Volkswagen faz maior recall da Índia para remover dispositivos de fraude

Folha de S. Paulo/Financial Times

 

A Volkswagen anunciou o recall de 324 mil carros na Índia para a remoção de dispositivos vinculados ao escândalo de emissão de poluentes que afetou seus modelos em outros países, o que representa o maior recall na história automobilística do país e mais um revés para a montadora de automóveis alemã, que enfrenta grave crise.

 

A decisão, que a Volkswagen descreveu como voluntária na terça­feira (1º), é o mais recente abalo relacionado ao escândalo que vem afetando o grupo em todo o mundo, depois que este admitiu ter manipulado testes de emissões nos Estados Unidos, gerando investigações pelas autoridades regulatórias de numerosos países.

 

Na semana passada, a Coreia do Sul multou a montadora em US$ 12 milhões por adulterar os testes, e ordenou um recall de mais de 125 mil veículos equipados com motores diesel.

 

Na Índia, onde as regras sobre emissões de poluentes são em geral menos severas do que nas economias avançadas, a Volkswagen não foi considerada culpada de quaisquer irregularidades em testes, associadas ao escândalo mais amplo.

 

Mas a segunda maior produtora mundial de automóveis por volume concordou em ordenar o recall a fim de remover os chamados “dispositivos manipuladores”, usados para contornar os padrões ambientais em outros países. Eles poderiam em tese ter sido usados também na Índia.

 

O recall da Volkswagen é por larga margem o maior já ordenado na Índia, ultrapassando os 220 mil carros cujo recall a Honda determinou em setembro para corrigir um problema nos airbags.

 

A companhia alemã anunciou que provavelmente recolheria 198,5 mil carros da marca Volkswagen, 88,7 mil carros Skoda e 36,5 mil Audis, todos os quais equipados com variantes do mesmo tipo de motor diesel.

 

A empresa negou qualquer irregularidade, mas o processo ainda assim deve solapar seus esforços titubeantes para recuperar terreno em um mercado que muitas projeções sugerem se tornará o terceiro maior do mundo, atrás de China e Estados Unidos, pelo final desta década.

 

A Volkswagen cresceu fortemente na China, se tornando a maior montadora de automóveis do país por volume. Mas seu histórico na Índia é pálido, com modelos que em geral custam caro demais para os consumidores do país e uma participação de mercado que caiu a apenas 2% no ano passado.

 

A montadora afirmou que mantinha “comprometimento pleno com o mercado indiano” e que “todas as marcas do grupo Volkswagen na Índia trabalharão vigorosamente para reconquistar a confiança e respeito dos consumidores”.

 

Problemas e soluções

 

A companhia tem problemas com mais de 12 milhões de carros em todo o mundo, depois de se ver envolvida em três escândalos diferentes por emissão de poluentes: dois envolvendo dispositivos manipuladores em motores diesel e o terceiro relacionado aos níveis de dióxido de carbono emitidos por carros de suas marcas vendidos na Europa.

 

O maior deles está nos Estados Unidos, cujos padrões de emissões são mais severos, e os investidores estão preparados para bilhões de dólares em multas.

 

Os esforços hesitantes de comunicação da Volkswagen também foram severamente criticados por analistas e especialistas, especialmente depois de ela ter inicialmente negado, para em seguida admitir, que havia um segundo dispositivo manipulador em 85 mil motores Audi.

 

O conselho da Audi se reunirá esta semana para discutir o escândalo, e cresce a pressão sobre Rupert Stadler, seu presidenteexecutivo e confidente muito próximo dos acionistas familiares que controlam a Volkswagen.

 

A montadora alemã revelou na semana passada que havia desenvolvido soluções para 90% dos carros afetados na Europa, e que os reparos necessários envolvem apenas mudanças de software e, em um caso, a instalação de um filtro de ar de valor estimado em 10 euros pela imprensa local. (Folha de S. Paulo/Financial Times/ Richard Milne, com tradução de Paulo Migliacci)