimensão exata do problema. A tarefa cabe a especialistas e agentes de trânsito: o uso do celular ao volante, infração prevista no Código de Trânsito Brasileiro desde 1997, mudou e ficou bem mais perigoso.

 

Antes, usar o telefone era sinônimo de fazer ligações. Agora, corresponde a um grande número de atividades: mandar mensagens de texto, conferir as redes sociais, usar aplicativos de comunicação instantânea, de navegação pelo GPS.

 

Tal conectividade também traz problemas. O sociólogo Eduardo Biavati, especialista em segurança no trânsito, cita a conclusão de pesquisas internacionais: o risco de acidentes ao dirigir e enviar mensagens é 23 vezes maior que ao dirigir normalmente.

 

Biavati explica que uma mensagem curta de texto, de três a quatro palavras, consome três a quatro segundos de deslocamento da atenção do motorista. E acidentes, muitas vezes, decorrem de decisões tomadas em segundos.

 

O assunto foi abordado pelo cineasta Werner Herzog em um de seus documentários, From One Second to the Next (de um segundo para o próximo, em tradução livre). A obra reconstitui a vida de quatro pessoas envolvidas em acidentes provocados por mensagens.

 

É inquestionável que a distração ao digitar mensagens é maior do que ao falar. Envolve as dimensões cognitiva, visual e motora, diz Biavati. Para o especialista, o crescimento das multas em São Paulo ainda representa um salto pífio.

Considerando a população circulante e o número de vezes em que a infração é cometida impunemente, o impacto desse número no comportamento é zero, afirma.

O especialista também critica a ausência de campanhas nacionais sobre o tema e pede que o valor da multa, hoje de R$ 85,13, seja revisto: São valores de 1997, tornou­se uma infração barata diante do risco que traz, afirma.

 

A produtora de eventos Carolina Venturelli, 38, já tomou mais de uma multa ao ser flagrada utilizando o celular por agentes de trânsito a infração não é notada por radares.

 

Estava parada no trânsito, não parecia ser nada grave enviar uma mensagem nesse contexto. Minhas multas com certeza foram por mensagem, porque hoje em dia não ligo para ninguém, afirma Venturelli.

 

Fiscalização

 

Reno Ale, presidente do Sindviarios (sindicato dos agentes de trânsito), explica que a orientação é aplicar a multa a veículos parados, o que exige a presença de operadores de trânsito em pontos como cruzamentos.

 

Realmente, hoje notamos mais gente enviando mensagens que falando. Não é uma infração difícil de ser reconhecida, mas temos cada vez menos agentes destinados a locais fixos. Isso explica por que o número cresce menos do que a média, afirma Ale.

 

Outro fator mencionado pelo presidente do Sindviarios é o uso da tecnologia bluetooth pelos motoristas, especialmente os mais velhos, na hora de fazer ligações, o que ajudaria a reduzir o índice de crescimento dessa infração de trânsito. (Folha de S. Paulo/Rodrigo Russo)