UOL Carros
Dizem que é nos momentos difíceis que a sociedade se esforça de verdade para encontrar soluções reais. Para a indústria automotiva brasileira, ver as vendas internas de modelos básicos (responsáveis pelo grosso dos emplacamentos) caírem 25%, em 2015, foi o ponto de partida para buscar nas exportações alternativa à situação econômica interna. A aposta do presidente da Anfavea (associação das fabricantes que operam no Brasil), Luiz Moan, é clara: o segmento vai apostar muito na venda a outros países em 2016, finalmente.
Em entrevista exclusiva a UOL Carros, o dirigente da principal entidade do setor diz que o novo ano será para consolidar medidas de incentivo à venda de automóveis produzidos aqui para o exterior. “Esperamos anunciar um aumento do plano de exportações já na primeira reunião, em janeiro”, afirma.
Segundo Moan, há negociações em andamento para livre-comércio de veículos com mercados como União Europeia, Argentina, outros países de América do Sul e Caribe, e África. A base das negociações será o acordo recém-firmado com o Uruguai, que prevê transação livre de impostos de importação para carros produzidos nos dois países, desde que contenham índices mínimos de componentes locais.
“Embora o Uruguai seja um mercado pequeno, o anúncio foi muito importante, porque é o primeiro envolvendo livre-comércio de automóveis nos últimos 10 anos, e dará as diretrizes para negociarmos novos entendimentos semelhantes”, disse.
Menos imposto, mais competitividade
O presidente da Anfavea citou ainda outras medidas de estímulo às exportações promulgadas recentemente pelo Governo Federal, como a regulamentação do drawback (regime aduaneiro de suspensão, isenção ou restituição de impostos para insumos que serão usados para fabricação de produtos locais voltados à exportação) e a criação do Portal do Comércio Exterior.
Falta, na visão do representante das montadoras, criar um “mecanismo de tributação mais realista”. “Precisamos parar de exportar impostos para ficarmos mais competitivos”, afirmou.
E o câmbio?
Se a desvalorização do real frente a moedas como dólar e euro é ruim para quem quer passar férias no exterior, também é medida crucial para recuperar a indústria, incluindo a automotiva, em momentos de retração econômica. “Manter o real forte nos últimos anos só nos fez perder competitividade. A moeda tem que acompanhar a depreciação da inflação para manter o produto competitivo”, avaliou Moan.
Com o dólar perto de R$ 4 e o euro a R$ 4,50, fabricantes que operam no Brasil encontraram mais facilidade para expandir negociações com outros mercados. A General Motors do Brasil, por exemplo, deve aumentar suas exportações em 70% em 2015. Já a Volkswagen iniciou vendas do up! brasileiro no México e no Peru, e deve enviar à Alemanha 90 mil blocos do motor 1.0 3-cilindros fabricados em São Carlos (SP) em 2016, expandido em 23% seus negócios com mercados internacionais.
A explicação para isso: embora o carro vendido aqui ainda seja caro em relação ao poder de compra do consumidor local, na conversão para outras moedas nossos veículos estão com preços até menores do que os vendidos em Europa e EUA.
Pegue um Volkswagen move up! TSI: o preço local de R$ 44.790 equivale atualmente a 10.650 euros. Na Alemanha, um move up! aspirado (portanto com motor menos potente e eficiente) sai por 10.775 euros. Além disso, modelos nacionais estão cada vez mais globais e alinhados tecnologicamente com os demais mercados, algo possível desde a implantação do atual regime automotivo nacional – com definição de regras e obrigações tecnológicas para o setor, o Inovar-Auto completou quatro anos em 2015. (UOL Carros/Leonardo Felix)