O Estado de S. Paulo
O ministro da Fazenda e Finanças da Argentina, Alfonso PratGay, defendeu nesta quintafeira, 14, um relançamento da relação comercial entre Brasil e Argentina que esteja “acima das ideologias”. Em uma entrevista a correspondentes estrangeiros em Buenos Aires, ele pregou o afastamento argentino de sócios como Venezuela, Irã e “em menor medida”, da Rússia, países com os quais o kirchnerismo estreitou laços. Ele se referiu ao governo de Caracas como um que não costuma respeitar regras.
“A projeção da Argentina para o mundo não pode ser feita separada do Brasil. Seria muito mais favorável para nós se o Brasil estivesse crescendo, e não em recessão. O Brasil passa por correções em razão de medidas dos últimos anos. Ainda assim, elogiamos o Judiciário brasileiro pela independência, isso também faz parte de ter regras claras”, avaliou. Ele amenizou a crise econômica brasileira, acrescentando que há ciclos econômicos, “anos em que se cresce e outros que não”.
Ele descartou a possibilidade de receber alguma ajuda, tanto de bancos públicos brasileiros quanto em forma de swap com o Banco Central do principal parceiro do Mercosul. Essa possibilidade foi levantada pelo candidato kirchnerista Daniel Scioli, derrotado por Mauricio Macri, líder da coalizão de centrodireita Cambiemos. Quanto ao bloco regional, ele disse que Brasil e Argentina “estiveram distraídos nos últimos anos”.
PratGay disse sentir que outros países olham a Argentina com otimismo, mas ressaltou que o país ainda é o mesmo de antes da posse, com 28% dos 42 milhões de habitantes incapazes de gerar renda para arcar com a cesta básica mensal.
Questionado sobre o que seu governo fez errado nesse primeiro mês, afirmou que a alta nos preços é o que mais o preocupa. “O salto da inflação decorre de uma expectativa anterior à nossa liberação no câmbio, de que haveria um salto do peso no mercado paralelo, o que não ocorreu”, reclamou. Além de reduzir travas a importações e exportações, Macri terminou com um controle cambial que vinha desde 2011. O dólar oficial se valorizou 41%, mas o paralelo se manteve estável. As duas cotações da moeda americana estão próximas de 14 pesos.
Ainda sobre a onda de otimismo dos mercados sobre a Argentina, o ministro afirmou que o risco país local está abaixo do brasileiro desde que Macri assumiu. “Não encontramos prazer estar com risco menor que o do Brasil. Nossa rivalidade é no futebol. Faz tempo que não olhamos muito essa medição do risco país, prefiro não dar muita importância a isso”.
Ele criticou o kirchnerismo por se afastar de “EUA, Espanha e Itália. “Vamos a Davos basicamente para dizer que existimos”, afirmou PratGay, sobre o fórum econômico na Suíça.
“A China não está nessa lista de países dos quais queremos nos afastar e dos quais o kirchnerismo se aproximou. É impossível se afastar da China, tem de ser um parceiro estratégico”. Criticado por kirchneristas pela abertura acelerada ao mercado internacional e acusado de achatar os salários com a desvalorização do peso, o ministro brincou que seu sobrenome é de origem catalã e significa campo alegre. “Não é americano ou imperialista, como tenho ouvido”. (O Estado de S. Paulo/Rodrigo Cavalheiro)