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As montadoras asiáticas ganham cada vez mais espaço no disputado mercado brasileiro. Com uma oferta de modelos que vai do compacto a veículos de luxo, japoneses, coreanos e até chineses já somam quase 30% de participação nos emplacamentos do País.
“Eu diria que o design das asiáticas, além da qualidade indiscutível, agrada muito os brasileiros”, avalia o presidente da Kia Motors no País, José Luiz Gandini.
A montadora sul-coreana, subsidiária do grupo Hyundai, era líder absoluta de emplacamentos entre os importados até a majoração em 30 pontos percentuais do Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI) em 2012.
Contudo, mesmo com o freio nas vendas imposto pelo tributo, a Kia continua entre as 20 montadoras que mais vendem carros no País.
A Hyundai também caiu no gosto do brasileiro. Ao chegar ao Brasil, no início dos anos 2000, a marca apostou principalmente no nicho de maior valor agregado. Após alguns anos, modelos como o i30 e o utilitário esportivo (SUV, na sigla em inglês) Tucson subiram de forma significativa no ranking de vendas brasileiro. Mas foi com a chegada do modelo compacto HB20, com fabricação em Piracicaba, no interior paulista, que o grupo mostrou ainda mais força .
“No mercado, era difícil acreditar que a Hyundai conseguiria vender tantos HB20. Hoje, o modelo é um verdadeiro sucesso”, afirma o consultor e diretor da Control Motors, Roberto Bottura.
Entre as japonesas, a Honda atuou por muito tempo com uma participação tímida, porém cativa no mercado. Mas a chegada do SUV compacto HR-V, neste ano, foi decisiva para a montadora figurar entre as dez marcas mais vendidas do País no acumulado do ano. Nesta categoria, o modelo já é o mais emplacado de janeiro a novembro.
“Apesar dos bons números de vendas, evitamos comemorar devido às incertezas do mercado”, afirma a Honda em nota. Contudo, enquanto a maioria das montadoras no País vem decretando paradas desde o início do ano passado em virtude da crise, somente no mês passado a marca japonesa cortou o terceiro turno de produção em Sumaré (SP).
Na categoria sedã médio, as japonesas estão na liderança. O Toyota Corolla tem o dobro de participação do segundo colocado em vendas, o Honda Civic. O Nissan Sentra segue na terceira colocação.
“As japonesas, em geral, têm uma qualidade reconhecida mundialmente. No Brasil não é diferente”, pondera Gandini. O executivo acrescenta que a hegemonia absoluta das “quatro grandes” (Volkswagen, Fiat, General Motors e Ford) não tinha como permanecer por muito mais tempo.
“Em nenhum lugar do mundo o mercado é tão concentrado como era no Brasil até pouco tempo atrás. Agora, a tendência é que as vendas fiquem cada vez mais pulverizadas”, observa.
Preços
O presidente da Kia revelou ontem que, em 2015, as vendas da montadora no mercado brasileiro devem recuar em torno de 30% em relação ao ano passado, para 16 mil unidades. “Tivemos que reduzir os preços dos produtos para manter a meta de vendas acordada com a matriz, que tem nos ajudado muito”, diz Gandini. O ano recorde da marca no Brasil foi 2011, quando foram emplacadas 77,1 mil unidades.
“Mas certamente poderíamos ter vendido 100 mil, entretanto não conseguimos atender à demanda do mercado. Faltou produto”.
A Kia acabou de construir uma fábrica no México, que deve começar a operar em março de 2016. A maior parte da produção (60%) será destinada aos EUA, mas a montadora irá se beneficiar do acordo entre Brasil e México. “No ano que vem, esperamos aumentar as vendas para 21 mil unidades justamente em razão do tratado”, diz Gandini.
Ele afirma que a escalada do dólar está dificultando as operações da empresa e que a Kia opera, hoje, com “prejuízo absurdo”. Para o ano que vem, a marca deve reajustar preços. “Não conseguiremos repassar o aumento integral de custos, mas o reajuste é totalmente necessário”, informa.
IPI
O executivo conta que, nos últimos cinco anos, a rede de concessionárias caiu de 180 para aproximadamente 130 e cerca de 1,5 mil funcionários foram demitidos. “A cota de importação estabelecida pelo Inovar-Auto foi mal formulada”, avalia.
Desde 2012, importadores sem fabricação local podem vender até 4,8 mil unidades sem majoração de 30 pontos percentuais do IPI. Gandini revela que já conversou com o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Armando Braga, sobre o tema, e que ele “está ciente” de que esta cota é equivocada.
“Estamos pleiteando que o governo revise a cota e retorne à fórmula proposta inicialmente, da média de vendas dos últimos três anos. Acredito que a mudança vai eventualmente acontecer”, explica.
Gandini pontua que o governo poderia levar em conta outros fatores no cálculo da cota, como frota circulante e número de concessionárias. “Não podemos ter a mesma cota que uma marca que possui apenas uma concessionária”.
Ele destaca que, apesar do cenário pessimista para 2016, a Kia considera o Brasil muito importante. “A marca continuará no País”. (DCI/Juliana Estigarríbia)