Fiat Chrysler é acusada de inflar vendas por concessionária nos EUA

The Wall Street Journal

 

Uma rede de concessionárias de Illinois, nos Estados Unidos, abriu um processo contra a Fiat Chrysler Automobiles NV, acusando a montadora que mais rápido cresce entre as grandes do setor automobilístico de falsificar relatórios de vendas de novos veículos.

 

O Napleton Automotive Group ­ que opera as concessionárias da Chrysler Dodge Jeep Ram nos Estados de Illinois e Flórida ­ acusou a Fiat Chrysler de recompensar financeiramente revendedoras que falsificavam seus relatórios de vendas de veículos como parte do programa de crescimento da montadora. A Fiat Chrysler tem registrado aumento nas vendas mensais por 69 meses consecutivos, com grande parte do crescimento ocorrendo depois de uma série de lançamentos de produtos e incentivos atraentes para os compradores.

 

Segundo o processo, a Fiat Chrysler supostamente usou táticas “de pressão” para convencer revendedores a falsificar seus relatórios de vendas de forma a beneficiar a montadora ao criar “a aparência de que o desempenho da Fiat Chrysler é melhor do que realmente é”.

 

A Fiat Chrysler informou que ainda não recebeu uma cópia do processo, mas acredita que “ele não tem mérito”. Ela também informou que “está confiante na integridade de seus procedimentos de negócios e acordos com concessionárias e pretende se defender vigorosamente contra essa ação”.

 

Edward Napleton, presidente do Napleton Automotive Group, não pôde ser contatado para comentários. Leonard Bellavia, advogado que representa o grupo, informou que seu cliente não tinha comentários adicionais e que ainda não havia sido contatado pela Fiat Chrysler. No ano passado, Bellavia moveu ação similar contra a Fiat Chrysler em nome de uma rede de concessionárias da marca Maserati, que acusava a montadora de pressioná­la a inflar suas vendas. A empresa negou as alegações.

 

Napleton alega que sua empresa recebeu uma oferta de US$ 20 mil para registrar vendas falsas de 40 veículos. Ele diz que rejeitou a oferta e disse aos funcionários da Fiat Chrysler no centro de negócios da empresa que ela deveria evitar esse tipo de prática. A Fiat Chrysler, segundo o processo, simplesmente procurou outros revendedores para participar do negócio.

 

Napleton também alega que uma concessionária rival registrou 85 vendas falsas de veículos e recebeu milhares de dólares como recompensa ilegal por sua cumplicidade no suposto esquema. As revendedoras de automóveis nos EUA são quase sempre de propriedade independente e compram seus estoques dos fabricantes.

 

A Fiat Chrysler tinha conhecimento da prática, segundo o processo, e disfarçava os pagamentos às concessionárias como incentivos de fábrica para protegê­las de auditorias de vendas. O processo não afirma que executivos da montadora sabiam da situação.

O processo, que foi apresentado à Corte Distrital de Chicago, pede ao tribunal que determine a restituição de danos pela suposta exclusão da rede concessionária de um programa de bônus e o pagamento dos custos com advogados.

 

A notícia sobre a abertura do processo foi divulgada na noite de quarta­feira pela “Automotive News”, uma publicação setorial. A cotação das ações da Fiat caiu 4,2% ontem na Bolsa de Valores de Nova York, para US$ 7,53. A ação recuou 6% nas últimas 52 semanas.

 

As montadoras frequentemente pagam bônus para as concessionárias que elevam o número de pedidos ou rapidamente vendem modelos mais antigos para dar espaços aos veículos mais novos.

 

“É um dos segredos mais mal guardados do setor que os fabricantes dependem de todo o tipo de manobra além de incentivos às concessionárias para elevar as vendas”, diz Cliff Banks, presidente do “The Banks Report”, publicação sobre o setor de concessionárias. “O processo abre uma janela para esse mundo e mostra como ele é competitivo, especialmente em meio à intensa pressão para manter o crescimento das vendas hoje”.

 

A Fiat Chrysler informou que vendeu 2,24 milhões de veículos nos EUA em 2015, dando à empresa o sexto ano consecutivo de crescimento nas vendas.

 

O mercado americano é crucial para a empresa, num momento em que mercados importantes como o Brasil afundam e as vendas permanecem estagnadas na Europa.

 

Sergio Marchionne, o diretor­presidente da montadora, tem dito que uma versão atualizada do plano de crescimento de 2014, a ser divulgada no fim de janeiro, vai confirmar as metas financeiras que incluem um salto de 50% na receita global em cinco anos e mais que o dobro de lucro operacional. Muitos analistas esperam que ele reduza as metas de volume de vendas. (The Wall Street Journal/Jeff Bennett and Eric Sylvers)