Nem programa do governo impede dispensa de trabalhador

O Estado de S. Paulo

 

Sem perspectivas de melhora no mercado, a Mercedes­-Benz, fabricante de caminhões e ônibus, vai dar licença remunerada por tempo indeterminado para 1,5 mil trabalhadores da fábrica de São Bernardo do Campo (SP) a partir do dia 17. O número equivale a 20% da mão de obra da área de produção.

 

Já a Volkswagen vai colocar cerca de 800 funcionários em lay­off (suspensão temporária dos contratos) por cinco meses também na fábrica do ABC Paulista. Com isso, aumenta para 2 mil o total de operários da unidade em lay­off, ou 10% do quadro de pessoal da linha de montagem dos modelos Gol, Saveiro e Jetta.

 

As duas fábricas adotam o Programa de Proteção ao Emprego (PPE), que reduz jornada e salários dos funcionários em 20%. Mas a medida, lançada pelo governo no ano passado para tentar evitar demissões, não tem sido suficiente.

 

“O mercado em 2016 começou pior do que os níveis de 2015, que já foram muito baixos”, diz o diretor de Comunicação e Relações Institucionais da Mercedes­Benz, Luiz Carlos de Moraes. “E não vemos nenhum sinal de melhora pelo menos até maio, quando vamos reavaliar a medida adotada agora”.

 

A produção de caminhões e ônibus na empresa caiu mais de 40% em janeiro na comparação com o mesmo mês de 2015, segundo dados fornecidos pela empresa ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. A Mercedes afirma ter atualmente mais de 2 mil trabalhadores excedentes.

 

Licença e PPE

 

Segundo a Mercedes­Benz, como os funcionários participam do PPE e não trabalham quatro dias por mês – programa iniciado em setembro e válido até maio –, a licença remunerada (sem descontos futuros) será considerada para os demais dias.

 

No PPE, o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) banca metade do corte dos salários – nesse caso, 10%. No período do lay­off, cada trabalhador recebe parte do salário (cerca de R$ 1,4 mil) também do FAT e frequenta cursos de qualificação.

 

Na Volkswagen, os 800 trabalhadores ficarão em casa na semana do carnaval, junto com todos os demais funcionários, emendam essas folgas com 20 dias de férias coletivas e, na sequência, entram em lay­off, somando-se a outros 1,2 mil trabalhadores que já estão nesse programa, segundo o Sindicato dos Metalúrgicos. A montadora não comentou o assunto.

 

As vendas totais de caminhões e de ônibus no mercado brasileiro caíram 43% no mês passado em relação aos números de um ano atrás, para 4,3 mil unidades e mil unidades, respectivamente. As de automóveis recuaram 40%, para 108,5 mil unidades, segundo dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).

 

Carnaval mais longo. Nesta semana, a General Motors também informou que demitiu 517 de um grupo de funcionários que estava em lay­off e que deveria ter retornado ao trabalho na segunda­feira na unidade de São José dos Campos (SP).

 

A Ford abriu um programa de demissão voluntária (PDV) na fábrica de Camaçari (BA). Diversas montadoras anunciaram que vão parar a produção durante toda a semana do carnaval, algumas por períodos mais longos, entre elas a Volvo, de Curitiba (PR) e a General Motors nas filiais de Gravataí (RS) e Joinville (SC).

 

Demissões

 

No ano passado, com forte queda nas vendas, a indústria automobilística demitiu 14,7 mil trabalhadores e, hoje, as fábricas empregam menos de 130 mil pessoas.

 

A produção de veículos caiu 22,8% em 2015, chegando a 2,4 milhões de veículos. Para este ano, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) projeta uma estabilidade na produção, tendo como base um crescimento de 8% nas exportações (para 451 mil veículos) e uma nova queda de 7,5% nas vendas domésticas (para 2,37 milhões de unidades). (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)