Estratégia certa pode ser a diferença para a indústria prosperar mesmo na crise

O Estado de S. Paulo

 

Não é de hoje que o industrial brasileiro sofre com a crise. De acordo com a última pesquisa organizada pelo Sindicato da Micro e Pequena Indústria do Estado de São Paulo (Simpi), 66% dos empresários consideram que a retração prejudica os negócios e, muitos deles, temem pelo futuro da empresa que comandam. Mas há também empreendedores do setor que não só projetam crescimento como também fazem planos de expansão.

 

Esse grupo, como estratégia comum, aposta na criatividade como munição para driblar as dificuldades. É o caso, por exemplo, da Adecol, de Guarulhos. A fabricante de adesivos industriais faturou R$ 130 milhões no ano passado e pretende chegar a R$ 150 milhões em 2015. “A cada quatro anos a gente dobra de tamanho”, diz Alexandre Kiss, diretor comercial da empresa.

 

O segredo desse bom humor passa por uma aposta prévia do empresário, que ao acompanhar o desaquecimento da economia percebeu que o seu segmento estaria mais movimentado no chamado mercado secundário, protagonizado por marcas também mais baratas. Deu certo. “Buscamos novos segmentos, como o farmacêutico, e produzimos novas linhas para o mercado automotivo e eólico. Com o real desvalorizado, montamos um time de exportação e estamos firmando novas parcerias”, conta Alexandre Kiss.

 

As exportações também se tornaram o foco na Magna Med. No ano passado, as vendas para o mercado internacional representaram 50% do faturamento anual, que foi de R$ 20 milhões em 2015. A empresa conta, inclusive, que os primeiros equipamentos de ventilação pulmonar por eles fabricados já atendiam as normas internacionais. “A primeira venda foi para a África do Sul antes do registro no Brasil”, conta o fundador Tatsuo Suzuki, que também enxerga uma oportunidade interessante no mercado brasileiro. “Nossos produtos custam de 20% a 50% do valor do importado”, diz o empresário que planeja crescimento de 60% em 2016.

 

Já a estratégia da Doce D’ocê é aliar a venda de produtos com serviços. A empresa fabrica alimentos congelados, como tortas e pães, que são vendidos em padarias de supermercados, hotéis e lanchonetes. “A gente entra com o produto supercongelado e ensina os funcionários desses locais como deve ser o processo de descongelamento. É um alento para os clientes, com falta de mão de obra”, diz a empresária Noeli Bazanella, que, a partir da estratégia, expandiu os resultados em 20% no ano passado e espera repetir o feito este ano.

 

Custo

 

Mas os casos da Doce D’ocê, Magna Med e Adecol são exceções para o superintendente do Instituto Mauá de Tecnologia (IMT), Francisco Olivieri. Principalmente, segundo ele, em um cenário de crédito caro e escasso. A lista de requisitos para se destacar não é novidade: inovação, enxugamento e dinheiro barato para financiar projetos de inovação. “Inovação requer recursos. Às vezes não é falta de visão do empresário, é falta de recurso para poder implementar a inovação”, afirma. (O Estado de S. Paulo/Gisele Tamamar)