Indústria de autos gerou só 4.914 vagas de 2007 até 2013

Diário do Grande ABC

 

A participação da indústria automotiva na geração de empregos no Grande ABC vem diminuindo entre o início do segundo mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a primeira gestão da também petista Dilma Rousseff. Carro-chefe da economia regional, o setor criou 4.914 vagas de 2007 a 2013, o equivalente a apenas 3,68% do total de postos abertos no período – 133,4 mil.

 

Levantamento feito pelo Diário com base em estatísticas da Rais (Relação Anual de Informações Sociais), do Ministério do Trabalho e Emprego, mostra que, do total de 833,3 mil pessoas empregadas com carteira assinada na região em 2013, 83,7 mil atuavam na cadeia automotiva, o que corresponde a 10% do total. Em 2007, os funcionários das montadoras e das fábricas de autopeças representavam 11,3% de todos os postos formais no Grande ABC. O ano inicial da comparação é 2007 porque, antes disso, a Pasta utilizava outra metodologia de pesquisa. O último ano disponível para consulta é 2013.

 

Considerando as áreas de fabricação de motores, máquinas, automóveis, utilitários, caminhões, ônibus, cabines, carrocerias e peças, o número de trabalhadores, mesmo assim, subiu 6,23% de 2007 a 2013. Durante o segundo mandato de Lula (2007 a 2010), o aumento foi superior, de 8,79%. Entre 2011 e 2013, já no governo Dilma, porém, o estoque de pessoas empregadas no setor caiu 5,76%.

 

Os números são ainda mais alarmantes se comparados com o desempenho da geração de total de vagas na região: alta de 19,07% de 2007 a 2013; crescimento de 14,07% durante o segundo mandato de Lula; e inexpressiva evolução de 2,89% nos três primeiros anos da gestão Dilma.

 

Especialistas ouvidos pelo Diário avaliam que os dados ainda não refletem a atual retração econômica que atinge o País. Entretanto, os indicadores mostram que o desempenho da indústria brasileira – e, consequentemente do Grande ABC, – já começava a dar sinais de desaquecimento. “Não tem ligação com a crise, mas com o decréscimo da política de estímulo ao consumo, que sofreu esgotamento com o passar dos anos”, explica o professor Leandro Prearo, coordenador do Instituto de Pesquisas da USCS (Universidade Municipal de São Caetano). Entre os fatores que inibiram a compra de veículos ao longo desse período estão os aumentos gradativos nas alíquotas do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) e a maior restrição do crédito por parte das instituições financeiras.

 

Já o professor Ricardo Balistiero, coordenador do curso de Administração do Instituto Mauá de Tecnologia, acrescenta que a concorrência internacional também foi decisiva para o fraco desempenho na geração de empregos pela cadeia automotiva regional. “A hipótese mais provável é a de que muitas empresas deixaram de produzir no Brasil para comprar peças importadas. Tem caso de empresas que fabricavam aqui mas encerraram a produção e passaram a ser representantes comerciais de fábricas estrangeiras.”

 

Apesar de os dados da Rais não estarem disponíveis para 2015, a situação neste ano é crítica. Entre janeiro e agosto, foram fechados 2.500 postos de trabalho nas montadoras do Grande ABC. O quadro é mais preocupante considerando os efeitos secundários. “Para cada demitido na montadora, outros quatro são mandados embora”, diz Sérgio Nobre, ex-diretor do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.

 

No País, número de postos abertos no setor subiu 21,4%

 

Enquanto a cadeia produtiva no Grande ABC expandiu o número de postos de trabalho em 6,23% de 2007 a 2013, em todo o Brasil o setor aumentou a quantidade de empregos em 21,41%, passando de 590,6 mil para 717 mil pessoas.

 

Para o professor Leandro Prearo, coordenador do Instituto de Pesquisas da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), a região foi afetada pelo aumento na concorrência interna, ou seja, de novas empresas que se instalaram em outras cidades ou outros Estados do País. “São fábricas mais modernas, especialmente as japonesas e coreanas, que entraram com grande força no mercado brasileiro.” Com isso, autopeças do Grande ABC podem ter migrado para outros locais a fim de obter melhor lucratividade.

 

Entre os fatores que provocaram o êxodo, Prearo diz que as indústrias optam por “áreas onde a pressão sindical é menor, sendo possível pagar salários menores”. (Diário do Grande ABC/Fábio Munhoz)