Folha de S. Paulo/BBC Brasil
Por décadas, o Brasil foi o maior mercado de luxo da América Latina, principal destino na região das marcas mais exclusivas do mundo. Mas, neste ano, foi desbancado por um país onde a metade de seus habitantes é pobre: o México.
Nos últimos cinco anos, as vendas deste setor aumentaram 25,9% no México, segundo a consultoria Euromonitor Internacional, movimentando US$ 3,685 bilhões em 2015. No Brasil, maior economia latinoamericana, este valor foi de US$ 3,190 bilhões neste ano.
Os produtos mais comercializados são roupas, calçados, joias, relógios, produtos de beleza, perfumes, bebidas e automóveis.
O mercado brasileiro é, historicamente, a opção principal para empresas de luxo na região.
Este setor teve aumento expressivo no país nos anos 2000 com o crescimento da economia. Mas o país desacelerou nos últimos anos e, atualmente, enfrenta a pior recessão desde os anos 1980.
Já no México, segunda maior economia da região, a expansão do mercado de luxo é impulsionada pela chamada “classe média aspiracional”, setor crescente da população, composto por pessoas com renda acima da média. Muitos deles, segundo Cristina Morales, analista da consultoria Signum Research, “querem demonstrar sua ascensão social com a compra de produtos de luxo”.
Agora, marcas como McLaren, Lamborginni e Carolina Herrera escolheram cidades mexicanas para suas representações.
O crescimento ocorre em meio à desvalorização do peso mexicano frente ao dólar, que encareceu compras no exterior, especialmente nos Estados Unidos, e à presença maior de marcas exclusivas no país, em lojas próprias ou tradicionais.
Mas, o mais importante, são as facilidades para se comprar com crédito: assim como no Brasil, podese parcelar as compras, muitas vezes sem juros.
“É preciso ter poder aquisitivo alto para adquirir estes bens de luxo, mas algumas marcas tornam seus produtos mais acessíveis. Você pode pagar por uma bolsa que não poderia ter comprado à vista”, disse Cristina Morales.
E a perspectiva de desaceleração do crescimento da economia mexicana nos próximos anos não deverá afetar este setor, disse Claudio Fores Thomas, vicepresidente da consultoria Lexia.
Quem são estes compradores?
Eis o perfil médio destes compradores: jovem adulto com formação universitária, renda alta, e residente de cidades com mais de 50 mil habitantes. Ainda não tem filhos ou gastos com família e toda a renda é para gasto próprio.
Muitos têm, ainda, negócios próprios ou são diretores de alguma empresa, fazem viagens internacionais e são ativos em redes sociais.
Mas o grupo é “muito heterogêneo”, segundo Claudio Fores Thomas, vicepresidente da consultoria Lexia. “Entre eles, estão aqueles que têm aviões e pilotos, e também aquela pessoa da classe média alta, que não tem helicóptero, mas que ascendeu para consumir produtos deste segmento”.
Por exemplo: há aqueles que querem demonstrar sua emergência na escala social com a compra de produtos de luxo ou os que precisam vestir roupas de grife para demonstrar saúde financeira ou ser admitido em círculos sociais.
Mas as estatísticas demográficas são apenas uma parte da explicação. Rosario Zavala, também da consultoria Lexia, disse que 68% dos compradores de luxo “gostam de se mostrar”.
Neste grupo, existem dois segmentos: o das pessoas que consomem o que está na moda, e o das pessoas que “não importa se gostem ou não do produto, irão comprar se a marca estiver visível”.
Há, ainda, os consumidores que sempre tiveram acesso a este mercado, os ricos geracionais, ou os que compram estes produtos por prazer ou recompensa. Todos estão no mesmo mercado, disse Zavala.
“É um reconhecimento próprio. O mexicano compra um artigo de luxo para premiarse por uma conquista”. (Folha de S. Paulo/BBC Brasil/Alberto Nájar)