Brasil ficará fora da indústria 4.0 por falta de investimentos e informação

DCI

 

A falta de acesso a informações sobre modernização industrial ainda é um dos principais desafios do setor no Brasil. Sem investir mais e melhor em inovação, as empresas podem perder a quarta revolução industrial, avaliam especialistas ouvidos pelo DCI.

 

As consequências para os países que ficarem de fora dessa mudança no modelo produtivo têm sido pauta de discussão em encontros de autoridades e empresários ao redor do mundo. A chamada quarta revolução industrial ou indústria 4.0, no Brasil conhecida também como manufatura avançada, marca a entrada de tecnologias digitais no processo produtivo.

 

“Vemos que na Alemanha a manufatura avançada já é política industrial e as empresas de lá vêm direcionando suas estratégias nesse sentido. O Brasil precisa investir em inovação para não perder espaço frente a outros países”, observou a gerente de tecnologia industrial da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Anita Dedding.

 

O trabalho da Abimaq para estimular a inovação, segundo ela, tem sido investigar o que industriais entendem e aplicam em indústria 4.0, além de oferecer cursos sobre gestão de inovação.

 

“Temos empresas fazendo investimentos próprios, mas geralmente são indústrias que exportam. As demais têm dificuldade em fazer aportes, porque falta informação e segurança quanto ao futuro.”

 

Nas empresas de menor porte, a distância em relação aos novos modelos produtivos é ainda maior, avaliou o diretor de marketing industrial da Siemens, José Borges Frias.

 

“Hoje nós já vemos indústrias de ponta no Brasil (aeroespacial e automotiva) usando digitalização para aumentar a produtividade, mas ainda temos um longo caminho para que esta realidade chegue às médias e pequenas indústrias, podendo gerar um impacto real não apenas na produtividade industrial, como em toda a economia do País”, disse ele.

 

Segundo o executivo, a participação do governo na implementação de políticas de incentivo a investimentos em tecnologias de aumento da produtividade é fundamental para que a quarta revolução industrial ocorra no País.

 

Para o diretor do departamento de competitividade e tecnologia da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), José Ricardo Roriz, recursos públicos aplicados corretamente podem reduzir a distância do Brasil em relação aos países desenvolvidos em um período de pelo menos cinco anos.

 

Já para o líder do centro de pesquisas global da General Electric (GE) no Brasil, Kenneth Herd, a preparação do sistema de ensino para atender às demandas do novo modelo industrial é um dos principais desafios para melhorar o ambiente de negócios no País. “A demanda por trabalhadores com alta qualificação será cada vez maior”, citou ele.

 

Parceria

 

Para melhorar a relação da indústria com instituições de ensino e pesquisa públicas, o governo brasileiro criou a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) no final de 2013.

 

A organização funciona nos moldes das parcerias comuns na Alemanha, que incentivam a colaboração entre universidades e empresas. “Percebemos que faltava colocar os pesquisadores em contato com a indústria”, contou o diretor-presidente da Embrapii, Jorge Almeida Guimarães.

 

De acordo com ele, o governo incentivou a formação de mão de obra qualificada nos últimos anos. Mas agora, esses profissionais estão a disposição para serem atraídos aos projetos de inovação em parceria com as indústrias.

 

“Muitas empresas não têm recursos para investir num centro próprio de pesquisa e as universidades têm essa estrutura. A parceria, nesse sentido, torna os projetos viáveis financeiramente, inclusive no atual cenário econômico”. (DCI/Jéssica Kruckenfellner)