O Estado de S. Paulo
A relevância do Brasil como destino de investimentos entre os países emergentes vem caindo ano a ano, informam Luiz Guilherme Gerbelli e Thais Porsch. A Ásia – em especial Índia e Taiwan – tem recebido mais atenção de gestores de recursos. No último balanço do índice Morgan Stanley Capital International (MSCI) Emerging Markets, a participação do Brasil foi de 4,5%. No fim de 2009, o País chegou a responder por 16,3%. O Brasil ainda é a quinta economia com mais relevância na composição do índice. Em novembro, a China seguia na liderança com 26,99%, seguida por Índia (19,93%), Taiwan (18,88%) e Coreia do Sul (9,73%). A perda de participação brasileira foi influenciada pelo menor crescimento da China e pela incerteza com relação às contas públicas do País.
Ao longo dos últimos anos, o Brasil tem visto a sua relevância encolher entre os países emergentes como destino de investimentos internacionais. Gestores de recursos têm redirecionado sua atenção para a Ásia, em especial Índia e Taiwan.
Um termômetro que aponta para essa perda de relevância do Brasil é o índice Morgan Stanley Capital International (MSCI) Emerging Markets (mercados emergentes). No último balanço do índice, em novembro, a participação do Brasil foi de 4,5%. No auge, no fim de 2009, o País chegou a responder por 16,3%.
Composto por papéis de companhias de 24 países, o MSCI serve de referência na estratégia de alocação de recursos para investidores, gestores de ativos e tomadores de decisão financeira em todo o mundo. Na prática, a queda da representatividade no índice significa redução do potencial de receber investimentos, explica Michel Frankfurt, chefe da corretora de ações do Scotiabank.
O MSCI de mercados emergentes é construído com base no valor de mercado das empresas ajustado pela quantidade de ações disponíveis para os investidores comprarem. Os papéis de companhias de países com controle de capital, como é o caso da Argentina, não são contabilizados. Da América Latina, México, Chile, Peru e Colômbia fazem parte do índice.
Quinta posição
O Brasil ainda é a quinta economia com mais relevância na composição do índice de emergentes. No rebalanceamento de novembro, a China seguia na liderança com 26,99%, seguida por Índia (19,93%), Taiwan (18,88%) e Coreia do Sul (9,73%).
“O Brasil tem corrido o risco de ser mais ignorado pelos investidores globais. Quando (essa participação) chega próxima de 4%, se transforma num tamanho em que o investidor já começa a poder deixar (o País) de lado, não precisa prestar tanto atenção e ter times dedicados para olhar o mercado”, diz Fernando Ferreira, estrategista-chefe da XP Investimentos.
Assim como a brasileira, a economia chinesa já teve uma representatividade maior – já alcançou 40%. No início dos anos 2000, o gigante asiático chegou a crescer acima de dois dígitos por vários anos, impulsionando a atividade econômica global. Hoje, porém, tem dificuldade para entregar a meta de crescimento de 5%. “A dúvida não é se a China vai subir, mas sim o quanto ela vai cair daqui para frente. Quem está se beneficiando disso é a Índia”, afirma Michel Frankfurt.
Os dados mais recentes do Fundo Monetário Internacional (FMI) mostram que a economia indiana deve crescer 7% em 2024 e manter um ritmo de alta do Produto Interno Bruto (PIB) de 6,5% nos próximos cinco anos.
Em 2011, a relevância indiana no índice de emergentes era de aproximadamente 6%. Até 2020, sua participação não chegava a 10%. E Taiwan, outro polo de atração de capitais, se destaca pelo fortalecimento das companhias de tecnologia.
“A Índia é um grande destaque de crescimento este ano. É uma economia que tem um crescimento muito forte e robusto”, afirma Marianna da Costa, economista-chefe da Mirae Asset.
Dentro do MSCI de mercados emergentes, as ações do setor de tecnologia já respondem por quase 25% do índice. “As empresas de tecnologia performaram muito bem, e a Ásia tem empresas relevantes”, diz Ferreira. “Tem muito a ver com o que o investidor está buscando e onde está o crescimento.”
Em queda
A perda de participação brasileira foi influenciada tanto por fatores externos quanto internos.
No lado externo, o menor crescimento da China contribuiu para uma queda do patamar dos preços das commodities em relação ao pico registrado na virada da década passada. O Brasil é um grande exportador de produtos básicos, como soja, petróleo e minério de ferro. Portanto, o comportamento do valor das commodities sempre tem um impacto na Bolsa de valores brasileira e no câmbio.
“O crescimento do Brasil para o seu pico foi resultado do boom das commodities, que reforçou o avanço da Bolsa brasileira e também o câmbio nesse período”, diz José Maria da Silva, coordenador de alocação e inteligência na corretora Avenue. “A reversão desse ciclo levou à queda da Bolsa e à desvalorização cambial, que impactaram o peso do Brasil (no índice).”
“Nem todos os países enquadrados pelo Morgan Stanley como emergentes são produtores de commodities. Por exemplo, a economia indiana é muito focada na parte de serviços”, acrescenta Luiz Fernando Araújo, CEO da gestora Finacap.
Como fator interno, há uma grande incerteza com relação às contas públicas do País. E essa dúvida só cresceu depois da apresentação do pacote de contenção de gastos e do projeto de isenção do Imposto de Renda para as pessoas que ganham até R$ 5 mil. (O Estado de S. Paulo/Luiz Guilherme Gerbelli, Thais Porsch)