Fórmula E antecipa soluções dos novos elétricos da Jaguar

Jornal do Carro

 

A Jaguar é uma das marcas mais bem-sucedidas na Fórmula E, categoria internacional disputada por monopostos elétricos. Em 112 corridas, foram 17 vitórias, 47 presenças no pódio e 11 pole positions, além do título de campeã de equipes em 2024. No próximo sábado, 11, na Cidade do México, ocorrerá a próxima etapa da categoria.

 

Mais do que celebrar o desempenho esportivo, os bons resultados motivam a montadora – que faz parte do grupo JLR (Jaguar Land Rover) – a continuar investindo nas pesquisas destinadas às pistas, que rendem soluções valiosas implantadas nos carros elétricos de rua. Ainda mais nesse momento em que a JLR prepara a transição para ter apenas automóveis com esse tipo de propulsão até 2036.

 

Na entrevista a seguir, João Henrique Garbin de Oliveira, presidente da JRL para América Latina e Caribe, fala sobre como a categoria, que envolve a disputa de 11 equipes, contribui para a aceleração da eletrificação dos veículos da marca.

 

A Jaguar vem colecionando números expressivos na Fórmula E. Como isso se reflete nos automóveis elétricos da marca?

A resposta esportiva é muito importante para acelerar o desenvolvimento dos carros elétricos da Jaguar. É claro que ao investir milhões na categoria, a fabricante deseja tirar proveito dos avanços tecnológicos alcançados em seus veículos nas pistas e transferir esse conhecimento para as ruas. A Fórmula 1 já fez muito esse papel e agora a Fórmula E segue o mesmo caminho. A Jaguar se prepara para se tornar uma marca 100% elétrica, assim como a Fórmula E. Já existem dispositivos extraídos da Fórmula E para os automóveis de passeio? Sim. Um exemplo é o aprimoramento do inversor de frequência, que tira a energia da bateria e a transfere para os motores. Com melhoras ao longo dos anos, o inversor proporciona mais economia de energia, controla melhor velocidade e torque e traz maior proteção aos motores elétricos. A categoria também contribuiu em itens como a gestão de recarga e o aumento da autonomia da bateria.

 

Na última etapa de Fórmula E, disputada em São Paulo, em dezembro de 2024, o chefe da equipe Nissan, Tommaso Volpe, disse que o aumento de autonomia da bateria é a razão principal para a montadora investir na categoria. A Jaguar pensa da mesma maneira?

O estudo de novas tecnologias em geral é o motivo dos investimentos. Mas sabemos que a principal dor do proprietário de um veículo elétrico é a infraestrutura de recarga. Por isso, testamos e aprimoramos a recarga ultrarrápida nos carros de competição de 600 kW para, em seguida, viabilizar essas evoluções nos modelos elétricos. E o carro de geração 4, previsto para estrear em 2026, dará um salto em capacidade de recarga.

 

As tecnologias estão em desenvolvimento na Fórmula E, mas a implantação na indústria automotiva depende do interesse e da pressa das montadoras. Como a JLR se situa nesse contexto?

O nosso interesse em agilizar a eletrificação é pleno, porque a JLR vive um momento de mudanças. Todos os carros da Jaguar terão propulsão elétrica a partir de 2025 e a empresa promoverá a descarbonização integral em suas operações até 2039, inclusive na cadeia de fornecedores. Em novembro passado, a Jaguar anunciou o rebranding da marca e, no mês seguinte, revelou o carro conceito elétrico Type 00. O Type 01, com autonomia de 700 quilômetros, também está em testes na Europa. Queremos ser uma marca de luxo moderno, para as pessoas ligadas ao mundo da tecnologia e da arte. E a Fórmula E tem papel de destaque para nos ajudar a efetivar essa transição, embora seja uma transformação difícil e gradual porque nossos produtos são reconhecidamente de nicho.

 

A Fórmula E, além de laboratório para novas tecnologias, ajuda a indústria automotiva em algum outro aspecto?

Ela passa a mensagem de que um superesportivo, de 1.000 cv de potência, por exemplo, também pode ter motor elétrico. É possível unir os dois mundos. Até 2040, haverá grande repercussão no universo automotivo com o advento do carro movido a bateria. Esse cenário ganhará relevância sob o ponto de vista do desenvolvimento e, nesse aspecto, a categoria entra para dar sua contribuição.

 

A Jaguar, como fabricante de automóveis, participa das decisões da equipe de Fórmula E?

Sem dúvida. Veja o caso da telemetria, que é decisiva na Fórmula E. Os engenheiros da Jaguar trabalham nos boxes com o apoio de uma equipe remota. Eles fazem o download das informações obtidas nas pistas e as enviam para o nosso QG, que recebe os dados e faz uma análise de tudo para tomar decisões em curto espaço de tempo. Nesse trabalho tem sido fundamental a atuação da brasileira Laís Campelo, engenheira de software e dados da Jaguar TCS Racing. A função dela é desenvolver aplicações de softwares que facilitam a vida dos demais engenheiros da empresa. Dessa forma, economiza-se tempo e eles conseguem pensar em soluções mais amplas para os problemas que aparecem no dia a dia da equipe.

 

Como é o entrosamento entre os times da Fórmula E e da montadora?

O entendimento é total, até porque todo o time pertence a alguma unidade da montadora, ou seja, os integrantes da equipe de corrida exercem funções dentro da Jaguar. Os engenheiros da área de pesquisa e desenvolvimento, por exemplo, são responsáveis pelas análises do carro. A Fórmula E motiva o time, cria um ambiente positivo em um quadro muito bem estruturado e o sucesso esportivo se estende na divisão de automóveis de passeio.

 

Com todos os carros sendo elétricos até 2036, a JLR descarta a introdução de outras tecnologias de baixa emissão?

A companhia jamais fecha as portas para outros tipos de combustível. Escolhemos uma vertente, mas estamos sempre atentos nas demais rotas tecnológicas. Para se ter ideia, temos um Defender movido a hidrogênio em avaliação na Inglaterra. Não se trata de um projeto para produzir um automóvel com esse tipo de propulsão no futuro, porém, queremos entender como essa tecnologia funciona e agregar conhecimento para nosso trabalho. (Jornal do Carro/Mário Sérgio Venditti)