GWM planeja ter 60% de peças locais em seus carros elétricos

O Estado de S. Paulo

 

A montadora chinesa Great Wall Motors (GWM), que vai inaugurar sua fábrica no Brasil no primeiro semestre de 2025 – após dois anos de atraso –, estabeleceu uma meta ambiciosa para o índice de nacionalização de peças de seus modelos. Segundo o presidente da GWM International, Parker Shi, até o fim de 2026 a companhia deverá ter 60% das peças usadas nos carros produzidos no Brasil fabricadas localmente. Mas ele mesmo reconhece que não será fácil atingir o objetivo. “60% é o alvo. Não sei se posso atingir, para ser honesto. Mas preciso de uma meta agressiva para pressionar nossas equipes”, disse o executivo em visita a São Paulo.

 

A GWM corre para adaptar a antiga fábrica da Mercedes-Benz em Iracemápolis (SP) em uma planta de carros eletrificados. Na unidade, produzirá inicialmente veículos híbridos (com dois motores, um elétrico e outro a combustão). O primeiro modelo será o Haval.

 

Segundo Parker, ter fornecedores próximos à fábrica é a “chave do sucesso” para uma montadora, dados os custos de logísticos. Por isso, disse, a GWM poderá trazer para o Brasil subsidiárias que produzem autopeças. “Faz parte de um possível projeto, mais para frente.”

 

Plataforma

 

A intenção da montadora é aproveitar o tamanho do mercado brasileiro (de pouco mais de dois milhões de veículos por ano) para estabelecer aqui uma “plataforma de crescimento”, o que inclui concessionários, rede de fornecedores, mão de obra e a exportação para países vizinhos. Hoje, o Brasil já é o terceiro maior mercado da GWM no exterior, depois da Rússia e da Austrália.

 

A montadora não tem previsão de começar a produzir carros totalmente elétricos no Brasil, devido à dificuldade de esses modelos competirem aqui com os veículos abastecidos com etanol. “Um 100% elétrico não vai ter crescimento tão rápido no País. Mas um plug-in (veículo híbrido cujo motor elétrico pode receber carga pela tomada) vai funcionar bem”, disse Shi.

 

O projeto da GWM no Brasil prevê R$ 10 bilhões em investimentos até 2032. Quando o plano foi divulgado, em janeiro de 2022, a empresa anunciou que a produção começaria no primeiro semestre de 2023, e que a unidade empregaria 2 mil pessoas. No ano seguinte, contudo, adiou o início das operações para 2024 e, no começo deste ano, postergou a novamente.

 

A necessidade de mais tempo para definir as tecnologias adequadas para o mercado brasileiro estão entre os motivos para o atraso. A empresa também alterou estratégias durante esses dois anos. Inicialmente, a intenção era começar a produção no País com uma picape elétrica, que poderia competir em preço com as concorrentes movidas a diesel. A empresa, porém, mudou de ideia para apostar no Haval.

 

A meta de nacionalização de peças também foi alterada nesse período. No fim de 2023, o então presidente da empresa no Brasil e na América Latina, James Yang, afirmou ao Estadão que o objetivo era atingir 40% no médio prazo, o que permitiria a exportação de veículos para países da região que têm acordo comercial com o Brasil. Agora, o número foi ampliado para 60%.

 

Incentivos

 

Para tentar se aproximar do objetivo, executivos da GWM reuniram-se na semana passada com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, sobre incentivos a fornecedores. De acordo com Shi e com o novo presidente da GWM no Brasil e no México, Andy Zhang, discutiu-se a possibilidade de concessão de financiamento a fornecedores que se instalarem em um raio de 50 quilômetros da fábrica da empresa, sejam elas brasileiras ou estrangeiras. Tratou-se também de melhorar a infraestrutura na região para facilitar a logística. Por ora, está confirmada a instalação da fabricante chinesa de pneus LingLong em Santa Bárbara d’Oeste (a 25 km de Iracemápolis).

 

Para iniciar as operações em 2025, a GWM promete contratar cem funcionários até o fim de dezembro – hoje são 40. Outros 600 estão previstos para o primeiro semestre, de acordo com Zhang. Segundo ele, a GWM deve encerrar este ano com 28 mil carros vendidos no Brasil. Até outubro, haviam sido 23.452 veículos, ou 1,5% do total comercializado no País, de acordo com a Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores). Hoje, a GWM é a 13.ª maior montadora em vendas no País. Sua maior concorrente, a também chinesa BYD, está em 10.º lugar, com 3,74% do mercado e 58.456 carros vendidos de janeiro e outubro. (O Estado de S. Paulo/Luciana Dyniewicz)