O ingrato papel da indústria automobilística

O Estado de S. Paulo

 

Ao divulgar os resultados da produção de veículos em julho, o presidente da associação das montadoras (Anfavea), Luiz Moan, enfatizou que o setor “está puxando a economia para baixo”. De fato, quase todos os dados disponíveis apontam para uma queda da produção e das vendas igual ou superior a 20%, neste ano, comparativamente a 2014.

 

Isso afeta não apenas as montadoras, mas uma extensa cadeia de produção, das indústrias extrativas às siderúrgicas, de fornecedores de plásticos e pneus a todo o conjunto manufatureiro de autopeças, chegando à rede de distribuição e às instituições financeiras, cujo estoque de empréstimos para aquisição de veículos cedeu 7,3% em 12 meses, até junho.

 

Em julho, a produção de 215,1 mil veículos superou em 182,7 mil a de junho, mas caiu 14,9% em relação a julho de 2014 e, comparando os primeiros sete meses de 2014 e de 2015, diminuiu de 1,82 milhão de unidades para 1,49 milhão. Nessa base de comparação foram produzidos 330 mil veículos a menos e, nos últimos 12 meses, a queda foi de quase 500 mil unidades. Cabe notar que o número de veículos montados já havia caído 568 mil entre 2013 e 2014.

 

No bimestre maio/junho, a reação das exportações de veículos parecia tornar melhor o cenário para a produção, mas as vendas externas voltaram a cair em julho (­US$ 258 milhões, ou 25,7% em relação a junho). Em 12 meses, a queda foi de 10% ou US$ 700 milhões.

 

Mas a conta mais elevada da diminuição da produção e das vendas recai sobre os trabalhadores. Apenas em julho, as demissões foram de 1.172 pessoas, atingindo 8,8 mil neste ano e 13,3 mil nos últimos 12 meses, quando a queda correspondeu a 9,7% da mão de obra empregada pelas montadoras. Se a esses números forem acrescentados os cortes de pessoal nos fornecedores e nas revendedoras, pode­se imaginar a gravidade da situação, num momento em que todo o mercado de trabalho enfrenta fortes dificuldades.

 

Enquanto as vendas de veículos nacionais declinaram, observou­se pequena reação no setor de importados, entre junho e julho. Mas, salvo nos casos de acordos comerciais, é provável que as importações sejam mais afetadas pela desvalorização do real.

 

Houve ainda, nos últimos 12 meses, um descompasso entre a produção e as vendas – que caíram 21%, quase 3 pontos porcentuais a mais do que a produção. Conforme a repercussão nos estoques, será um fator a mais de preocupação. (O Estado de S. Paulo)