O Estado de S. Paulo/Mobilidade
O conceito de carro por assinatura, modalidade que começou a ser praticada no Brasil a partir de 2017, nasceu da ideia de que, para certos grupos de consumidores, vale mais a pena pagar pelo uso do que pela posse do veículo. De lá para cá, o serviço tem crescido, especialmente durante a pandemia de covid19, quando a elevação foi de 43,75%, segundo cálculos da Associação Brasileira das Locadoras de Veículos (Abla), entidade que representa o setor.
A grande diferença do Brasil para mercados de locação mais experientes, como a Europa e os Estados Unidos, é a disseminação da cultura do aluguel de automóveis, que ainda precisa ser mais fortalecida por aqui. Por conta disso, o potencial do negócio é muito grande. Para entender novidades e expectativas desse mercado, conversamos com Paulo Miguel Júnior, vice-presidente da Abla. Confira a seguir.
Quantas empresas operam nesse segmento?
Atualmente há em torno de 22 mil locadoras de veículos no Brasil, e cerca de 30% delas oferecem o serviço de carro por assinatura, uma modalidade que surgiu no País entre 2016 e 2017. Além dessas empresas, todas as fabricantes de automóveis também possuem programas de carro por assinatura, como Volkswagen, Stellantis, GM e Renault, além de Mitsubishi e Mercedes-Benz. Marcas que entraram no mercado brasileiro recentemente, como GWM e BYD, também oferecem a modalidade. Mas quem negocia a maior parte do volume de veículos por assinatura hoje são as locadoras menores. Fabricar e locar um veículo são coisas muito diferentes e ainda falta cultura de locação mais agressiva dentro das montadoras.
Qual o tamanho da frota de veículos atualmente?
Hoje estimamos entre 300 mil e 350 mil veículos disponíveis no mercado por assinatura no Brasil. Mas esse número tem crescido ao longo dos anos. Por exemplo, considerando o período de pandemia de covid-19, entre março e outubro de 2020, conforme as estimativas da Abla, a frota das locadoras destinada ao atendimento de clientes do carro por assinatura cresceu 43,75%.
No início de 2020, antes da pandemia de covid-19, eram aproximadamente 80 mil veículos nesta modalidade de aluguel. Já no final de 2021 a frota subiu para aproximadamente 90 mil veículos, totalizando 115 mil veículos no final do ano seguinte.
A procura por esse serviço tem crescido?
Hoje, em torno de 20% a 25% do total da frota das locadoras é de carros por assinatura e, conforme ela aumenta, a participação também se eleva. Esse ano o setor de assinaturas não cresceu tanto como nos demais por conta da perda do poder de compra da população e o valor elevado dos carros zero-quilômetro atualmente. A parcela da assinatura é proporcional ao preço do veículo, então um valor muito elevado faz com que as pessoas não consigam aprovação de crédito para fechar negócio.
O que buscam as pessoas que fazem assinatura hoje?
O perfil é muito difuso, mas podemos mencionar alguns grandes grupos que optam pelo serviço. Por exemplo, há muita penetração dos clientes que procuram veículos de entrada, além de picapes e SUVs. Outro mercado que se mantém em crescimento é o dos consumidores de carros de luxo, nicho em que há muita oscilação de valores e desvalorização muito grande entre o momento da compra e a venda do veículo. Então, esse usuário já vê o carro por assinatura como uma opção à posse.
Qual o uso que se faz dos veículos?
Os carros por assinatura são, em sua maioria, veículos para uso familiar. Eles fogem da característica de serviço e se destinam ao uso pessoal e de longo prazo para pessoa física.
Que características são valorizadas nesse serviço?
Fugir do financiamento bancário é um dos motivos de as pessoas optarem pela locação no lugar da compra. A comodidade de não ter que se preocupar anualmente com documentação, taxas, seguro, entre outras burocracias também é valorizada. Isso porque já vem no pacote da locação manutenção, seguro e impostos.
Não ter preocupação com a revenda também é um aspecto valorizado: nesse momento, com carro próprio, se você tenta negociar com uma concessionária, eles colocam o preço muito abaixo do que o veículo vale; se você tenta vender para particular há uma série de preocupações, pois esse é um mercado cheio de fraudes.
Então, o carro por assinatura elimina grande parte das preocupações, além dos gastos com manutenção e seguro, que também estão incluídos. E tem também o aspecto financeiro: quando se coloca na ponta do lápis todas as despesas, mais os juros de um eventual financiamento bancário, o valor empata. Com a assinatura, cabe ao usuário apenas conservar o carro, pagar multas se for autuado e abastecer.
Quais os principais planos disponíveis?
Eles são de 12 a 38 meses, com quilometragem inicial de 500 km a 3 mil km por mês. Os planos predominantes são contratos de 2 ou 3 anos, com quilometragem média de 1 mil km por mês. Como referência, a média de quilometragem do brasileiro é de 8 mil quilômetros por ano, então esse plano atende, com folga, diversos perfis de uso.
Os elétricos estão disponíveis para assinatura?
Estão sim, tanto para pessoas físicas quanto para gestão de frotas. Ainda estamos no primeiro ciclo de utilização dos elétricos no Brasil, mas algumas locadoras já oferecem, sobretudo porque é uma demanda dos clientes. Os 100% elétricos estão no portfólio em menor número, sendo que os mais procurados são os híbridos, cujo volume de vendas nas empresas está crescendo.
Quais são as perspectivas do setor para 2025?
O mercado de locação em geral é um segmento em evolução nos próximos dez anos. Ele é ainda muito pequeno no Brasil, mas é um setor onde veremos grande crescimento a partir da próxima década. Como novidades, temos observado dois movimentos fortes: o car sharing, ou aluguel por horas utilizadas, além do mercado de locação de motos, que cresce vertiginosamente para uso em entregas de última milha. Todos os dias temos novas empresas abrindo, dedicadas à locação de motos. (O Estado de S. Paulo/Mobilidade/Daniela Saragiotto)