Gestores da Volkswagen foram notificados sobre investigação em maio de 2014

Folha de S. Paulo/das Agências de Notícias

 

Um funcionário de alto nível alertou gestores seniores da Volkswagen em maio de 2014 de que reguladores americanos poderiam examinar o software para motores de carros da empresa como parte de uma investigação sobre níveis de poluição, disseram duas fontes familiarizadas com o tema no domingo (14).

 

O alerta foi feito por carta, enviada mais de um ano antes da admissão pública pela montadora alemã de que seus carros estavam equipados com software para manipular testes de emissão de poluentes, disseram as fontes, levantando questões sobre quanto os gestores seniores sabiam sobre o escândalo.

 

O Departamento de Justiça dos Estados Unidos está processando a empresa em até US$ 46 bilhões por acusações de violação da lei ambiental, enquanto reguladores e procuradores buscam estabelecer que papel, caso tenha havido, foi exercido por gestores seniores, incluindo o ex­presidente­executivo Martin Winterkorn.

O jornal alemão “Bild am Sonntag” foi o primeiro a noticiar a existência de uma carta interna alertando gestores seniores sobre a investigação. Citando documentos da investigação da própria VW sobre o escândalo, o “Bild am Sonntag” disse que um funcionário conhecido internamente como “bombeiro de Winterkorn” notificou superiores sobre a investigação.

 

Duas pessoas familiarizadas com o tema disseram à Reuters no domingo ter conhecimento da carta da Volkswagen, mas que não é certo que Winterkorn, que renunciou pouco depois que o escândalo emergiu, tenha visto a carta.

 

O escândalo começou em setembro do ano passado, quando a Volkswagen admitiu ter instalado o software manipulador em 11 milhões de veículos diesel em todo o mundo.

 

O sistema é capaz de detectar quanto um carro está sendo testado em laboratório, e de reduzir as emissões de óxidos de nitrogênio,um poluente associado a problemas de saúde. As autoridades regulatórias dos Estados Unidos determinaram que as emissões de poluentes nas ruas são até 40 vezes maiores do que as demonstradas em testes. A Volkswagen controla também as marcas Audi e Porsche, e a SEAT e Skoda, na Europa.

 

A montadora admitiu ter trapaceado nos Estados Unidos, ainda que na semana passada o novo presidente­executivo da montadora, Matthias Müller, tenha complicado a questão ao negar em entrevista de rádio que a empresa tivesse mentido aos fiscais norte-americanos, declaração que ele contradisse, em parte, em entrevista subsequente.

 

Ainda assim, em carta divulgada pelo Parlamento britânico na semana passada, Paul Willis, que comanda as operações da Volkswagen no Reino Unido, disse que a empresa “aceita que um dispositivo manipulador foi usado nos Estados Unidos em certos modelos”.

 

Mas Willis também declarou que “não acreditamos que seja possível usar a mesma determinação legal definitiva com relação a software instalado em veículos de configuração diferente no Reino Unido e União Europeia”. Ele reconheceu, em seguida, o potencial de que “essa questão venha a ser debatida judicialmente”. (Folha de S. Paulo/das Agências de Notícias)