O Estado de S. Paulo
O Brasil apresentará ao novo governo argentino de Mauricio Macri, em reunião em Buenos Aires na quintafeira, uma proposta de acordo de livrecomércio no setor automotivo. “Caminhamos para o livrecomércio no setor automotivo dentro do Mercosul.
“As condições estão dadas”, disse ao Estado o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Armando Monteiro. Ele aposta na postura liberal do novo governo argentino para costurar a proposta. No ano passado, um acordo liberando o comércio automotivo foi assinado com o Uruguai.
O ministro disse que há espaço para que o comércio automotivo entre o Brasil e a Argentina possa se fortalecer, assim como em toda a região. Um acordo automotivo também foi assinado com a Colômbia em 2015. A estratégia brasileira é aumentar o acesso a mercados, principalmente nesse momento em que a taxa de câmbio no Brasil está mais favorável para os produtos brasileiros.
Para Monteiro, o aumento das exportações é a saída para as empresas enfrentarem a redução da demanda doméstica, que não deve se recuperar tão cedo. Ele avaliou que a balança comercial vai surpreender este ano e apresentar um resultado maior do que a previsão de US$ 35 bilhões de superávit.
Segundo o ministro, o setor automobilístico não tem outra saída a não ser aumentar as exportações. “Temos de combinar a questão de câmbio com ações da política comercial brasileira para melhorar as condições de acesso ao mercado”.
Resistência dos argentinos
A liberalização do comércio de veículos com a Argentina é uma agenda antiga que sempre enfrentou resistência do governo e dos empresários argentinos, que temem uma invasão de carros brasileiros. Monteiro diz, porém, que a Argentina tem vendido muitos veículos para o Brasil e o livrecomércio vai beneficiar os dois lados. “Um acordo de livrecomércio foi assinado no ano passado entre Brasil e Uruguai, um mercado muito menos expressivo e com uma indústria local menos forte do que a Argentina”, lembra.
O acordo automotivo entre Brasil e Argentina já foi prorrogado várias vezes, com cotas, toda vez que se aproximava a data fixada para que o livrecomércio entrasse em vigor. A última renovação ocorreu em 1.º de julho de 2015, com vigência de um ano. O acordo prevê um sistema “flex”, em que para cada dólar que a Argentina exporta ao Brasil em autopeças e veículos, sem incidência de impostos, pode importar 1,5 dólar em produtos brasileiros.
Oferta para a Europa. Na reunião com os argentinos, Monteiro também discutirá outro tema espinhoso: a troca de ofertas entre Mercosul e União Europeia para o início das negociações de livrecomércio. Há anos as negociações se arrastam. Seja por resistência do Brasil e da Argentina em abrir o mercado para produtos industriais europeus, seja por parte da UE, que resiste em derrubar barreiras a produtos agrícolas brasileiros.
Monteiro espera que a troca de ofertas que indica os produtos e serviços que terão redução das tarifas de importação até chegar a zero seja feita no primeiro semestre. O Brasil esperava fazer a troca de ofertas no ano passado, mas houve uma demora no fechamento da proposta do Mercosul, sobretudo por dificuldades impostas pela Argentina. Depois foi a vez dos europeus pedirem o adiamento para este ano.
Monteiro diz que uma reunião para fechar o cronograma deve ocorrer em março.
“Não tenho dúvida nenhuma que dá para avançar para viabilizar os ajustes necessários à oferta aos europeus no primeiro semestre”, disse Monteiro, que, depois da Argentina, embarca no domingo para o México para tentar fechar a negociação de acordo que pretende ampliar de cerca de 500 para 2 mil produtos o livrecomércio bilateral.
Na reunião com os argentinos, também será discutida a reativação de uma comissão de monitoramento do comércio bilateral, temas fitossanitários e temas setoriais para acordos de lácteos, pêssegos e carne suína.
Ainda como estratégia para ampliar mercados, o ministro espera avançar nos acordos do Mercosul com Peru e Colômbia, que ficaram congelados nos últimos anos por causa de problemas setoriais. Ao final de 2017, a expectativa é que quase todo o comércio brasileiro com esses dois países esteja livre da tarifa de importação. (O Estado de S. Paulo/Adriana Fernandes e Renata Veríssimo)