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Auxiliado por um cenário de redução de investimentos nas petroleiras globais, o Brasil terá a chance de exportar ao menos 35% da sua produção de petróleo em 2020, mas a oportunidade pode ser perdida se a Petrobras não cumprir as metas de aportes em exploração.
Diante do excesso de oferta do petróleo e a consequente queda dos preços do produto no mercado internacional, “as grandes empresas do setor no mundo vêm cortando investimentos nos projetos de maior custo e em plataformas mais antigas. Em alguns casos, até desistiram de empreendimentos cujo custo de produção fique acima dos US$ 40 o barril”, aponta o analista da consultoria WhatsCall, Flávio Conde. Esse movimento, avalia o especialista, vai impactar na oferta mundial da commodity daqui a quatro ou cinco anos, o que pode levar a um equilíbrio dos preços em patamares mais altos que o atual.
A precificação mais elevada favorece a exportação no Brasil, que deverá ter um nível cada vez maior de excedentes de petróleo sujeitos a serem exportados, diz o analista de investimentos da corretora Coinvalores, Bruno Piagentini Caloni. No entanto, ele adverte que essa projeção depende do futuro da demanda externa pela commodity e da própria capacidade da Petrobras de atingir suas expectativas de produção no médio prazo e investir na área de exploração.
A estatal anunciou na metade do ano passado um plano de negócios que previa US$ 108,6 bilhões em investimentos direcionados para a área de extração de petróleo nos próximos 10 anos. Embora seja menor do que a calculada em 2014, a projeção aponta para um crescimento da capacidade de produção da commodity no País de 2 milhões de barris por dia para 2,8 milhões em 2020.
Com a expansão, o excedente não consumido de petróleo no Brasil deve passar dos 161 mil barris diários registrados no ano passado para 2,153 milhões de barris em quatro anos, conforme dados do último Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE 2024), da Empresa de Pesquisa Energética (EPE). “É previsto um aumento no excedente, em razão de a redução na previsão da demanda ser relativamente maior do que a redução na previsão de produção de petróleo” aponta a EPE. Para a entidade, se os números se realizarem, o País se tornará “um participante de peso na geopolítica do comércio do petróleo”.
Na avaliação dos diretores da FTI Consulting, Gavin Parrish e Christopher DeSa, o cenário de maiores excedentes no Brasil e menor oferta internacional resultaria em preços internacionais mais elevados de petróleo e gás e, portanto, aumentariam as oportunidades e incentivos para exportação para o País.
O problema, na opinião de Piagentini, está na dificuldade da Petrobras de cumprir o plano de investimentos na área, que depende sobretudo da arrecadação de caixa com vendas de ativos. De acordo com o analista, com a retração no mercado mundial de petróleo, é pouco provável que a estatal consiga atingir os US$ 15 bilhões de desinvestimentos que previu para 2016 e menos ainda que seja capaz de angariar os quase US$ 40 bilhões projetados para 2017 e 2018, dinheiro que seria usado para os aportes.
“Se a empresa não conseguir realizar esses desinvestimentos, dificilmente ela vai conseguir os investimentos necessários para atingir os planos que ela colocou”, aponta. “E, no ambiente atual, é difícil a estatal conseguir vender os ativos que quer.”
Flávio Conde destaca ainda os riscos apresentados pela queda da demanda pelo produto no mercado global, impactada por um lado pelo crescimento médio menor de países como a China e por outro pela autossuficiência alcançada pelos Estados Unidos após a revolução energética do país. Ele avalia ainda que o fortalecimento do dólar frente à maior parte das moedas do mundo pode levar a uma procura menor da commodity, já que os países importadores usam para comprar petróleo a moeda norte-americana, que ficou mais cara.
Curto Prazo
Para 2016, o panorama desenhado pelos analistas é de mais um ano de retração dos investimentos e preços baixos do petróleo no mercado internacional. A reversão, segundo Parrish e DeSa, só começará a aparecer nos primeiros meses de 2017, com uma pequena elevação do nível de preços da commodity.
“Há perspectivas bem limitadas de uma recuperação significativa no preço do petróleo em 2016. Reduções significativas no que se refere à despesas de capital estão apenas começando, de modo que o impacto em termos de produção de petróleo só irá ocorrer ao longo de 2016”, apontam os analistas. “Além disso, quedas anteriores nos preços do petróleo, geralmente, tiveram recuperações somente após uma onda de consolidações da indústria. Nós ainda não vimos essa tendência de consolidação nesta crise.”
Para a agência de avaliação de riscos Moody’s, os investimentos globais em exploração e produção de petróleo deverão cair pelo menos de 20% ou 25% em 2016, ano em que o excedente global vai continuar pressionando os preços internacionais do petróleo.
“O excesso de oferta continuará a empurrar para baixo os preços das commodities em 2016 nos mercados globais de petróleo e no de gás natural norte-americano”, disse o diretor-executivo da Moody’s, Steven Wood, em nota. O executivo ressalta ainda que a potencial retirada de sanções contra o Irã poderá trazer uma oferta ainda maior ao mercado mundial este ano, compensando eventuais quedas esperados na produção dos Estados Unidos. Até 2015, o país árabe sofria diversos bloqueios de países ligados à Organização das Nações Unidas (ONU) por conta de seu programa nuclear, mas a partir deste ano poderá se ver livre das punições e adicionar até 2 milhões de barris de óleo por dia na oferta global.
“Para os preços se tornarem mais competitivos no curto prazo, alguém vai precisar cortar o fornecimento e ninguém está querendo cortar”, acredita Flávio Conde. No Brasil, tudo isso impacta na falta de interesse de se investir mais dinheiro no setor petrolífero do país, “porque empresas de fora temem custos maiores de produção. Ficam aqui só os grupos que já possuem investimentos”.
Na avaliação de Bruno Piagentini, uma recuperação dos preços internacionais do petróleo vai depender da consolidação ou da falência de produtores norte-americanos com custos de produção muito elevados, ou por uma decisão da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) de reduzir a oferta para manter os níveis de precificação mais elevados. (DCI/Thiago Moreno)