Chery enfrenta terceira greve de trabalhadores em um ano e meio de operação no Brasil

O Estado de S. Paulo

 

Há apenas um ano e meio no Brasil, a montadora chinesa Chery enfrenta sua terceira greve de trabalhadores. Os funcionários da fábrica em Jacareí, a 80 quilômetros de São Paulo, informaram nesta sexta-feira, 26, que pararam as atividades de produção por tempo indeterminado. Eles reivindicam a reincorporação de 40 terceirizados que foram demitidos ontem.

 

Segundo Guirá Guimarães, diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região (que inclui Jacareí), os 40 terceirizados exerciam funções diretamente ligadas à produção de veículos, o que é proibido por lei. Trabalhadores terceirizados só podem atuar nas chamadas “atividades meio”, que não estão ligadas ao objetivo principal da empresa (atividade fim). Um vigilante, por exemplo, pode ser terceirizado, porque sua função não está associada à produção de veículos.

 

Os 40 demitidos eram funcionários da BMS Logística, que prestava serviços para a Chery. Em geral, serviços de logística são considerados uma atividade meio, mas o sindicato alega que os transportes de carga estavam sendo feitos internamente, e não externamente.

 

Segundo Guimarães, havia uma negociação com a Chery para que os terceirizados fossem contratados pela montadora. Ontem, uma reunião chegou a ser marcada para a próxima terça-feira, para que o tema da terceirização fosse discutido. No entanto, no mesmo dia, a BMS informou o desligamento dos seus 40 funcionários.

 

Em nota, a Chery disse que lamenta o desligamento dos funcionários da BMS, mas afirma que não tem responsabilidade ou gestão sobre a decisão da empresa terceirizada. O contrato entre ambas também foi rescindido ontem. “A empresa informa que nunca se comprometeu, junto ao Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, a contratar colaboradores de empresas terceirizadas”, diz o comunicado.

 

A fábrica de Jacareí, a única da Chery no Brasil, foi inaugurada em agosto de 2014 e emprega cerca de 400 pessoas. Essa é a terceira greve de trabalhadores da montadora em apenas um ano e meio de funcionamento da unidade. Na primeira, no início de 2015, os funcionários pediram aumento de salário, sob a justificava de que a remuneração paga pela empresa estava muito abaixo do mercado. Na segunda, em outubro, um novo aumento foi pedido, mas dessa vez em razão da data-base da categoria.

 

A nova paralisação ocorre em meio a uma crise do setor automotivo no Brasil. A venda de veículos novos teve recuo de 26,5% em 2015 ante 2014, a terceira queda anual seguida, de acordo com a Federação Nacional de Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). Com o enfraquecimento do mercado, a produção registrou baixa de 22,8% na mesma comparação, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). (O Estado de S. Paulo/André Ítalo Rocha)