ArcelorMittal inaugura linha para a produção de aço mais resistente

O Estado de S. Paulo

 

O mercado brasileiro de aço enfrenta desde o ano passado uma acirrada competição de produtos siderúrgicos importados da China e de outros países, como Rússia e Coreia do Sul. Mesmo assim, o grupo ArcelorMittal decidiu concluir uma nova linha de produção na sua fábrica Vega, em São Francisco do Sul, Santa Catarina. Com investimentos de R$ 2 bilhões, a unidade foi inaugurada semana passada.

 

Concebida em 2014, a nova linha acabou postergada até 2020 em razão das crises da economia brasileira e da retração da demanda de aço até 2018. As obras foram retomadas em 2021, ano em que houve uma grande demanda por produtos siderúrgicos no País, impulsionada pela alta do consumo que se seguiu à pandemia de covid-19.

 

“É uma planta que traz o que há de mais moderno em tecnologia de laminação de aços revestidos e amplia o mix de aplicações desse tipo de aço”, diz o vice-presidente de operações da ArcelorMittal Aços Planos, Jorge Adelino, ao Estadão.

 

Adelino cita, por exemplo, a tecnologia Magnelis desenvolvida pela ArcelorMittal e há cerca de uma década já aplicada na fabricação em usinas na Europa. Com o Magnelis, a unidade da Vega pode fazer um aço com poder anticorrosão três vezes superior ao dos produtos atuais. “A nossa linha é a primeira fora da Europa a utilizar essa tecnologia”, conta o executivo. O revestimento do aço ocorre com uma película que se forma sobre a chapa num processo de imersão (banho) a quente composta por zinco, alumínio e magnésio.

 

Eduardo Zanotti, vice-presidente comercial da ArcelorMittal Aços Planos, destaca que uma aplicação do produto são as estruturas para painéis de geração de energia solar, além de entrar em segmentos que requerem material de maior espessura, como silos, estrutura de ônibus e em obras da construção civil. Outros mercados são infraestrutura rodoviária (defensas metálicas, sinalização viária), de produtos da chamada linha branca, móveis e sistemas de armazenagem.

 

Produtos

 

A Vega, que começou a operar em 2003, passa agora a ter três linhas de produtos galvanizados, com capacidade anual de até 1,5 milhão de toneladas. A nova linha vai colocar no mercado nacional 600 mil toneladas por ano de material de alto valor agregado.

 

Para Zanotti, não haverá problema de absorção pelo mercado brasileiro, pois o aço com essa tecnologia já é importado pela ArcelorMittal desde 2020 para testes nos clientes da siderúrgica. O executivo observa que ainda se verifica a continuidade das importações – principalmente desse tipo de aço –, mas avalia que o diferencial será a “qualidade excepcional” que muitos clientes buscam e a nova linha vai oferecer.

 

A unidade da Vega continuará sendo abastecida com aço (laminado a quente, de menor valor agregado) produzido pela ArcelorMittal Tubarão, em Serra (ES). O material é transportado em barcaças que levam 10 mil toneladas por viagem e por navios aptos a cargas de 20 mil a 25 mil toneladas. “Vamos aumentar o número de navios para o carregamento das 600 mil toneladas a mais que vão sair do porto da empresa, em Vitória”, diz Zanotti. Com isso, as exportações de laminado a quente a países da região sul-americana serão reduzidas.

 

Segundo a empresa, desde sua inauguração, em 2003, a Vega recebeu investimentos de R$ 4,5 bilhões. “Esta obra de expansão reflete a decisão estratégica do grupo de ampliar a produção no País, desenvolver aços tecnológicos e competitivos e agregar valor ao nosso portfólio”, afirmou, em nota, Jorge Oliveira, CEO da ArcelorMittal Aços Planos América Latina.

 

A conclusão da nova linha integra o plano de investimentos da ArcelorMittal no período de seis anos, de 2022 a 2028, de R$ 25 bilhões, considerando ampliações e modernizações de usinas, aquisições (a compra da siderúrgica Pecém, em julho de 2022, por R$ 11 bilhões, no Ceará) e em dois projetos de geração de energia renovável (eólica e solar) para consumo próprio (mais de R$ 5 bilhões).

 

Investimento

 

Dois investimentos ligados ao aço ainda estão em curso, para finalização nos próximos anos, conforme o comportamento da demanda no País: a expansão e atualização tecnológica da usina Barra Mansa (RJ) e a duplicação da usina de João Monlevade, em Minas Gerais. Como parte do pacote, o grupo também investe na expansão da mina de ferro que fica na região de Serra Azul (MG).

 

O grupo ArcelorMittal, controlado pela família do empresário indiano Lakshmi Mittal, é o maior produtor de aço no Brasil, com capacidade instalada anual de 15,5 milhões de toneladas, entre produtos laminados planos e longos, com unidades industriais em oito Estados. Produz ainda 5,1 milhões de toneladas de minério de ferro em duas minas. (O Estado de S. Paulo/Ivo Ribeiro)