Produção de vidro pode cair 5% com demanda menor por imóveis e carros

DCI

 

A indústria nacional de vidro pode registrar uma retração de até 5% neste ano, pressionada principalmente pela queda na demanda dos setores automotivo e de construção civil, mas ainda apoiada pelo segmento de embalagens.

 

De acordo com o superintendente da Associação Técnica Brasileira das Indústrias Automáticas de Vidro (Abividro), Lucien Belmonte, por estar inserido em uma gama muito dispersa de produtos, o mercado vidreiro costuma seguir as variações do Produto Interno Bruto (PIB). Neste ano, entretanto, a crise nas fabricantes de automóveis e a queda da procura por imóveis deve fazer com que o desempenho do setor se distancie do crescimento do País.

 

Embora não existam estimativas oficiais, o executivo afirma que a percepção nas empresas aponta para uma queda de 30% tanto no fornecimento para veículos como para construtoras. O que pode segurar um pouco a contração, diz ele, é a desaceleração menos contundente da demanda por alimentos, bebidas e bens não duráveis.

 

Segundo dados da Associação Brasileira de Embalagem (Abre), a indústria de recipientes de vidro foi a que apresentou a menor queda na produção do primeiro semestre ante o mesmo período do ano passado. Enquanto a média do setor apontava para uma retração de 2,59% entre os seis primeiros meses de 2014 e de 2015, a fabricação de produtos com vidro caíram 0,41% na mesma base.

 

A diretora executiva da entidade, Luciana Pellegrino, afirma que o desenvolvimento dos próprios mercados nos quais a embalagem de vidro se insere estaria impulsionando o segmento. Ela cita o crescimento da indústria nacional de vinhos, com a profissionalização das vinícolas, e a procura cada vez mais intensa por alimentos prontos como duas tendências que estimulam o setor.

 

Outro aspecto positivo é a percepção do vidro como material que agrega valor e garante aos produtos uma referência de qualidade, diz a executiva. Até mesmo a natureza reutilizável dos copos, de certa forma, faz com que algumas empresas prefiram este insumo para suas mercadorias.

 

“Esse resultado pode estar atrelado também a um atraso na resposta dessa indústria ao ambiente econômico”, avalia Luciana. “No primeiro trimestre, tivemos um crescimento que pode ter sido causado por uma reposição dos estoques após as festas do final de ano. Mas entre abril e junho, esse movimento já foi resolvido e percebemos uma variação muito mais alinhada com a média do setor”, diz. “Pode ser que esse cenário não dure no resto do ano”, acrescenta.

 

Belmonte, da Abividro, destaca que a indústria vidreira sofre com os custos crescentes de energia e mão de obra, o que tem impedido o desenvolvimento desse mercado. Mesmo os gastos com matéria-prima têm aumentado com a valorização do dólar, aponta o executivo. Como o Brasil não produz a barrilha necessária à transformação da areia, o material é todo importado.

 

Para o longo prazo, ele trabalha com uma perspectiva de estabilização do setor, a partir do crescimento da economia, mas diz não ver a possibilidade de entrada de novos empreendedores na área. “Já fomos a plataforma que atendeu todo o mercado da América do Sul, mas nós fizemos questão de matar nossa indústria”, critica.

 

Investimentos

 

Apesar do cenário atual desanimador, a Verallia, subsidiária do grupo Saint-Gobain, decidiu apostar no potencial brasileiro e investir R$ 250 milhões em uma nova fábrica.

 

“Esperamos não apenas fortalecer nossa presença como um dos líderes deste setor no País como, também, contribuir com o desenvolvimento econômico e social da região”, afirma em nota o presidente da Saint-Gobain no Brasil, Argentina e Chile, Benoit d’Iribarne. A empresa deve dar início, no final do ano, à produção da sua nova unidade, localizada na cidade de Estância, no Sergipe.

 

O centro será responsável pela fabricação de linhas de produtos de garrafas e potes para os mercados de bebidas e alimentos que utilizam intensamente o vidro como material de suas embalagens. Segundo a empresa, uma atenção especial será dada a produtos especificamente utilizados por potenciais clientes da região. (DCI/Thiago Moreno)