O Estado de S. Paulo
A análise do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff no Congresso não deverá afetar a tramitação legislativa de matérias do interesse do Executivo, disse o ministro da Fazenda, Joaquim Levy. “Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”, declarou nesta segunda-feira em Washington, depois de reunião com o secretário do Tesouro dos EUA, Jack Lew.
Segundo o ministro, a alta da Bolsa e a queda do dólar registrados depois do início da análise do pedido de impeachment não podem ser interpretadas como um sinal de euforia em relação à possibilidade de afastamento da presidente. A reação, afirmou, se deve à expectativa de fim da incerteza vivida pelo País há meses. “Todo mundo sabe que a economia tem se contraído por causa dessa incerteza – vai não vai, vai não vai.” Levy ressaltou que a avaliação que prevalece atualmente é a de que o governo “continuará”.
Em relação ao risco de o rating soberano do Brasil ser rebaixado novamente, Levy afirmou que as agências de crédito entendem que o País “tem recursos e tem mostrado uma economia bastante resiliente”, com mercado financeiro sólido.
Para o ministro, se o governo tomar as medidas necessárias, o Brasil poderá reagir e voltar a crescer. O importante, disse ele, é que o governo mostre clareza sobre seus objetivos de política econômica, principalmente a estratégia para o corte de gastos públicos.
BTG Pactual
O ministro disse não ver problemas no fato de instituições públicas como o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal participarem da aquisição de créditos do BTG – as duas instituições devem comprar cerca de R$ 3,5 bilhões da carteira do banco. Segundo ele, a atuação dos bancos estatais não se diferencia da que vem sendo adotada pelos privados nesse episódio.
Juros americanos
O ministro avaliou que a esperada elevação dos juros nos Estados Unidos é positiva. “A elevação tem a grande boa notícia de que a economia americana está indo bem.” O Federal Reserve (Fed, o banco central americano) poderá abandonar a política de manter a taxa próxima de zero na reunião da próxima semana.
Levy teve uma série de reuniões ontem em Washington, incluindo o encontro reservado com o secretário do Tesouro americano, Jacob Lew, com o qual discutiu a relação bilateral, a situação econômica dos dois países e a conjuntura econômica global.
O ministro também esteve com o vice-diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Mitsuhiro Furusawa. Representantes do Fundo devem visitar o Brasil em março, disse Levy. (O Estado de S. Paulo/Altamiro Silva Júnior e Cláudia Trevisan)