Mercedes-Benz reúne 20 anos de evolução em conectividade

Frota & Cia 

 

Na Mercedes-Benz os estudos para implantação da conectividade começaram a cerca de 20 anos e ganharam força com a evolução do painel digital e a introdução da telemetria e da IA.

 

“Foi um progresso inevitável, que contou com a utilização do propulsor BR900”, lembra Marcos Andrade, gerente de tecnologia da Mercedes-Benz do Brasil. A efetividade da conectividade na marca chegou mesmo com as primeiras aplicações do Fleetboard no país, em 2010.

 

Daí a aplicação básica de rastreamento chegou à gestão eletrônica. O rastreamento foi absoluto por um tempo devido ao ápice do roubo de cargas e de caminhões na primeira década do século 21.

 

Com a evolução dos celulares também foi possível “tirar” muito mais informações digitais do caminhão. Um novo degrau tecnológico foi alcançado na Mercedes-Benz com o lançamento em 2019 do Novo Actros e seu painel totalmente digital.

 

Dados em nuvem

 

No caminhão as informações passaram a ser armazenadas e iam para a nuvem a cada 5 minutos, numa taxa de frequência que ampliava em muito a confiabilidade do sistema. Dados eram coletados em áreas de “sombra” e recuperadas logo a seguir, diminuindo possíveis faltas de registro nessas regiões, bastante comuns no Brasil.

 

“Nos últimos cinco anos a evolução da conectividade realmente foi muito grande – lembra Andrade -, a integração do banco de informações e a interação destas com as possibilidades abertas com a IA elevou a previsibilidade a um tal nível, que hoje permite estudos até sobre ruídos.”

 

Os sensores começaram a monitorar inúmeras funções de apoio à gestão e segurança no processamento das operações, municiando os transportadores com dezenas de informações processadas de olho na economia operacional e na rentabilização dos negócios das empresas.

 

Andrade recorda que o acompanhamento do comportamento dos motoristas logo levou à instalação de câmeras. “Os olhos do caminhão” passaram a ser uma importante base de informação, desde as condições físicas do motorista (possibilidades de sonolência, alcoolismo etc.) e seu comportamento (carona, paradas inadequadas, desvios e outras mais graves).

 

As câmeras contribuem até na economia de combustível e, também, substituindo os volumosos retrovisores, única possibilidade de visualização dos motoristas até tempos atrás e que os deixavam expostos a vários e perigosos campos cegos.

 

Manutenção preventiva

 

Hoje as possibilidades chegam a quase três dígitos. Fazendo da conectividade um mestre volante para empresários e motoristas, não deixando passar nada no esquecimento. A começar pela manutenção preventiva, que já não depende das prosaicas anotações em planilhas. A elevação do nível de segurança avançou com o sistema ABA, um auxiliar de frenagem, os sensores e controladores de aceleração lateral e muito mais.

 

“O nosso objetivo é possibilitar um aumento de eficiência geral de 15%”, diz Andrade. Isso inclui coisas antes muito complexas de medir, como o monitoramento de temperatura e desgaste dos pneus em qualquer posição.

 

A qualidade maior é o suporte que o sistema dá ao motorista. Graças aos sensores e gerenciamento de IA o banco de dados permite dar notas aos condutores, saber se ele exagera nas freadas bruscas, no excesso de velocidade e otras cositas más.

 

O armazenamento de dados de rotas com vários caminhões do mesmo tipo permite o aprimoramento da direção em trechos específicos e permitindo baixar o consumo de combustível de uma frota.

 

O número de possibilidades cresce cada vez mais com o aumento da capacidade de transmissão de dados. Hoje os sistemas mais modernos usam o OTA (Over the air), enquanto um de seus desdobramentos, o FOTA (Fix over the air) é de alto nível

 

Este permite corrigir uma falha através da transmissão de dados e atualização do caminhão. Uma espécie de telemetria de F1.

 

Hoje, Marcos Andrade calcula que um caminhão pesado pode armazenar uma média de 30 Mb diários de dados. Uma quantidade que depende da utilização do caminhão e dos serviços ativos.

 

Acompanhamento online

 

Desta forma já é possível estabelecer padrões de eficiência em cada trecho, levando em conta o número de rotações do motor e o consumo de combustível. E tudo isso, com o acompanhamento online do gestor.

 

O sistema pode ainda conectar veículos de outras marcas, tanto na operação como para efeito de seleção. Nas demonstrações de veículo, o ensaio pode levar em consideração as metas demandadas pelo transportador.

 

Neste rol, ensaios com veículos com diferentes relações de diferencial podem ser comparadas para produzir melhor consumo, maior velocidade, maior capacidade de rampa e outras necessidades.

 

A tendência da conectividade para Andrade é levar o veículo à sua máxima eficiência energética e, a médio prazo, e com o concurso do 5G e sua capacidade de transmissão por milissegundos habilitar os caminhões a novos níveis.

 

“Com o FOTA será possível elevar a disponibilidade do veículo a praticamente 100%”, vaticina Andrade. O número de possibilidades aumentará para escala de centenas e o caminhão quase não parará em uma concessionária.

 

E, como acontece na Fórmula 1, o caminhão terá seus motores eletrônicos atualizado durante o movimento, as viagens. Com a otimização dos sensores e câmeras e algoritmos cada vez mais espertos combinando com predicados da IA a produtividade dos veículos chegará ao máximo.

 

Um dia no futuro

 

Marcos Andrade lembra, ainda, que o ensaio para o futuro com o FOTA está mais perto da Europa, Estados Unidos e Japão e ainda tem muito a evoluir. “É um sistema que será extremamente útil para os veículos autônomos”, relata o exedutivo. Neste caso o Brasil ainda terá sérios problemas com infraestrutura. “O progresso do país rumo ao caminhão autônomo ainda é distante, se resumindo por enquanto em operações inbound (internas)”, lamenta o executivo. “Se tivéssemos uma rede de rodovias como a dos Bandeirantes (autopista paulista) com esse sistema teríamos uma gestão supereficiente, pois os caminhões poderiam rodar à noite, sem os temores que hoje têm os frotistas”. (Frota & Cia/Pedro Bartholomeu)