O Estado de S. Paulo
Dono de uma das maiores montadoras de veículos do País, o empresário Carlos Alberto de Oliveira Andrade, o CAOA, investigado na Operação Acrônimo, afirmou em depoimento à Polícia Federal não ter nenhuma conta bancária em seu nome. A explicação foi dada para justificar a guarda de R$ 2,5 milhões em dinheiro vivo em sua casa, apreendidos em outubro.
Carlos Alberto é um dos alvos da Acrônimo, que apura suposta compra de portarias do governo federal que concederam incentivos fiscais à sua montadora, a CAOA, que fabrica modelos Hyundai no Brasil. Os benefícios foram concedidos na gestão do ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior Mauro Borges, que sucedeu no cargo o atual governador de Minas, Fernando Pimentel (PT).
A CAOA pagou R$ 2,8 milhões a empresas de Benedito Rodrigues, o Bené, empresário que tratou dos benefícios com Borges e é apontado como operador de Pimentel. Conforme a PF, os repasses foram vantagens indevidas pagas indiretamente ao governador petista. Os quatro negam qualquer conduta irregular.
Outra operação da PF, a Zelotes, também apura suposto pagamento de propina a servidores públicos e autoridades do governo em troca de medidas provisórias que concederam incentivos fiscais a montadoras, entre elas a CAOA.
Os R$ 2,5 milhões em notas estavam num dos endereços de Carlos Alberto em São Paulo, parte acondicionada em sacos plásticos. Ao depor à PF, o empresário disse ser acionista da CAOA e que “normalmente faz as retiradas da empresa em dinheiro, uma vez que não possui conta em banco”. No depoimento, ele não esclareceu porque não tem conta bancária.
Durante a oitiva, o advogado de Carlos Alberto, José Roberto Batochio, acrescentou que o expressivo montante em espécie se destinava a pagar funcionários, reforma e despesas de toda a família, além de bancar viagens em jatinhos. Tanto que, segundo ele, o empresário declarou ao Imposto de Renda guardar R$ 5,2 milhões em casa em 2014. O total de bens e direitos informados ao Leão naquele ano era de R$ 833 milhões.
À Polícia Federal, o empresário disse ainda que recebia Pimentel em sua casa, assim como a Bené. Ele afirmou também que se encontrava com o petista em Brasília e costumava ouvi-lo sobre a “situação macroeconômica do País, a fim de tomar decisões sobre investimentos”.
Carlos Alberto negou ter pago qualquer quantia a Bené ou a Pimentel. Ele alegou não saber por que a CAOA repassou R$ 2,8 milhões às empresas de Bené, mas informou acreditar que se tratava de pagamentos por serviços de marketing prestados à montadora. (O Estado de S. Paulo/Fábio Fabrini e Andreza Matais)