O Estado de S. Paulo
A MercedesBenz vai interromper toda a produção de caminhões e ônibus na fábrica de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, pela segunda vez num prazo de 20 dias. A montadora anunciou ontem que dará licença remunerada aos 7 mil trabalhadores da produção entre os dias 7 e 21. Esse mesmo grupo de funcionários retornou de férias coletivas de 20 dias na semana passada. A empresa informou ainda que deverá promover demissões a partir de 1º de setembro.
A montadora alega ter 2 mil trabalhadores excedentes, de um total de 10 mil (250 deles já estão em layoff). Sem detalhar números, afirmou que “está em estudo um ajuste no nosso quadro de colaboradores horistas e mensalistas”. A Mercedes está com um programa de demissão voluntária (PDV) aberto desde o dia 14, com encerramento previsto para daqui duas semanas. Segundo fontes, a adesão, por enquanto, é baixa.
No início do mês, a empresa propôs aos trabalhadores a redução da jornada de trabalho em 20% e dos salários em 10%, por período de um ano. Em troca, oferecia estabilidade no emprego nesse período. A proposta, contudo, foi rejeitada por 74% dos funcionários.
Em razão da recusa, a empresa não tem planos de aderir ao Programa de Proteção ao Emprego (PPE), anunciado recentemente pelo governo e que prevê a redução da jornada e dos salários em até 30%, mas 15% dos salários são bancados pelo Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). “O PPE já foi rejeitado por nossos trabalhadores”, diz o diretor de Comunicação e Relações Institucionais da Mercedes, Luiz Carlos Moraes. Segundo ele, a proposta da empresa seria adaptada ao PPE após sua oficialização.
O diretor do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e secretáriogeral da CUT, Sérgio Nobre, disse que a entidade vai tentar negociar com a empresa uma alternativa aos cortes. “Reconhecemos o problema de queda na produção, mas precisamos encontrar formas para fazer a travessia até que o mercado volte a melhorar”, diz ele, que é funcionário da Mercedes.
Nobre admite, contudo, que a rejeição da proposta que havia sido negociada entre a empresa e o sindicato, da redução de jornada e salários, “deixa a margem de negociação estreita”. A entidade pretende procurar a direção da empresa a partir de segundafeira.
A Mercedes alega que vem adotando, há mais de um ano, medidas como layoff, PDV, férias coletivas, licença remunerada e semana reduzida de trabalho. Afirma que, diante da manutenção da forte queda nas vendas de veículos comerciais, e sem outras alternativas no momento para gerenciar o excedente de pessoal, decidiu novamente interromper a produção.
No primeiro semestre, as vendas de caminhões da marca caíram 42,8% em relação ao mesmo período de 2014, para 9,5 mil unidades. As vendas de ônibus recuaram 14,2%, para 4,8 mil unidades. Em julho, o mercado de veículos comerciais seguiu em queda.
Em um ano, a indústria automobilística demitiu 14,5 mil trabalhadores, dos quais 7,6 mil nos últimos seis meses. Atualmente há quase 7 mil trabalhadores em layoff (contratos suspensos por até cinco meses).
A General Motors ainda não definiu o que fará com o grupo de 778 funcionários da fábrica de São José dos Campos (SP), que está em layoff, com retorno previsto para o dia 10. A empresa já manifestou interesse em aderir ao PPE, mas não oficializou a medida.
Em São Bernardo do Campo, pelo menos três empresas de autopeças estão perto de fechar acordo de adesão.
Contratações
Em meio aos anúncios de cortes de produção, na quintafeira a Toyota anunciou que vai contratar 500 trabalhadores para suas fábricas de São Paulo.
Para a fábrica de Sorocaba irão 320 novos funcionários. Ela produz o compacto Etios e terá a capacidade ampliada de 74 mil para 108 mil unidades ao ano. A filial de Porto Feliz, que fará motores, será inaugurada no primeiro semestre de 2016 e os 180 funcionários que serão contratados agora vão passar por treinamentos nesse período. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silve)