Associação reforça compromisso com descarbonização

O Estado de S. Paulo/Mobilidade

 

A descarbonização da indústria automotiva nacional é uma missão que está exigindo a participação de todas as partes atuantes no setor, como fabricantes, segmento de autopeças, governo, instituições independentes e academia. Para fazer frente à crise climática que avança ano a ano, o Acordo de Paris, de 2015, estabeleceu o empenho dos países para o aumento da temperatura global de, no máximo, 1,5oo C até 2030, para conter as emissões de gases de efeito estufa (GEE) e seus impactos.

 

Signatário do acordo, o Brasil ratificou seu posicionamento em 2016, com o compromisso de diminuir as emissões em 37% até 2025 e em 43% até 2030. Mas na 29ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, realizada no Azerbaijão, em novembro de 2024, o País decidiu ampliar, de forma voluntária, a redução de GEE entre 59% e 67% até 2035, com o envolvimento de todos os setores da economia.

 

“Estamos 100% inseridos no processo de descarbonização e precisamos discutir o assunto incessantemente”, afirma Everton Lopes, vice-presidente da Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA). “Essa meta passa necessariamente pela transição energética da frota brasileira.”

 

Desde sua fundação, em 1984, a AEA busca dar subsídios às discussões que tratam da expansão da mobilidade brasileira. Com 80 entidades associadas, ela mantém 45 comissões técnicas que compõem um amplo leque de pautas para contribuir na criação de regulamentações na área automotiva.

 

Programas

 

Por apoiar programas industriais de baixo carbono e colocar à disposição toda sua expertise técnica, a AEA divulgou, em dezembro do ano passado, o “Manifesto em Defesa da Descarbonização”, tema no radar permanente da associação. “Estamos falando a respeito da importância de reduzir as emissões de dióxido de carbono (CO2) e de melhorar a eficiência energética há mais de uma década”, diz Lopes. “O manifesto é uma demonstração de que desejamos dar ao governo federal o suporte adequado para debater novas rotas tecnológicas.”

 

A AEA sentou-se à mesa de negociação de programas cruciais para o desenvolvimento do setor automotivo. O primeiro foi o Inovar-Auto, de 2013, que incentivou a inovação tecnológica e o adensamento da cadeia produtiva. A iniciativa ajudou a aumentar a eficiência energética e levou à redução de 15% do consumo de combustíveis. Depois veio o Rota 2030, que derrubou a queima de combustíveis em mais 11%.

 

“Desde 2024, o setor é regido pelo Programa Nacional de Mobilidade Verde e Inovação (Mover), que amplia a regulamentação rumo à neutralidade de carbono, seja qual for a trilha tecnológica adotada: combustão, híbrida, elétrica, gás e hidrogênio”, explica. Lopes conta que o Mover aplica o conceito “Do berço ao túmulo”, ou seja, a conta da pegada de carbono a partir dos processos industriais até a fase da reciclagem veicular.

 

Para o executivo, o InovarAuto e o Rota 2030 foram fundamentais no avanço da descarbonização. Os estudos da AEA apontam que de 2012 a 2016 os veículos despejaram na atmosfera 156 gCO2/km (gramas de dióxido de carbono por quilômetro rodado). De 2017 a 2021, esse número caiu para 136 gCO2/km. Em 2022 e 2023, a emissão despencou para 121 gCO2/km. As 17 milhões de toneladas de CO2 evitadas equivalem a um milhão de campos de futebol de mata nativa e 330 milhões de árvores plantadas. “Algumas empresas dedicamse mais às avaliações dos veículos híbridos, outras preferem centrar atenção nos biocombustíveis ou células de combustível. O que notamos é o avanço do sistema híbrido flex para ajudar na descarbonização”, diz Lopes. “O Brasil é privilegiado em fontes renováveis de energia e tem o domínio de tecnologias automotivas, baseadas em biomassa.”

 

Lopes destaca a importância da transição energética dos ônibus de transporte público, vital para melhorar a qualidade do ar nas metrópoles. E avalia que parte do mercado tenta retardar a disseminação da eletrificação. “Mas ela seguirá adiante”, acredita.

 

Para reforçar seu argumento, ele lembra que todas as fabricantes em atividade no Brasil possuem plataformas para produzir automóveis elétricos em seus países de origem. “Quando as vendas dos modelos movidos a bateria estiverem mais fortes, elas não hesitarão em importar mais modelos ou fabricá-los aqui”, salienta.

 

Em 2025, a AEA continuará promovendo os estudos entre as comissões técnicas para gerar novas proposições de descarbonização, sempre encaminhadas ao governo. Para o executivo, o cenário da coexistência das tecnologias de propulsão está bem definido. “Os veículos elétricos serão vistos mais nos grandes centros urbanos, os híbridos farão, preferencialmente, os deslocamentos entre cidades e o biocombustível terá lugar no transporte de caminhões, para escoar os bens de produção no modal rodoviário”, completa. (O Estado de S. Paulo/Mobilidade/Mário Sérgio Venditti)