Mesmo com intervenções do BC, dólar sobre 1% e bate novo recorde

O Estado de S. Paulo

 

O dólar bateu mais um recorde desde a criação do real. Novas críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Banco Central e a piora das perspectivas do Tesouro para a dívida do governo fizeram com que a moeda americana fechasse o dia a R$ 6,09, alta de 1,03%, mesmo com o BC realizando dois leilões de dólares à vista com compromisso de recompra. Essas operações somaram US$ 4,62 bilhões (R$ 28,2 bilhões). Foi o terceiro dia útil seguido com leilões de dólares. De acordo com analistas, além da procura por moeda para remessas de empresas ao exterior, há uma demanda por proteção cambial que reflete o aumento da percepção de risco fiscal do País. As medidas de contenção de gastos do governo são consideradas insuficientes e podem ser esvaziadas no Congresso, que tem pouco tempo para aprová-las ainda neste ano. O Ibovespa teve a terceira queda seguida, com recuo de 0,84%, aos 123.560 pontos, menor nível desde junho.

 

Novas críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Banco Central e a piora das perspectivas do Tesouro para a dívida do governo se somaram ontem a um cenário já nada bom e fizeram o dólar bater um novo recorde histórico desde a criação do real. Mesmo com duas intervenções do BC durante as operações, a moeda americana fechou o primeiro dia da semana cotada a R$ 6,09, com alta de 1,03% em relação a sexta-feira. Foi a terceira valorização consecutiva do dólar, que segue indiferente às ações da autoridade monetária para tentar conter a desvalorização do real.

 

Segundo analistas, além da procura por dólares para remessas de empresas ao exterior, há uma demanda por proteção cambial que reflete o aumento da percepção de risco fiscal do País.

 

A demora na apreciação das medidas de cortes de gastos pelo Congresso, em uma janela cada vez menor de prazo, e as pressões para que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, entre em campo para evitar desidratação do pacote são parte importante desse cenário desfavorável à moeda brasileira.

 

Além de serem consideradas insuficientes, as medidas de contenção de gastos do governo podem ser diluídas no Congresso, que tem prazo exíguo para aprová-las ainda neste ano. O recesso parlamentar começa no dia 23 e vai até 1.º de fevereiro de 2025.

 

“O dólar segue em tendência de alta, que está muito ligada à questão do risco, com as incertezas fiscais e a piora nas estimativas de inflação. Isso afasta investimentos do País. Mesmo com o BC atuando, o real continuou a se depreciar”, diz a economista-chefe do Ouribank, Cristiane Quartaroli, lembrando que há ainda um clima de cautela à espera da decisão do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) sobre o rumo dos juros nos EUA.

 

Pela manhã, o BC realizou dois leilões de dólares à vista com compromisso de recompra, em operações que somaram US$ 4,62 bilhões (R$ 28,2 bilhões). Foi o terceiro dia útil seguido com leilões de dólares desde a quarta-feira da semana passada, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) apertou o passo e aumentou a taxa básica de juro (Selic) em um ponto porcentual, para 12,25%, sinalizando mais duas outras altas de mesma magnitude. O choque nos juros é uma tentativa de conter a inflação diante da desconfiança do mercado quanto à disposição do governo de equilibrar suas contas.

 

Dívida maior

 

Ainda ontem, o Tesouro Nacional divulgou relatório em que aponta a piora do grau de endividamento do governo nos próximos anos, tendo como pano de fundo a deterioração das condições resultante do novo ciclo de alta do juro e do acúmulo de resultados negativos entre as despesas e a arrecadação do governo – o chamado déficit primário. (O Estado de S. Paulo/Antonio Perez)