Com economia aquecida, mercado revisa projeção para PIB no ano

O Estado de S. Paulo

 

O IBC-Br, índice de atividade econômica medido pelo Banco Central, veio acima do esperado em setembro, o que levou economistas a revisar para cima as projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) deste ano. Pesquisa do Projeções Broadcast indica que a mediana das estimativas passou de 3,1% para 3,2%. No Ministério da Fazenda, a projeção – que está hoje em 3,2% – também deve ser elevada para algo em torno de 3,5%, segundo interlocutores da pasta ouvidos pelo Estadão.

 

Considerado uma “prévia” do PIB oficial (calculado pelo IBGE), o índice IBCBr de setembro teve alta de 0,84% na comparação com o mês de agosto – acima da mediana das projeções do mercado financeiro, de 0,5% –, levando o acumulado no ano para 2,97%. O dado reflete o bom resultado do varejo ampliado (que inclui veículos e materiais de construção), que subiu 1,8% no mesmo mês; da produção industrial, que cresceu 1,1%; e do setor de serviços, que teve alta de 1%.

 

Se por um lado o crescimento mais forte da economia ajuda a manter o desemprego em baixa e melhora a arrecadação do governo, por outro acende o sinal de alerta para os seus efeitos sobre a inflação – colocando mais pressão sobre o Banco Central para subir a taxa básica de juros.

 

O economista Daniel Xavier, do Banco ABC Brasil, diz que sua projeção para o PIB no ano, hoje na casa de 3,3%, deve subir para 3,5% ou 3,6%. Ele explica que a economia está sendo impulsionada por uma série de fatores, como mercado de trabalho aquecido, transferências governamentais e crédito ainda forte.

 

“Em termos qualitativos, a expansão no terceiro trimestre se mostrou mais dispersa entre os setores (indústria, serviços e varejo amplo) e regiões – o que revela consistência neste movimento. Os pilares macro têm sido basicamente os mesmos: mercado de trabalho aquecido, ganhos salariais positivos, transferências governamentais e crédito ainda sustentando o nível de atividade”, escreveu ele, em relatório a clientes.

 

Marcelo Fonseca, da Reag Investimentos, também subiu sua projeção para 3,3%, enquanto Sergio Vale, da MB Associados, que previa 2,8%, disse que o número final deve ficar acima de 3%. Ele pondera, contudo, que a inflação e os juros estão em alta neste fim de ano, o que pode se refletir no crescimento do quarto trimestre.

 

“O ano caminha para ficar um pouco acima de 3%. Mas ainda é cedo para cravar, tem inflação aumentando neste final de ano, e algum impacto de juros”, disse.

 

Uma rodada mais forte de revisões pode acontecer depois de o IBGE divulgar o PIB do terceiro trimestre, o que está previsto para o início de dezembro. Em todo terceiro trimestre de cada ano, o instituto revisa os números do primeiro e do segundo trimestres – o que dá mais segurança para que os economistas refaçam as contas para o ano.

 

Eduardo Velho, sócio da Equador Investimentos, diz que o nível de atividade econômica mais forte forçará o Banco Central a continuar subindo a taxa básica de juros, que está hoje em 11,25%.

 

“O dado corrobora as preocupações do Banco Central, na última ata do Copom, sobre os ritmos de atividade e do mercado de trabalho ainda resilientes. Reforça a manutenção do ritmo de alta da Selic de 0,5 ponto nas decisões de dezembro (de 2024) e de janeiro de 2025.”

 

Corte de gastos

 

O PIB mais forte neste ano também coloca mais pressão para que o Ministério da Fazenda estabeleça um teto para o aumento real (acima da inflação) do salário mínimo. Hoje, a regra define que o mínimo é reajustado a partir da inflação do ano anterior e do PIB de dois anos antes. O crescimento da economia em 2024, portanto, teria impacto sobre as contas públicas de 2026.

 

A Fazenda tenta conter o aumento do salário-mínimo a 2,5% ao ano, o mesmo teto estabelecido pelo arcabouço fiscal, mas ainda não há o aval do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que a proposta seja enviada ao Congresso. Pelas contas da XP Investimentos, a proposta poderia levar a uma economia de até R$ 84 bilhões em dez anos. (O Estado de S. Paulo/Alvaro Gribel)