O Estado de S. Paulo
O volume vendido pelo comércio varejista brasileiro cresceu 0,5% na passagem de agosto para setembro, recuperando-se de uma ligeira perda de 0,2% vista no mês anterior, segundo dados da Pesquisa Mensal de Comércio, divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Apesar das oscilações recentes, o nível de vendas subiu em setembro ao patamar recorde da série histórica iniciada no ano 2000. No varejo ampliado – que inclui as atividades de veículos, material de construção e atacado alimentício –, houve crescimento de 1,8% em setembro, impulsionando o patamar também a um ápice histórico, superando o pico anterior, de agosto de 2012.
O crescimento é fruto de uma economia aquecida, com mercado de trabalho forte e ampliação das concessões de crédito. Porém, é esperada uma desaceleração à frente, como reflexo do atual ciclo de alta na taxa básica de juros, a Selic, pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central, previu o economista Christian Meduna, do Banco BV. “Esperamos moderação nas variações (das vendas no varejo), com a economia como um todo desacelerando e se distanciando do estímulo fiscal (do início do ano).”
Trimestre
As vendas do comércio varejista subiram 0,3% no terceiro trimestre ante o segundo trimestre de 2024. Quanto ao varejo ampliado, o volume cresceu 1% no período. Ou seja, o comércio contribuirá positivamente para a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro no terceiro trimestre.
“Os detalhes das vendas varejistas (em setembro) corroboram o quadro de desaceleração da economia nesta segunda metade de 2024. Ainda assim, trata-se de um ritmo aquecido e acima do potencial, requerendo uma postura monetária mais contracionista”, opinou Daniel Xavier, economista-chefe do Banco ABC Brasil, em relatório em que prevê mais três elevações de 0,50 ponto porcentual na taxa básica de juros, “com algum viés de alta a depender do grau de credibilidade das novas medidas fiscais prometidas pela Fazenda”.
Em setembro, o varejo se estabiliza, mas em trajetória de alta, avaliou Cristiano Santos, gerente da Pesquisa Mensal de Comércio do IBGE. Apesar da volatilidade nos últimos meses, as vendas mantiveram desempenho predominantemente positivo ao longo de 2024, graças aos fatores conjunturais que continuam contribuindo para as vendas, como a expansão do emprego, a elevação da renda e maiores concessões de crédito, disse Santos.
O destaque positivo do mês de setembro foi o setor de outros artigos de uso pessoal e doméstico, em trajetória de recuperação após um período negativo em 2023, quando houve o fechamento de lojas físicas “por conta da crise contábil de grandes empresas do setor”.
Santos lembra, entretanto, que os dois segmentos-chave que vêm sustentando o desempenho recorde do varejo brasileiro são os ramos de artigos farmacêuticos e de supermercados. As duas atividades alcançaram em setembro recordes de vendas de toda a série histórica da pesquisa.
De agosto para setembro, houve expansão no varejo restrito em outros artigos de uso pessoal e doméstico, que inclui as lojas de departamento (3,5%), combustíveis (2,3%), artigos farmacêuticos e perfumaria (1,6%) e supermercados (0,3%). Na direção oposta, as perdas ocorreram em móveis e eletrodomésticos (2,9%), equipamentos para informática e comunicação (-1,8%), vestuário e calçados (-1,7%) e livros e papelaria (-0,9%). No comércio varejista ampliado, veículos cresceram 6,6%, material de construção subiu 1,1%, e atacado alimentício caiu 3,9%.
Cristiano Santos lembra que a expansão do crédito ajudou a aumentar as vendas de veículos, enquanto a valorização do dólar influenciou negativamente a compra de equipamentos de informática. “A questão do dólar tem influência na compra desses equipamentos, que muitas vezes são importados”. (O Estado de S. Paulo/Daniela Amorim e Anna Scabello)